Sinopse Suma: Há uma nova loja na cidade. ARTIGOS INDISPENSÁVEIS, diz a placa. Um nome curioso, que se torna tema de rumores e especulações entre os moradores de Castle Rock. Para cada cliente que entra na loja, Leland Gaunt tem algo perfeito ― um objeto há muito sonhado, desesperadamente desejado. O preço parece sempre razoável, mas vem acompanhado de pedidos estranhos. O que começa como brincadeiras e pegadinhas inocentes aos poucos sai do controle, transformando a cidade em palco de disputas caóticas e brutais. Mas, quando você encontra um artigo indispensável, como saber se o custo para obtê-lo é alto demais? (Resenha: Trocas Macabras – Stephen King)
Opinião: Vocês já estiveram lá. Várias vezes. Seja na companhia de George Stark, Frank Dodd ou de um simpático, e talvez raivoso, são Bernardo. Com certeza há pessoas, ou lugares como a Escadaria Suicida, que estão na memória de vocês. Basta forçar um pouquinho que eles virão. Mas as coisas estão um pouco mudadas por lá. Os ânimos estão à flor da pele e há um clima estranho no ar. Talvez essa possa ser a última vez que vocês verão esse lugar da forma como está hoje. Então, aproveitem o passeio e sejam bem-vindos (de volta) a Castle Rock…
A mítica cidade criada por Stephen King faz parte real do cotidiano de nós, leitores fiéis. Conhecemos muito bem suas ruas e esquinas e sabemos que coisas inexplicáveis acontecem por lá. Esse é o King dos anos 1980/1990 que publicava calhamaços de quase mil páginas recheados com um horror diferente, palpável. Histórias em que o absurdo se unia ao sobrenatural sem perder em nenhum momento aquele pezinho na realidade. E essa realidade vinha, na maioria das vezes, da própria natureza humana. Foi esse King que me transformou em um leitor assíduo de todas as suas obras e que descortinou pra mim a dura realidade de que os verdadeiros horrores só precisam das boas e velhas mãos humanas para acontecerem. Esse é o King que transborda das páginas de Trocas Macabras. Um dos livros mais desejados pelos fãs e que permaneceu como raridade por quase trinta anos no Brasil.
Trocas Macabras nos traz de volta à Castle Rock para acompanhar a loucura atingindo seu ápice. Bem ilustrados na capa do livro, os habitantes dessa pacata cidadezinha são transformados em marionetes de uma força poderosa. Suas fraquezas vão ser exploradas. Seus medos transformados em coragem. Os ressentimentos vão virar ódio. E vai bastar uma pequena fagulha para acender o pavio da explosão geral. Ou não. Pode ser que tudo sempre estivesse ali. Apenas quieto porque a vida em sociedade exige que certos sapos sejam engolidos. Mas chega um momento em que qualquer paciência atinge seu limite. Mesmo que seja, sei lá, por causa de uma foto de Elvis Presley.
Trocas Macabras tem mais de quinhentas páginas e segue à risca o estilo gostoso de construção de história que marca a carreira de Stephen King. Não há pressa e tudo é desenvolvido com muita calma, algo que com certeza vai desgostar os leitores mais afoitos por ação e sangue. A primeira metade é praticamente toda dedicada a apresentar a cidade, seu estilo interiorano calmo de vida e seus habitantes tão pacatos quanto. E vamos conhecendo também pequenas mágoas, simples desavenças, coisas comuns que todo mundo tem ao longo da vida. Cada personagem é esmiuçado nos mínimos detalhes. Esse é um dos livros em que a biografia de vida e a construção de personagem atinge seu grau mais minucioso. Nada escapa e ao fim podemos nos considerar íntimos de cada um. Sabendo exatamente do que são capazes e do que poderiam ser se houvesse um estímulo.
Feita essa apresentação, as mãos de Leland Gaunt, um icônico personagem, entram em cena para dar o tal estímulo. Aquele empurrãozinho que vai movimentar as engrenagens da cidade e colocar em cena uma explosão de ódio e mortalidade. Tendo o irresistível desejo do consumo nas entrelinhas, Gaunt oferece a cada habitante de Castle Rock um objeto essencial, indispensável, para suas vidas. Junto a esses objetos alguns pedidos são feitos. Coisinhas bobas. Pequenas diversões. É assim que as velhas rixas entre vizinhas se transformam em guerra. Ou que um padre e um pastor deflagram uma batalha quase apocalíptica. É assim que Castle Rock corre o risco de sucumbir.
Mas não se engane. O sobrenatural aqui é apenas um leve toque. A natureza humana de cada personagem já estava prontinha, bem moldada para destilar a maldade. Inveja, excesso de orgulho, corrupção, ciúmes doentios, fraqueza por doença, segredos do passado, bebida, intolerância religiosa… Já havia muito o que “incendiar” essa cidade.
Trocas Macabras é um livrão da porra que reúne todos aqueles ingredientes que imortalizaram a obra de Stephen King. É um dos últimos traços do terror que marcou a literatura do século XX, integrando uma série de livros inesquecíveis do mestre do horror.
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Stephen King recebeu em 2003 a medalha de Eminente Contribuição às Letras Americanas da National Book Foundation; em 2007 foi nomeado Grão-Mestre dos Escritores de Mistério dos Estados Unidos; e em 2015 recebeu do presidente Barack Obama a National Medal of Arts por “sua combinação de narrativa notável e análise precisa da natureza humana, com trabalhos de terror, suspense, ficção científica e fantasia que, por décadas, assustaram e encantaram públicos de todo o mundo”.
Ele mora em Bangor, no Maine, com a esposa, a escritora Tabitha King.