Sinopse Alfaguara: Natalie Waite tem dezessete anos e só pensa em sair logo da casa dos pais e entrar na universidade; ela sonha em ser livre. Seu pai é um escritor cheio de si, bastante dominador quando se trata de Natalie e sua mãe. Contudo, quando a menina finalmente consegue ir para a faculdade, as coisas não se desenrolam como o planejado e ela não encontra a felicidade que tanto desejava. Pouco a pouco, todas as certezas de Natalie evaporam, e ela não é mais capaz de compreender onde termina a realidade e onde começa sua sombria alucinação. Inspirado pelo desaparecimento de uma estudante universitária que vivia perto da casa de Shirley Jackson, O Homem da Forca conta uma história assombrosa e inquietante sobre loucura e obsessão. (Resenha: O Homem da Forca – Shirley Jackson)

Opinião: Shirley Jackson tem uma escrita inquietante, profunda e um dom ímpar de transportar os leitores para os pensamentos mais insanos e confusos de seus personagens. Os três títulos da autora que já chegaram ao Brasil têm em comum exatamente essa característica exploratória dos segredos da mente de suas pessoas perturbadas e doentias. Talvez seja daí que ela consiga extrair com mais maestria o terror. Porque ela consegue facilmente manipular o psicológico, nos confundir e mostrar o que há por trás de feições imperturbáveis e aparentemente normais.

Segundo romance de sua carreira, O Homem da Forca talvez seja um dos mais perturbadores, e confusos, livros que já tive oportunidade de ler. E que certamente merece ser relido daqui a alguns meses para permitir que eu consiga extrair mais do que ele tem a dizer. E com isso, já adianto a vocês que esta obra é extremamente lenta e com um estilo narrativo tão linear e confuso que é uma tarefa de sobrevivência chegar até o fim. Suas duzentas páginas me levaram por quase dois meses de leitura entre idas e vindas e acho que com isso vocês já perceberam claramente a dificuldade que enfrentei.

A obra é promissora por tratar de uma adolescente perturbada, com um quê de depressão, às voltas com as dificuldades de adaptação na faculdade, sem conseguir estabelecer laços de amizade e com uma família pra lá de estranha em seu comportamento. Natalie Waite é uma garota deslocada e que não encontra ajuda em lugar nenhum. Promissor não? Mas aí entra em cena um estilo de narração muito confuso. Porque Natalie fantasia as coisas, estabelece conversas em sua mente, divaga sobre as mais diversas situações e tudo isso é colocado na narrativa de Jackson de forma contínua. É difícil saber quando estamos lendo um delírio da personagem ou uma situação real. E são muitas as infindáveis sequências em que não entendemos absolutamente nada do que está acontecendo.

A família de Natalie é estranha. Há uma formalidade e um distanciamento entre os membros que incomoda. Há diálogos bizarros em que ninguém consegue ir além do “estou bem, obrigado”. A figura do pai, um famoso escritor, é a tradicional imagem do homem chefe da casa. Ele não se importa com a esposa e trata a filha como uma aprendiz. Novamente, os diálogos são estranhos e há a sensação de quem ninguém se sente à vontade com ninguém. Como se encenassem uma peça sem sentido. Essa criação familiar influencia Natalie a querer logo uma faculdade. Só que ela também é um tanto quanto estranha demais…

É na faculdade em que se desenrola a maior parte do livro e onde há mais trechos monótonos e confusos. Natalie divaga, cria situações, é deixada de lado pelas demais garotas que acham que ela é louca, e desenvolve uma estranha (essa palavra de novo, heim?) relação com um professor e sua esposa. Só que nada faz muito sentido. Diálogos, cenas, situações. É tudo muito confuso e sem nenhuma intenção de levar os leitores a uma explicação. A sensação que ficamos é exatamente a de uma mentalidade perturbada.

O desfecho é, de forma implícita, uma redenção. Natalie se perde em diversos caminhos e enfrenta as provações que essa adolescência confusa colocou em seu caminho. E na hora H, ela amadurece e aparenta estar pronta para encarar a vida e os desafios da fase adulta. Mas tudo isso é conclusão minha. Porque nada é nitidamente revelado no livro.

O Homem da Forca não tem ação, clímax e tampouco faz muito sentido em seu conjunto. E caso alguém leia essa resenha e tenha uma boa interpretação para a obra, por favor, compartilhe comigo nos comentários. Acredito que é um livro que merece uma leitura muito apurada, com muita atenção e uma mente aberta demais da conta para captar todas as insanidades que povoam as páginas.

Apesar de ser um fã de A Assombração da Casa da Colina e de Sempre Vivemos no Castelo, dois livros que colocaram Shirley no meu topo de preferências, eu não indicaria O Homem da Forca para ninguém. É um livro que deixa a desejar ou que talvez exija demais dos leitores e, mesmo assim, não entrega, no fim das contas, uma grande história. E falo isso levando em consideração também o fato de ser o segundo livro da autora, o que pode explicar um estilo ainda em amadurecimento.

Compre na Amazon

//

Da Autora leia também:

Sempre Vivemos no Castelo

A Assombração da Casa da Colina

O Homem da Forca

A Loteria e outros contos

A Autora: Shirley Jackson nasceu em San Francisco, Califórnia, em 1916, e faleceu em 1965. Uma das principais autoras americanas do século XX, influenciou escritores como Stephen King, Donna Tartt, Neil Gaiman e Richard Matheson. Sua obra é leitura obrigatória em diversas escolas dos Estados Unidos, e seu trabalho é aclamado por público e crítica.

Compartilhar
Artigo anteriorResenha: Garota, 11 – Amy Suiter Clarke
Próximo artigoResenha: Blackout – O amor também brilha no escuro
Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

Deixe uma resposta