Sinopse Suma: Billy Summers é o homem com a arma; um assassino de aluguel e um dos melhores atiradores do mundo. Mas ele tem um critério: só aceita o serviço se o alvo for realmente uma pessoa ruim. Agora, Billy quer se aposentar, mas antes precisa realizar um último trabalho. Veterano da guerra no Iraque e um mágico quando se trata de desaparecer depois do crime, o hábil assassino tinha tudo planejado. Então, o que poderia dar errado? Basicamente tudo. Quando Billy se acomoda em uma cidadezinha do interior, disfarçado como um escritor tentando superar um bloqueio criativo enquanto espera seu alvo ser transferido para julgamento, ele não imagina a trama de traições, perseguições e vingança que o aguarda. (Resenha: Billy Summers – Stephen King)

Opinião: Billy Summers é thriller com as melhores características do gênero, mas é também um livro extremamente reflexivo e que dialoga com muita coisa que acontece cá no mundo real. Talvez a idade venha influenciando bastante na forma como Stephen King encara essa loucura que a sociedade de hoje vive. Basta lembrarmos que ele é uma feroz voz democrata nas redes sociais em oposição a tudo que representa retrocesso, tirania e extremismo. Mas ele sempre foi assim e seus livros sempre flertaram, mesmo que timidamente, com as questões “mundanas”. Mas Billy Summers me soou diferente…

Assassino de aluguel, ou “o homem com a arma”, como diz a sinopse, Billy Summers tem uma metodologia curiosa. Ele só mata pessoas ruins. E agora decidiu se aposentar. Mas antes disso há um último serviço. Aquele último serviço em que tudo dá errado e que vamos acompanhar em primeira pessoa nessa história. Esse thriller, que carrega mais mistérios do que aparenta, vai nos conduzir por caminhos de muito sangue, transações financeiras com poderosos e mafiosos, fugas e disfarces, diferentes cenários da paisagem norte-americana, amores não concretizados e, quem sabe, os humores do destino.

Mas é a figura do protagonista Billy que mais me interessa nessa resenha. O matador de aluguel é um personagem complexo. Não só pelo fato de só aceitar matar pessoas “muito ruins”, mas porque nós o conhecemos em um momento da vida em que ele largando a profissão. Inevitavelmente isso o conduz para aquela fase de fazer um balanço. Reprisar momentos e atitudes. A desculpa para isso, na obra, bem na forma da escrita de um livro. Enquanto aguarda a hora do seu “último tiro”, Billy se dedica a escrever suas memórias. E o que parecia um disfarce acaba se tornando uma obsessão. Porque ele sente que precisa revisitar a trajetória que o levou até aquele momento. Esse é o ponto alto da história. Essa revisão de vida feita por Billy.

Curioso notarmos que é mais um personagem-escritor que encontramos na obra de King. E Billy é leitor voraz, tem um ótimo intelecto e esbanja citações de obras e autores ao longo de toda a trama. Diferente do comum, em que obras e autores norte-americanos povoam as citações de Stephen King, aqui o maior espaço é dado ao naturalismo francês através de Émile Zola e seu Thérèse Raquin (coloquem na lista de leituras!) Aliás, o livro é considerado como inaugural do estilo naturalista e tem ecos interessantes em Billy Summers.

E Stephen King caprichou na sua criação, como sempre. Billy Summers lutou no Iraque. Ele carrega consigo os traumas de uma guerra que a maioria de nós, leitores, acompanhamos. É a primeira vez, se não estou enganado, que King mergulha em um evento tão próximo, contraditório e com feridas ainda tão abertas nos Estados Unidos. Além disso, a infância foi marcada por um namorado que praticava violência doméstica contra sua mãe e irmã mais nova. Percebem a complexidade de temas que orbitam em torno desse protagonista? Não é um simples sujeito malvado que vive de matar os outros por dinheiro. Há muita riqueza na construção desse personagem.

Quando menciono que a idade possa influenciar no processo de escrita de King, falo isso porque Billy Summers é claramente o livro de alguém maduro passando a limpo a sua vida e ainda tentando, lá pelas tantas, encontrar caminhos de redenção. Sim, amigos, a trajetória desse livro vai colocar Billy em diversas situações em que ele vai agir como o mocinho, por mais vilão que seja. Ele terá inúmeras oportunidades de tomar decisões corretas que possam amenizar sua cota na balança do Juízo Final. Então, o desenrolar dessa trama é narrado por uma pessoa muito bem vivida e que se dedica a essa análise, entre recordações e eventos presentes, de uma vida. É um thriller com uma carga muito grande de drama.

A narrativa continua envolvente como só o King sabe fazer. Algo que repito sempre em todas as resenhas de obras dele é como ele sabe contar histórias de forma a nos prender a atenção pelos mínimos detalhes. Somos, como sempre, conduzidos por ruas, marcas, trejeitos, comportamentos… Tudo naquele estilo mundo real. É o personagem que atravessa a rua X para comprar uma Coca no Walmart e esbarrar num sujeito que comenta com ele “E o Trump, heim?”. É muito cotidiano e fisga o leitor com muita facilidade. Stephen King é um contador de histórias como poucos. E Billy Summers tem tudo isso.

Eu poderia seguir o caminho de sair resumindo o livro aqui, mas resenhas estão longe disso, então acho que basta dizer que o último serviço de Billy vai colocá-lo em contato com pessoas muito reais que levam suas vidas de forma normal, em vizinhanças em que há reuniões e troca de atenção e com crianças que ainda brincam jogos de tabuleiro. Vai colocá-lo em contato, também, com desventuras de vida provocadas por diferentes tipos de maldade. Vai levá-lo pelos caminhos da traição, da vingança, da perversão. E cada situação dessas vai mexer um pouco com esse Billy que quer se aposentar. Tudo vai influenciar um pouco nas suas decisões. E, claro, muita coisa do passado vem à tona para influenciar também. Todos nós somos fruto de tudo que vivemos e com Billy não é diferente.

Vou soar repetitivo, mas Billy Summers é outra dessas obras fantásticas que Stephen King nos entrega. Ano a ano, com maior ou menor grau de satisfação, o mestre do terror vem nos provando o quanto está em forma através de livros envolventes, com boas histórias, dialogando incrivelmente com o mundo real e passeando por diferentes gêneros. E nós agradecemos por isso!

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Curiosidades: O hotel Overlook, palco de O Iluminado, é mencionado em diversas passagens, já que Billy se refugia numa casa nas proximidades do local onde ele existia. Em outro momento, Billy se depara com um quadro que tem arbustos podados em formatos de animais (bingo se você pensou nos jardins do Overlook). E, siiiim, o quadro vai trazer um toque sobrenatural bem ao estilo do velho hotel.

Em entrevista, Stephen King contou que Billy Summers se passava em 2020, mas devido à pandemia de Covid-19, ele alterou para 2019 de forma a não precisar modificar os acontecimentos do livro, principalmente por tudo que foi afetado na sociedade. Mas a pandemia é citada em diversos trechos da obra.

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O Autor: Stephen King nasceu em 1947 em Bangor, no Maine. É autor de mais de cinquenta best-sellers no mundo inteiro e mais de 200 contos, sendo reconhecido como um dos mais notáveis escritores de contos de horror fantástico e ficção de sua geração. Os seus livros já venderam mais de 400 milhões de cópias, com publicações em mais de 40 países. Muitas de suas obras foram adaptadas para o cinema. É o nono autor mais traduzido no mundo.

Stephen King recebeu em 2003 a medalha de Eminente Contribuição às Letras Americanas da National Book Foundation; em 2007 foi nomeado Grão-Mestre dos Escritores de Mistério dos Estados Unidos; e em 2015 recebeu do presidente Barack Obama a National Medal of Arts por “sua combinação de narrativa notável e análise precisa da natureza humana, com trabalhos de terror, suspense, ficção científica e fantasia que, por décadas, assustaram e encantaram públicos de todo o mundo”.

Ele mora em Bangor, no Maine, com a esposa, a escritora Tabitha King.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

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