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Resenha: Revival – Stephen King

Sinopse Suma: Em uma cidadezinha na Nova Inglaterra, mais de meio século atrás, uma sombra recai sobre um menino que brinca com seus soldadinhos de plástico no quintal. Jamie Morton olha para o alto e vê a figura impressionante do novo pastor. O reverendo Charles Jacobs, junto com a bela esposa e o filho, chegam para reacender a fé local. Homens e meninos, mulheres e garotas, todos ficam encantados pela família perfeita e os sermões contagiantes. Jamie e o reverendo passam a compartilhar um elo ainda mais forte, baseado em uma obsessão secreta. Até que uma desgraça atinge Jacobs e o faz ser banido da cidade. Décadas depois, Jamie carrega seus próprios demônios. Integrante de uma banda que vive na estrada, ele leva uma vida nômade no mais puro estilo sexo, drogas e rock and roll, fugindo da própria tragédia familiar. Agora, com trinta e poucos anos, viciado em heroína, perdido, desesperado, Jamie reencontra o antigo pastor. O elo que os unia se transforma em um pacto que assustaria até o diabo, com sérias consequências para os dois, e Jamie percebe que “reviver” pode adquirir vários significados. (Resenha: Revival – Stephen King)

Opinião: A fé é uma das forças motoras do mundo desde que ele se entende por mundo. Talvez até mesmo antes disso. Crer em alguma divindade, ser superior ou como prefiram definir, e entender que essa entidade está em um plano superior a cuidar de nós e nos guiar nos tortuosos caminhos da vida torna as coisas um pouco mais fáceis. As dores do mundo ficam um pouco mais leves quando pensamos que haverá uma recompensa ao fim de tudo quando fecharmos os olhos em definitivo. Como diz a sabedoria popular, a fé é um mistério.

Essa mesma fé é extremamente importante para enfrentarmos talvez um dos maiores medos da humanidade: a morte. O desconhecido que está por trás dela. Se não existir uma crença de que algo nos espera para além dessa vida, parte do sentido da luta diária pode se perder. Portanto, fé e morte acabam andando de braços dados em boa parte de nossa trajetória cá na Terra. Observando elas duas caminhando, Stephen King se debruçou de forma esmagadoramente crua no que os descaminhos do mundo podem nos levar a fazer. Nasceu Revival, um livro tão carregado de desesperança, pessimismo e falta de perspectivas no futuro que aos leitores fiéis mais se assemelha a algo produzido por seu pseudônimo Richard Bachman.

Revival é, primeiramente, um livro sobre fé. E traz um maravilhoso e polêmico sermão onde as loucuras perpetradas pela humanidade em nome de Deus são jogadas na cara dos fiéis tal qual um cuspe de ódio e horror. A fé que move a comunidade no começo do livro vai cedendo espaço para a descrença à medida que desgraças se abatem e o pastor Charles Jacobs se vê às voltas com a dúvida. King trabalha com maestria um ambiente crível, comum e cotidiano. Quantos de nós já não tivemos momentos de dúvida? De olhar para o céu ou para onde for e se perguntar “porquê?” Quantas pessoas não perderam entes queridos e com eles se foi a crença, o ânimo, a fé?

Em um segundo ponto, Revival é um livro sobre a morte, como a enxergamos, e o que pode existir além dela. Aqui, King não parece o mesmo autor de obras como “It” ou “A Dança da Morte”. Característica marcante do autor, a esperança não se faz presente em Revival. Pelo contrário, o vislumbre pós-morte é aterrorizante. Classificado por inúmeras pessoas como o final mais assustador já escrito pelo mestre, somente quando entendemos a crueza da sequência que leva ao desfecho é que conseguimos, de fato, ter medo. O medo gerado por Revival é o medo do vazio. Do nada. Da falta de uma luz ao fim do túnel.

Revival é um livro lento e muitas pessoas não vão conseguir avançar na leitura justamente por isso. Tudo é contado de forma minuciosa e sem pressa. A impressão que tive foi que Stephen King queria que mergulhássemos a fundo nos dramas de cada personagem para conseguirmos entender, de verdade, o contexto de suas atitudes. Por isso, este não é um livro para principiantes. É preciso ter uma boa bagagem de leituras de King nas costas para encarar Revival. E eu simplesmente adorei cada parte, mesmo as mais lentas e aparentemente desnecessárias passagens. Porque se olharmos com calma, a trama é muito próxima da realidade. Os personagens passam por situações por demais corriqueiras e o extremo de suas atitudes, por mais carga de ficção que exista, gera identificação.

Composto como uma galeria de homenagens – o livro é dedicado a onze gigantes da literatura de terror, Revival tem um pouco do horror cósmico de Lovecraft com o cientificismo medonho de Mary Shelley. Alguns personagens, inclusive, trazem combinações de nomes e sobrenomes que remetem à obra Frankenstein.

Dispa-se de todos os seus pré-conceitos religiosos para mergulhar em Revival, sem pressa. É uma obra que exige dedicação para com os personagens e seus dramas. Ah, e tente, se for capaz, não deixar que o final destrua seu otimismo. Caso contrário, bom, você sempre pode se deparar com um reverendo Jacobs em alguma esquina…

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Curiosidades

O reverendo Charles Jacobs menciona, na página 162, que trabalhou em um parque de diversões chamando Joyland. Trata-se do cenário do livro de mesmo nome.

Na página 32 encontramos algo “místico” na obra de Stephen King: o carro de corrida tem o número 19 pintado na lataria.

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O Autor: Stephen King nasceu em 1947 em Bangor, no Maine. É autor de mais de cinquenta best-sellers no mundo inteiro e mais de 200 contos, sendo reconhecido como um dos mais notáveis escritores de contos de horror fantástico e ficção de sua geração. Os seus livros já venderam mais de 400 milhões de cópias, com publicações em mais de 40 países. Muitas de suas obras foram adaptadas para o cinema. É o nono autor mais traduzido no mundo.

Stephen King recebeu em 2003 a medalha de Eminente Contribuição às Letras Americanas da National Book Foundation; em 2007 foi nomeado Grão-Mestre dos Escritores de Mistério dos Estados Unidos; e em 2015 recebeu do presidente Barack Obama a National Medal of Arts por “sua combinação de narrativa notável e análise precisa da natureza humana, com trabalhos de terror, suspense, ficção científica e fantasia que, por décadas, assustaram e encantaram públicos de todo o mundo”.

Ele mora em Bangor, no Maine, com a esposa, a escritora Tabitha King.

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