Sinopse Suma: Paul Sheldon descobriu três coisas quase simultaneamente, uns dez dias após emergir da nuvem escura. A primeira foi que Annie Wilkes tinha bastante analgésico. A segunda, que ela era viciada em analgésicos. A terceira foi que Annie Wilkes era perigosamente louca. Paul Sheldon é um famoso escritor reconhecido pela série de best-sellers protagonizados por Misery Chastain. No dia em que termina de escrever um novo manuscrito, decide sair para comemorar, apesar da forte nevasca. Após derrapar e sofrer um grave acidente de carro, Paul é resgatado pela enfermeira aposentada Annie Wilkes, que surge em seu caminho. A simpática senhora é também uma leitora voraz que se autointitula a fã número um do autor. No entanto, o desfecho do último livro com a personagem Misery desperta na enfermeira seu lado mais sádico e psicótico. Profundamente abalada, Annie o isola em um quarto e inicia uma série de torturas e ameaças, que só chegará ao fim quando ele reescrever a narrativa com o final que ela considera apropriado. Ferido e debilitado, Paul Sheldon terá que usar toda a criatividade para salvar a própria vida e, talvez, escapar deste pesadelo. (Resenha: Misery – Stephen King)
Opinião: Misery é um dos romances top cinco do mestre King, na minha opinião, e um daqueles livros que você consegue devorar em um a dois dias no máximo. Publicado originalmente no Brasil com o título de Angústia, pela antiga Francisco Alves, ele ganhou uma nova edição com o título original e o subtítulo Louca Obsessão, uma alusão ao filme que rendeu um Oscar e um Globo de Ouro para Kathy Bates. É uma daquelas leituras obrigatórias para os fãs e uma excelente porta de entrada para quem quer ler King pela primeira vez.
Dotado de uma narrativa viciante, que vai nos consumindo à medida que a loucura vai aumentando, Misery foge do terror com ares sobrenaturais, bem característico na obra de Stephen King até então, para focar no horror psicológico, na insanidade e na tortura humana. O autor explora com maestria até onde a paixão e devoção de um fã pode levá-lo quando seu ídolo se encontra, digamos que, em suas mãos. E assim, Annie Wilkes torna-se uma das melhores e mais inesquecíveis vilãs que o mestre já criou.
Em Misery o escritor Paul Sheldon sofre um acidente em uma estrada isolada em meio às ameaças de uma grande nevasca. Ele é socorrido por uma simpática e adorável senhorinha, Annie, que o leva para sua casa para tratar dos ferimentos. Paul praticamente teve as pernas destroçadas, então se vê preso à uma cama. E Annie é sua fã número um. Um fã super irritada porque Paul matou sua personagem favorita, que se chama Misery, no último livro que publicou. Tem mais! Annie é instável. Por trás da senhorinha se esconde uma louca psicótica capaz de qualquer coisa. Absolutamente qualquer coisa MESMO! É nesse enredo claustrofóbico, que se passa integralmente dentro de um quarto, que seremos torturados junto com Paul. Annie quer sua personagem de volta. Annie tem um histórico de vida tenebroso. Annie tem um estoque interminável de remédios. Annie tem a obsessão dos fãs. Alguma chance de alguém pará-la? Isolados pela neve?
Misery é um livro em que a maldade humana, com pitadas de insanidade, aflora com tudo. King leva ao extremo a obsessão de fãs incansáveis e que tem paralelo na realidade facilmente. Se nos dedicarmos a investigar com calma, vamos descobrir histórias tão chocantes quantos à de Annie com Paul. Ok, não vamos encontrar nada tão louco quanto, mas a obsessão estará presente certamente, entendem? O assédio, a raiva por um destino diferente do que era esperado, a possibilidade de ter o ídolo ali convivendo com você… Os elementos são muitos, mas quem nunca teve vontade de esganar um autor quando ele, se dó, matou seu personagem favorito?
Comum a várias obras de King, o protagonista ser um escritor nos leva a questionar até que ponto muito do que é posto no papel não vem das experiências reais de vida do autor. Curioso destacar que Misery tem um livro dentro do livro, afinal Paul Sheldon precisa agradar sua algoz e trazer de volta à vida a personagem que ela tanto ama. Acompanhamos, então, vários trechos do livro que está sendo escrito e King aproveita para divagar sobre o processo criativo, métodos de escrita, superstições e manias de um autor. E narrado, em primeira pessoa, por um Paul extremamente sarcástico. Mesmo à beira da insanidade ou da morte, o personagem tem tiradas ácidas para encarar a situação em que se encontra. O humor que sai dos livros do mestre costuma me agradar muito justamente por ser sagaz, espirituoso, encontrar graça na desgraça.
Misery também é recheado de referências… O Colecionador, de John Fowles, que também tem uma premissa de cárcere, e as obras de Henry Rider Haggard são citadas a todo momento. E uma referência bem real para a loucura que Paul está passando vem de Arthur Conan Doyle que sofreu uma enxurrada de críticas quando decidiu matar seu icônico Sherlock Holmes. O resultado foi que o detetive precisou ser ressuscitado para agradar aos fãs.
A leitura de Misery é angustiante e é impossível largar o livro até que tudo esteja muito bem esclarecido. Volto a afirmar que, pra mim, ele está entre as cinco melhores obras de Stephen King. Porque fãs como Annie Wilkes podem estar em qualquer lugar.
Curiosidades: No labirinto de conexões e citações que compõe a obra de Stephen King, o hotel Overlook que foi destruído por um incêndio e é citado na página 206 é o cenário de O Iluminado.
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Stephen King recebeu em 2003 a medalha de Eminente Contribuição às Letras Americanas da National Book Foundation; em 2007 foi nomeado Grão-Mestre dos Escritores de Mistério dos Estados Unidos; e em 2015 recebeu do presidente Barack Obama a National Medal of Arts por “sua combinação de narrativa notável e análise precisa da natureza humana, com trabalhos de terror, suspense, ficção científica e fantasia que, por décadas, assustaram e encantaram públicos de todo o mundo”.
Ele mora em Bangor, no Maine, com a esposa, a escritora Tabitha King.