Sinopse Alfaguara: Única coletânea publicada enquanto Shirley Jackson ainda era viva, A loteria e outros contos traz histórias que incorporam tanto as características marcantes da escritora quanto seu poder de navegar pelos diversos aspectos da ficção. As 24 histórias curtas formam uma coletânea brutal que analisa com maestria os meandros da sociedade norte-americana, a opressão velada, o lugar a que as mulheres são relegadas, o peso do matrimônio e dezenas de outros temas que ainda fazem parte da sociedade atual. Seja esmiuçando a vida nos subúrbios dos Estados Unidos ou retratando a influência da bebida e da juventude na vida de um homem, Jackson constrói histórias com personagens vivazes e impressionantes que acompanharão o leitor mesmo depois de fechar o livro. (Resenha: A Loteria e outros contos – Shirley Jackson)

Opinião: Numa clara manhã, os moradores de um vilarejo se reúnem na praça para um jogo que acontece anualmente. Ali, eles retiram papéis de uma caixa, já bem maltratada pelo tempo, sinal de quão antigo é esse jogo. Somente um desses papéis contém o prêmio e o contemplado, seja quem for, adulto ou criança, ganha… O horror. Sem spoilers, essa é a premissa de “A Loteria”, conto mais famoso de Shirley Jackson, e que provocou a ira e a indignação das pessoas na época de sua publicação.

Porque a sra. Jackson, como Stephen King costuma de referir a ela em alguns escritos, tem um estilo peculiar de não prezar nem um pouco pelas sutilezas em seus contos. Suas histórias curtas são carregadas de objetividade e com desfechos cruéis e, por vezes, bruscos demais. Ela consegue deixar os leitores um tanto pasmos após a conclusão de seus contos.

“A Loteria” é um exemplo claro dessa narrativa em que tudo é apresentado da forma mais natural e corriqueira. Nada ali é muito diferente do cotidiano de uma pequena cidade ou mesmo de um bairro. É uma comunidade que se reúne para algo, celebrar uma tradição de anos e anos. Os personagens aparecem e desempenham seus papéis e vamos acompanhando à espera de onde aquilo vai dar. Até o desfecho, brusco, surpreendente e brutal. Shirley Jackson conquista nossa atenção e desfere um soco violento em nosso estômago. Tudo em poucas páginas.

A Loteria e outros contos, obra de 1949 que só agora chega ao Brasil, reúne 24 histórias as mais diversas. Todas com tipos americanos vivendo situações normais do cotidiano. O terror na obra de Shirley surge das pequenas atitudes, das surpresas dos desfechos e do quanto o grotesco soa comum em sua narrativa.

Dividido em cinco partes, o livro segue o padrão de reunir histórias muito boas em meio a outras mais fracas. Sua principal característica é mergulhar no cotidiano norte-americano, retratar tipos sociais e extrair deles o inusitado.

“Erguendo os olhos para o sorriso astuto da sra. Anderson, sentada à sua frente, a sra. Hart se deu conta, com uma súbita convicção irremediável, de que estava perdida.”

Há uma fina ironia em diversos contos e personagens com atitudes pra lá de bizarras. Vale prestar atenção nas histórias protagonizadas por crianças: “A Bruxa”, “A Renegada” e “Charles”. O horror ali está presente nos detalhes dos desfechos.

Os personagens de Jackson escondem, por trás de sua aparente normalidade, vícios, manias peculiares, obsessões, traumas, ciúmes e, em alguns casos, crueldade. “Jardim Florido”, “Colóquio”, “Elizabeth”, “Homens e seus Sapatos Grandes” e “O Amante do Diabo” são os melhores exemplos disso e estão entre os melhores contos dessa coletânea.

Embora de fácil leitura, muitas histórias soam esquisitas numa primeira lida mais desatenta. A Loteria e outros contos é uma obra que merece atenção para se captar as sutilezas. O estilo de Shirley Jackson é bem diferente do que estamos acostumados. Mas é a típica autora que, após mergulharmos em seu universo, colocamos rapidamente na estante de favoritos.

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A Loteria e outros contos

A Autora: Shirley Jackson nasceu em San Francisco, Califórnia, em 1916, e faleceu em 1965. Uma das principais autoras americanas do século XX, influenciou escritores como Stephen King, Donna Tartt, Neil Gaiman e Richard Matheson. Sua obra é leitura obrigatória em diversas escolas dos Estados Unidos, e seu trabalho é aclamado por público e crítica.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

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