Sinopse Arqueiro: Em 1971, aos 18 anos, Ron Williamson tinha uma carreira promissora como atleta. Acabara de assinar contrato com um grande time de beisebol e de se despedir de Ada, sua cidade natal, para ir em busca do sucesso. Seis anos depois, estava de volta, com os sonhos destruídos por um braço lesionado e o vício em bebidas e outras drogas. Foi morar com a mãe e passava vinte horas por dia dormindo no sofá. Em 1982, uma garçonete de 21 anos chamada Debra Sue Carter foi estuprada e assassinada brutalmente em Ada. Por cinco anos o crime ficou sem solução, até que uma frágil evidência apontou a investigação na direção de Ron. A partir daí o herói fracassado foi perseguido, acusado, julgado e condenado à morte. O processo, repleto de testemunhas mentirosas e provas corrompidas, não só acabou de arruinar a vida já despedaçada de um homem, como permitiu que o verdadeiro assassino ficasse impune. (Resenha: O Homem Inocente – John Grisham)

Opinião: Quando nos deparamos com a notícia de um crime brutal, um estupro seguido de assassinato, por exemplo, a indignação e a revolta são alguns dos sentimentos mais esperados. A frieza de um crime assim, na maioria das vezes cometido contra vítimas mais fracas ou indefesas, mexe com a sociedade e obviamente espera-se que o culpado seja logo preso e julgado. E, novamente, quando estamos diante da brutalidade de um crime, muitos de nós encara a pena de morte como a única punição possível. Afinal, por que ter clemência com alguém capaz de tais atrocidades?

Quando uma jovem é estuprada e assassinada em uma pacata cidade, dois sentimentos afloram rapidamente: a revolta e a sede por uma punição. Cabe a polícia dar celeridade as investigações e encontrar rapidamente os culpados. As pessoas esperam isso e não há muito tempo a ser perdido. Mas e se por acaso a polícia não for tão honesta assim em suas atitudes? Em nome de se fazer justiça é possível passar por cima dos ideais de justiça, bastando para isso dar um jeito de apresentar um nome culpado?

Nos Estados Unidos, um caso bizarro aconteceu na década de 1980 do século passado. A polícia da cidade de Ada, no estado de Oklahoma, simplesmente ignorou indícios, negligenciou a meticulosidade de uma investigação, conseguiu presos para agirem como dedo-duro e, junto com a promotoria, montou uma peça de acusação de forma a incriminar os dois homens que, a despeito de nenhuma prova, eles acreditavam serem os autores do estupro seguido de assassinato.

As engrenagens dessa acusação, que resultou na condenação à pena de morte para Ron Williamson, são recontadas de forma minuciosa por John Grisham em O Homem Inocente, seu único livro de não-ficção e uma de suas melhores narrativas. Munido de uma extensa pesquisa e entrevistas com a maioria dos envolvidos, Grisham conduz os leitores pelo labirinto de uma investigação surreal, produção de provas com métodos os mais questionáveis possíveis e um conjunto de polícia-promotoria-juiz que em nenhum momento tiveram pudor de levar a cabo sua missão de condenar aqueles que eles decidiram serem os culpados.

Para além do bizarro que O Homem Inocente nos mostra, está a questão da pena de morte. Ron foi declarado culpado por um júri altamente influenciado pelo circo armado pela promotoria e, por que não, pela sede de vingança que a sociedade local desejava. Quantos presos podem ter sido assassinados pelo Estado mediante julgamentos baseados em peças tão frágeis quanto as de Ron? Como assegurar que a pena de morte é o melhor caminho punitivo para crimes hediondos quando não necessariamente podemos confiar na polícia que investigou o caso?

O caso de Ron Williamson é singular. Ele acumula uma série de erros que à medida que avançamos na leitura nos perguntamos a todo momento como foi que se chegou a um julgamento. Como foi possível emitir um veredito quando não havia nenhuma prova consistente e o próprio réu apresentava sinais claro de problemas psicológicos? Um homem enviado ao corredor da morte e que perdeu anos de sua vida trancafiado, tendo a saúde se deteriorando cada vez mais, sabendo ser inocente!

A narrativa de John Grisham é envolvente como tudo que ele se propõe a escrever. No caso de O Homem Inocente, a reconstituição é minuciosa e detalhista e o autor traz inúmeros exemplos da legislação norte-americana para ilustrar decisões anteriores e falhas que foram corrigidas em alguns casos e negligenciadas no julgamento de Ron. A leitura é uma aula sobre como as falhas do sistema de justiça existem e podem levar inocentes não só para a cadeia, mas para a morte. É um livro chocante e perturbador que poderia ser uma excelente obra de ficção. O maior problema aqui é que se trata de uma história real. E ela perturba e revolta tanto quando a notícia de um crime brutal.

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A Firma

Tempo de Matar

 

O Autor: John Grisham é ex-político e advogado aposentado. Incentivado por sua mãe, desenvolveu cedo o hábito da leitura e se tornou um admirador das obras de John Steinbeck, prêmio Nobel de literatura em 1966. Escolheu o Direito como área de atuação, tornando-se advogado especializado em defesa criminal e processos por danos físicos. Escrevia nas horas em que o seu trabalho lhe permitia, e logo publicou seu primeiro livro, Tempo de Matar, em 1989. Seus livros giram sempre em torno de questões de advocacia, e geralmente criticam nuances do sistema judiciário americano e das grandes firmas de direito. Desde maio de 1998 a Universidade do Estado do Mississippi possui uma sala de leitura com o seu nome. Em 2006 figurou na Top 100 Celebrites da revista Forbes. Vive com sua esposa, Renée e suas duas crianças Ty e Shea. Um dos autores mais vendidos no mundo, é o sexto escritor com mais livros vendidos na década de 2000, segundo a Nielsen BookScan, e também o sexto escritor mais lido nos Estados Unidos, segundo a Publishers Weekly.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

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