Resenha: O Instituto – Stephen King
Sinopse Suma: No meio da noite, em uma casa no subúrbio de Minneapolis, um grupo de invasores assassina os pais de Luke e sequestra silenciosamente o menino de doze anos. A operação leva menos de dois minutos. Quando Luke acorda, ele está no Instituto, em um quarto que parece muito o dele, exceto pelo fato de que não tem janela. E do lado de fora tem outras portas, e atrás delas, outras crianças com talentos especiais, que chegaram àquele lugar do mesmo jeito que Luke. O grupo formado por ele, Kalisha, Nick, George, Iris e o caçula, Avery Dixon, de apenas dez anos, está na Parte da Frente. Outros jovens, Luke descobre, foram levados para a Parte de Trás e nunca mais vistos. Nessa instituição sinistra, a equipe se dedica impiedosamente a extrair dessas crianças toda a força de seus poderes paranormais. Não existem escrúpulos. Conforme cada nova vítima vai desaparecendo para a Parte de Trás, Luke fica mais e mais desesperado para escapar e procurar ajuda. Mas até hoje ninguém nunca conseguiu fugir do Instituto. (Resenha: O Instituto – Stephen King)
Opinião: Se for necessário eleger uma única qualidade em todo o conjunto da obra de Stephen King, certamente a sua narrativa, o seu jeito de contar e envolver os leitores em uma história, vai se sobressair com larga vantagem sobre qualquer outra. É assim que mais de quarenta anos depois de Carrie – e um passeio por diferentes estilos, todos com maior ou menor grau de terror, continuo a me surpreender com sua capacidade de contador de (boas) histórias. O Instituto foi um livro que me fez exclamar diversas vezes “que saudades estava de ler o velho King! ”.
O Instituto é o típico livro que fãs de Stephen King amam já nas primeiras páginas. Traz um grupo de crianças que se unem pela amizade para enfrentar um mal maior que as ameaça ou explora. Neste caso, a tal instituição do título que sequestra crianças dotadas de poderes psíquicos, como telecinesia, por exemplo. Trancafiados em um lugar inóspito e sem nenhum contato com o mundo exterior (mundo este que nem sabe da existência do lugar), esses meninos e meninas são submetidos a todo o tipo de teste científico, injeções, exames e até técnicas de tortura. Tudo em nome de um projeto para o bem da humanidade. De tempos em tempos alguns são levados para a chamada Parte de Trás. E nunca mais são vistos.
A partir da revolta de um personagem, Luke, dotado de extrema inteligência, as engrenagens d’O Instituto vão começar a desandar. E então, meus amigos, temos a boa e velha narrativa de Stephen King a nos guiar pelo drama, terror psicológico e por reflexões sobre os limites, se é que existem, dos atos humanos. É aceitável submeter humanos, no caso crianças, a todo o tipo de experimentos em nome da proteção de algo, mesmo que seja o planeta? Podemos retirar pessoas – crianças, do convívio social porque as consideramos diferentes? Como é possível classificar alguém como perigoso? Muitas questões que vão permear as entrelinhas de uma aventura com a nostalgia dos anos oitenta, mas bem conectada na tecnologia do novo século.
Seguindo a linha das melhores obras protagonizadas por crianças, como It ou O Corpo, O Instituto é um nostálgico passeio para leitores como eu, que vivenciaram a adolescência lendo histórias assim e se imaginando no lugar de seus personagens. Ao mesmo tempo é, também, um livro antenado, refletindo comportamento de seu autor, com questões sensíveis à política norte-americana atual, notadamente a questão imigratória. Não é muito difícil enxergar paralelo entre a visão de mundo dos gestores do instituto com a do presidente Trump e sua “prisão” a crianças filhas de imigrantes. O quão longe aceitamos ir em nome de uma suposta segurança nacional? Se prendemos crianças, podemos também assassinar seus pais e levar os filhos para um lugar qualquer e submete-los a todo o tipo de ação. Afinal, a segurança e o bem do país (planeta) vêm em primeiro lugar, certo?
Os livros mais recentes de Stephen King, e mesmo obras do meio de sua carreira, têm dialogado demais com essa sociedade louca e em intensa transformação em que vivemos. Por mais ficção e horror que emanem de seus escritos, King mantém um pé muito bem fincado na realidade para travar reflexões sobre que mundo queremos. Principalmente no que compete à questão política, preocupação sempre presente em seus escritos e em sua atuação pública nos Estados Unidos. O Instituto, para mim, é claramente uma alegoria a um tipo de comportamento que vem ameaçando o mundo e que merece nossa atenção para que possamos combate-lo. Curioso notar, e destacar, as referências e comparações ao nazismo e à crença inquebrável de seus líderes mais fiéis com as atitudes dos líderes da instituição.
Para além disso, claro, a prosa maravilhosa e envolvente de um autor que sabe como contar, prender atenção, e envolver a imaginação. Tudo isso em um livro recheado de referências a outros autores e obras e com um desfecho carregado de ambiguidade e aberto a interpretações.
Fãs de carteirinha do mestre King vão encontrar todos os ingredientes para se apaixonar por O Instituto. Novas gerações de leitores vão encontrar uma boa história com o poder de fascinar e encantar. Existe amizade e todo o poder que ela tem. Existe maldade, porque ela vive à espreita no mundo. Há personagens curiosos, engraçados, malucos, fortes, sonhadores, e todos muito bem construídos. Há um passado e um presente bem explicados para que possamos entender as motivações, os medos, os traumas. Em essência, é Stephen King da melhor qualidade.
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Curiosidades
Na página 358 a personagem Annie faz referência a acontecimentos estranhos na cidade de Jerusalém’s Lot. É a trama que se passa no livro ‘Salem.
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O Autor: Stephen King nasceu em 1947 em Bangor, no Maine. É autor de mais de cinquenta best-sellers no mundo inteiro e mais de 200 contos, sendo reconhecido como um dos mais notáveis escritores de contos de horror fantástico e ficção de sua geração. Os seus livros já venderam mais de 400 milhões de cópias, com publicações em mais de 40 países. Muitas de suas obras foram adaptadas para o cinema. É o nono autor mais traduzido no mundo.
Stephen King recebeu em 2003 a medalha de Eminente Contribuição às Letras Americanas da National Book Foundation; em 2007 foi nomeado Grão-Mestre dos Escritores de Mistério dos Estados Unidos; e em 2015 recebeu do presidente Barack Obama a National Medal of Arts por “sua combinação de narrativa notável e análise precisa da natureza humana, com trabalhos de terror, suspense, ficção científica e fantasia que, por décadas, assustaram e encantaram públicos de todo o mundo”.
Ele mora em Bangor, no Maine, com a esposa, a escritora Tabitha King.