Sinopse Suma: Andy e Vicky eram apenas universitários precisando de uma grana extra quando se voluntariaram para um experimento científico comandado por uma organização governamental clandestina conhecida como “a Oficina”. As consequências foram o surgimento de estranhos poderes psíquicos — que tomaram efeitos ainda mais perigosos quando os dois se apaixonaram e tiveram uma filha. Desde pequena, Charlie demonstra ter herdado um poder absoluto e incontrolável. Pirocinética, a garota é capaz de criar fogo com a mente. Agora o governo está à caça da garotinha, tentando captura-la e utilizar seu poder como arma militar. Impotentes e cada vez mais acuados, pai e filha percorrem o país em uma fuga desesperada, e percebem que o poder de Charlie pode ser sua única chance de escapar. (Resenha: A Incendiária – Stephen King)

Opinião: A Incendiária é mais uma das obras do mestre Stephen King em que o terror cede espaço para a construção de dramas humanos com interessantes tons políticos de pano de fundo. Muito mais ficção científica com toques de suspense do que uma obra para assustar, este livro encerra um ciclo de histórias centradas em personagens com poderes psíquicos – iniciado com Carrie e tendo na sequência O Iluminado e A Zona Morta, e traz pontos inéditos e raros nas tramas de King.

A Incendiária trilha caminhos parecidos com Carrie, centrando sua trama em uma menina com poderes especiais. No caso deste livro, ela é capaz de gerar fogo com o poder do pensamento. Diferente do livro de estreia de King, no entanto, aqui a protagonista, Charlie, possui um dom contido. Ela tem ciência do poder que possui e foi educada pelos pais de forma a não usá-lo. Ao mesmo tempo, internamente, ela sabe que a sedução desse poder é potente e caso ela ceda, as consequências podem ser inimagináveis. Lembrem-se que Carrie não tinha noção de seu poder até o momento em que um estopim causou aquilo tudo que bem sabemos.

A caçada do governo norte-americano à Charlie e seu pai constitui toda a base de A Incendiária. Isso gera toda uma adrenalina de perseguição e suspense que, acredito eu, fez com que leitores diversos não tenham curtido o livro. O horror que todos esperam não dá as caras.  Por outro lado, contudo, as entrelinhas trazem contornos interessantes. À época em que foi publicado, o mundo ainda vivia a tensão da Guerra Fria com EUA e URSS medindo forças no campo nuclear. E o governo democrático norte-americano não mede esforços para atingir seus objetivos na captura de Charlie. Ambos, cidadãos americanos da terra das liberdades, sofrem a mão pesada de um Estado disposto a tudo. Curiosamente, King espalha inúmeras referências, até mesmo o título de um capítulo, ao livro 1984, de George Orwell. As críticas são sutis, mas bastam para bons entendedores. A ciência usada para produzir armas que levam a formas de dominação, mesmo que essas armas sejam pessoas, não são exclusividade de nações ditatoriais. O governo dos Estados Unidos apresentado em A Incendiária destoa totalmente da noção propagada oficialmente.

Em outro campo, tão fascinante quanto esse tom politizado, a obra traz uma rara incursão de King pelo sexo. Dono de uma carreira já consolidada e com número considerável de romances publicados, Stephen King, até então, evitava, fugia ou não via necessidade de desenvolver o lado sexual de seus personagens. A Incendiária, entretanto, versa integralmente, do sutil ao explícito, com o despertar sexual de Charlie. Praticamente todas as passagens envolvendo a garota e seu perseguidor, Rainbird, possuem um tom sexual. Os sonhos da protagonista, os fetiches de seu psiquiatra, e as imagens que vão compondo a etapa final da obra, exalam sexualidade e mostram um talento narrativo-descritivo até então inédito e posteriormente pouco visto nas obras do autor.

Claramente podendo frustrar as expectativas de quem busca cenas violentas ou sequencias de tirar o sono, A Incendiária é um dos grandes livros de Stephen King. Necessita de uma atenção especial na leitura para que toda a sua qualidade possa ser percebida e degustada. Não é um livro pura e simplesmente para entreter. Há muito escondido sob a superfície dos dons pirocinéticos de Charlie e à medida que nós nos entregamos à essa história é que conseguimos, de verdade, perceber e entender sua grandiosidade.

Curiosidades:

A Incendiária foi adaptado para o cinema em 1984 tendo Drew Barrymore como protagonista. o filme não alcançou um bom resultado nas bilheterias. Em 2002 foi lançado Vingança em Chamas, filme que traz Charlie numa versão adulta ainda perseguida pela agência governamental.

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O Autor: Stephen King nasceu em 1947 em Bangor, no Maine. É autor de mais de cinquenta best-sellers no mundo inteiro e mais de 200 contos. Os mais recentes incluem Revival, Joyland, Escuridão Total sem Estrelas (vencedor dos prêmios Bram Stoker e British Fantasy), Doutor Sono, Sob a Redoma (que virou uma série de sucesso na TV) e Novembro de 63 (que entrou no TOP 10 dos melhores livros de 2011 pelo New York Times Book Review e ganhou o Los Angeles Times Book Prize na categoria Terror/Thriller e o Best Hardcover Novel Award da organização International Thriller Writers).

Stephen King recebeu em 2003 a medalha de Eminente Contribuição às Letras Americanas da National Book Foundation; em 2007 foi nomeado Grão-Mestre dos Escritores de Mistério dos Estados Unidos; e em 2015 recebeu do presidente Barack Obama a National Medal of Arts por “sua combinação de narrativa notável e análise precisa da natureza humana, com trabalhos de terror, suspense, ficção científica e fantasia que, por décadas, assustaram e encantaram públicos de todo o mundo”.

Ele mora em Bangor, no Maine, com a esposa, a escritora Tabitha King.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

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