Sinopse Suma: ― Acorde, gênio. Assim começa o segundo volume da trilogia Bill Hodges. O gênio em questão é John Rothstein, um autor consagrado que há muito tempo abandonou o mundo literário. A voz que interrompe seu sono é de Morris Bellamy, seu maior fã ― e seu maior crítico. Inconformado com o fim que o autor deu a seu personagem favorito, Bellamy invade a casa de Rothstein para matá-lo, mas não sem antes roubar os cadernos com suas produções inéditas. Bellamy acaba sendo preso por outro crime, mas consegue deixar os cadernos escondidos; eles só são encontrados décadas depois, por Peter Saubers, um garoto de treze anos. Quando Bellamy termina de cumprir sua pena e sai da prisão, toda a família Saubers fica em perigo. (Resenha: Achados e Perdidos – Stephen King)
Opinião: Invariavelmente, trilogias costumam carregar uma característica bem peculiar: o segundo livro sempre perde um pouco do fôlego da narrativa, não consegue segurar tão bem a história e se dedica apenas a cumprir a função básica de servir de transição entre início e desfecho da trama principal.
Achados e Perdidos, segundo volume da Trilogia Bill Hodges, de Stephen King, não foge muito a essa regra. Apesar de ter uma história própria com início-meio-e-fim, apresentar bons personagens e a mesma pegada envolvente de seu antecessor, Mr. Mercedes, o livro patina um pouco no desenvolvimento do enredo. Não é que seja uma história ruim, mas soa bem mais fraca quando comparada – e isso é um tanto inevitável ao se comparar com o primeiro volume.
Achados e Perdidos apresenta um novo vilão, Morris Bellamy, um sujeito apaixonado por livros, mais especificamente pela obra de John Rothstein, um gênio da literatura norte-americana que vive recluso há quase vinte anos sem publicar nada. E Morris é o tipo de fã que vai encontrar paralelo em outra personagem antológica de King, Annie Wilkes, protagonista de Misery. Em resumo, ambos não diferenciam tão bem a realidade ficcional dos livros que leem da vida real e particular de seus autores.
Se Wilkes teve a oportunidade de conversar intimamente por um longo tempo com seu adorado Paul Sheldon, o nosso querido Morris Bellamy não só vai se colocar cara a cara com Rothstein para confrontá-lo com o destino que deu para seu personagem favorito como também transpor a barreira do diálogo. E era uma vez Rothstein…
Bellamy mata seu autor preferido, rouba todos os mais de cem cadernos de anotações e rascunhos contendo originais de Rothstein, leva junto uma boa fortuna em dinheiro vivo, esconde tudo enterrando embaixo de uma árvore no quintal de casa e comete um deslize imbecil que o condena à prisão perpétua. São as ironias da vida que King adora confrontar suas criações.
Corta para anos depois, em que um garoto, Peter, cujos pais passam por problemas financeiros, vai encontrar esse tesouro e começar a desfrutar da grana e das anotações, afinal, ele também é apaixonado pela obra de Rothstein. Só que Bellamy consegue a condicional para viver em liberdade e decide, obviamente, ir atrás dos cadernos. E o resto vocês já imaginam… Começa uma nova corrida para Peter se salvar, e à sua família, da ira de alguém que só quer ler as criações de seu autor em paz.
Entra em cena, então, Bill Hodges, Holly Gibney e Jerome, para consertarem toda essa confusão. Hodges e Holly agora são donos de uma empresa de investigação, a Achados e Perdidos, e vão seguir a mesma dinâmica de interação, empatia e boas sacadas que foi o ponto alto de Mr. Mercedes.
Novamente, o trio de protagonistas rouba a cena. No entanto, a disputa pelos manuscritos carece de um apelo narrativo mais forte, tornando-se um dos pontos mais fracos do livro.
As pistas do que está por vir no desfecho da trilogia pipocam em alguns momentos de Achados e Perdidos. Hodges não consegue se desligar de Brady e ainda mantém uma rotina de visitas esporádicas ao Assassino do Mercedes. Claramente há algo de errado acontecendo no hospital em que ele vegeta. E memórias da tragédia, através de conexões entre personagens, se fazem presentes neste livro também.
Na extensa obra de Stephen King, a incursão pelo suspense a partir dessa trilogia é um deleite para os fãs. Ele entrega muita qualidade, mostra, como já falei, sua versatilidade nos diferentes gêneros e nos presenteia com o melhor: um trio de personagens difíceis de serem esquecidos.
Apesar de ser um livro mais morno, Achados e Perdidos cumpre sua função e deixa as portas abertas para um desfecho que promete ser eletrizante.
Compre na Amazon
//
Do Autor leia também:
Achados e Perdidos
O Autor: Stephen King nasceu em 1947 em Bangor, no Maine. É autor de mais de cinquenta best-sellers no mundo inteiro e mais de 200 contos, sendo reconhecido como um dos mais notáveis escritores de contos de horror fantástico e ficção de sua geração. Os seus livros já venderam mais de 400 milhões de cópias, com publicações em mais de 40 países. Muitas de suas obras foram adaptadas para o cinema. É o nono autor mais traduzido no mundo.
Stephen King recebeu em 2003 a medalha de Eminente Contribuição às Letras Americanas da National Book Foundation; em 2007 foi nomeado Grão-Mestre dos Escritores de Mistério dos Estados Unidos; e em 2015 recebeu do presidente Barack Obama a National Medal of Arts por “sua combinação de narrativa notável e análise precisa da natureza humana, com trabalhos de terror, suspense, ficção científica e fantasia que, por décadas, assustaram e encantaram públicos de todo o mundo”.
Ele mora em Bangor, no Maine, com a esposa, a escritora Tabitha King.