Sinopse Intrínseca: Ao longo dos anos, Jean Taylor deixou de contar muitas coisas sobre o terrível crime que o marido era suspeito de ter cometido. Ela estava muito ocupada sendo a esposa perfeita, permanecendo ao lado do homem com quem casara enquanto convivia com os olhares acusadores e as ameaças anônimas. No entanto, após um acidente cheio de enigmas, o marido está morto, e Jean não precisa mais representar esse papel. Não há mais motivo para ficar calada. As pessoas querem ouvir o que ela tem a dizer, querem saber como era viver com aquele homem. E ela pode contar para eles que havia alguns segredos. Afinal, segredos são a matéria que contamina (ou preserva) todo casamento. (Resenha: A Viúva – Fiona Barton)

Opinião: É extremamente satisfatório constatar que as obras de suspense e mistério, os thrillers, estão ganhando cada vez mais espaço e atenção das editoras nacionais. O calendário de lançamentos está recheado de excelentes títulos, alguns já resenhados aqui como Ninfeias Negras, de Michel Bussi, ou A Garota no Gelo, de Robert Brindza. A eles vem se juntar A Viúva, lançamento da Intrínseca de fevereiro.

Livro de estreia da jornalista Fiona Barton, A Viúva é um thriller que ousa ao lidar com um tema pesado e pouco explorado: a pedofilia. A história se debruça sobre o desaparecimento da garotinha Bella, enquanto brincava no quintal de casa. A investigação policial leva as autoridades a Glen Taylor que, após ser preso e julgado, acaba inocentado por falta de provas. Em linhas gerais essa é a premissa da obra cuja narrativa, apesar de não trazer nada de inovador no gênero, foge totalmente ao padrão.

Intercalando passado (época do desaparecimento e investigações iniciais) e presente (em que a viúva de Glen é o foco para se desvendar o mistério), o livro se divide em pequenos capítulos cada um trazendo o ponto de vista de um dos envolvidos na história. Temos a viúva e sua narrativa em primeira pessoa, e acompanhamos uma repórter, o detetive e a mãe da garotinha. Esse formato foi o ponto forte para garantir o clima de suspense até as últimas páginas. Soma-se a isso a linguagem bastante objetiva, bem jornalística mesmo, que faz com que a leitura flua com tranquilidade, mesmo nas passagens mais arrastadas.

A protagonista Jean Taylor é uma figura fascinante. Personagem muito bem construída dentro da ideia de mulher submissa que confia totalmente no marido e coloca o casamento feliz acima de qualquer questão. Ela não é uma mulher comum do século XXI, e sim alguém que reflete o comportamento de décadas passadas de se colocar em função do marido. Pelo menos é isso que somos levados a deduzir, porque à medida que avançamos na leitura, a complexidade dessa mulher nos coloca inúmeras dúvidas na cabeça.

A Viúva nos faz refletir sobre até que ponto o convívio com alguém a quem (supostamente) amamos pode modificar a nossa forma de enxergar o certo e o errado. É possível que estar junto de alguém nos faça perdoar comportamentos que consideraríamos monstruosos nos outros?

O delicado tema da pedofilia foi muito bem abordado e, sem necessidade de explicitar nada, a autora conseguiu desenvolver sua história e passar seu recado. O ponto fora da curva fica para a extrema linearidade da trama. Não temos nenhuma passagem de mais ação ou emoção, nem nenhuma reviravolta surpreendente. Mas isso acaba compensado pela qualidade do suspense criado. Mesmo após termos certeza de qual é a verdade, somente na leitura das últimas páginas é que conseguimos vislumbrar o quadro completo dos acontecimentos.

Avaliação: 4 Estrelas

A Autora: Fiona Barton é uma experiente jornalista que trabalha capacitando novos profissionais pelo mundo afora. Antes, foi repórter do The Daily Mail, chefe de reportagem do The Daily Telegraph e repórter especial do The Mail on Sunday, onde conquistou o prêmio de Jornalista do Ano pelo British Press Awards. A viúva é o seu primeiro romance. Nascida em Cambridge, na Inglaterra, atualmente mora no sudoeste da França.

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