Sinopse Intrínseca: Jacob voltou para sua casa nos Estados Unidos após vencer os etéreos no Recanto do Demônio, mas ainda não sabe como conciliar a vida normal e tudo o que viveu. Agora que Emma, a srta. Peregrine e seus outros amigos vivem com ele no presente, em sua casa na Flórida, vamos acompanhá-los no processo de reconstrução do mundo peculiar. Mas essa ideia cai para segundo plano quando eles descobrem um bunker subterrâneo na casa onde seu avô morou. A partir daí, surgem pistas de uma organização secreta que caçava etéreos e ajudava peculiares por todos os Estados Unidos, e isso os inspira a sair em uma missão tão perigosa quanto significativa por esse território desconhecido. Um mundo novo, sem regras nem ymbrynes; um país em que clãs vivem em conflito e em que cada fenda temporal esconde criaturas nunca antes vistas. (Resenha: Mapa dos Dias – Ransom Riggs)

Opinião: O universo dos peculiares reunidos em torno da Srta. Peregrine foi uma das mais inventivas criações da literatura de fantasia dos últimos anos. Não só pela forma como Ransom Riggs construiu sua abordagem em torno dos “diferentes” na sociedade, mas principalmente pelo genial diálogo entre texto e fotografias de época. O trabalho de pesquisa e inserção do material fotográfico fazendo com que ele ilustrasse as inusitadas situações descritas na obra é o ponto alto que constitui o maior diferencial da série. Uma trilogia e um livro de contos depois, o autor decidiu revisitar sua criação com a ampliação dos volumes que compõe a série, e aí começam os problemas.

Mapa dos Dias, quarto livro dos peculiares, traz o processo de reconstrução desse mundo fantástico após os eventos narrados em Biblioteca de Almas, e desloca os protagonistas para os Estados Unidos, na pequena cidade natal de Jacob. O começo da trama soa promissor com os garotos tendo seu primeiro contato com toda a modernidade do século XXI. O estranhamento deles, as reações e um tímido processo de adaptação são engraçados e apresentados de forma curiosa. Nesse aspecto, Riggs soube aproveitar do crescimento etário real dos personagens para começar a introduzir ares de rebeldia deles em relação ao comando das ymbrynes, especificamente a Srta. Peregrine. Ou seja, a partir do momento em que a fenda temporal e a realidade existente caem por terra, uma nova forma de vida começa a se desenhar e consequentemente os questionamentos vão surgindo.

Mapa dos Dias peca, no entanto, pela falta de um enredo concreto. A despeito de toda a criatividade exercida e da manutenção das fotografias de época ilustrando as passagens, a história é fraca, não tem pegada, não consegue envolver o leitor e acaba se resumindo a uma sequência de cenas sem muito propósito a não ser dar sustentação a livros futuros. Para uma obra de quase quinhentas páginas, Mapa dos Dias entrega mais “encheção de linguiça” do que uma história de qualidade. E isso vai ficando claro à medida que os capítulos avançam e a tal aventura vivida por alguns dos peculiares vai se desenrolando. Sobram personagens extras que nada acrescentam, surgem alguns conflitos desnecessários e, por fim, preocupa-se muito em criar um mote para a continuação em um livro quinto. Em resumo, Mapa dos Dias não tem uma história com início, meio e fim bem definidos. Toda a trama trabalha em função de criar a justificativa para a sequência. Tanto que o livro não tem fim.

Por outro lado, o bom desenvolvimento dos personagens, todos cativantes, esbarrou, dessa vez, em algumas situações que se não são curiosas, me causaram estranhamento. Meu foco aqui vai para a relação de Jacob com sua família. Ransom Riggs pesou a mão no tamanho do desprezo de Jacob para com seus pais. Independente dos problemas familiares que nós acompanhamos ao longo da série, em Mapa dos Dias, a família aparece quase como um estorvo na vida do garoto. Estorvo esse resolvido de forma mais estranha ainda pela Srta. Peregrine, alguém que aparentemente tem a função de proteger e educar os alunos. Pensando que séries de fantasia carregam lições escondidas em suas entrelinhas e que o mundo dos peculiares trata muito de aceitação para com os diferentes, o “livrar-se” dos pais e tudo o que os envolveu no livro trouxe bons ares de intolerância.

A ganância etérea de ganhar sempre mais dinheiro em torno do que faz sucesso fez com que, na minha opinião, Ransom Riggs tenha se esquecido da máxima de que “menos é mais”. Ele tinha em mãos uma excelente trilogia, das melhores que surgiram nos últimos anos e que poderia se imortalizar da forma como estava. Aumentar o universo com novas histórias sem necessariamente ter conteúdo interessante e de qualidade para isso resultou nesse trabalho insosso chamado Mapa dos Dias. Nem podemos dizer que é um triste fim para a série porque novos livros estão a caminho. Infelizmente!

Avaliação: 2,5 Estrelas

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Do Autor leia também:

O Lar da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares

Cidade dos Etéreos

Biblioteca de Almas

Contos Peculiares

O Autor: Ransom Riggs cresceu na Flórida, mas agora reside na terra das crianças peculiares, Los Angeles. Ao longo da vida, formou-se no Kenyon College e na Escola de Cinema e TV da Universidade do Sul da Califórnia, além de fazer alguns curtas-metragens premiados. Nas horas vagas é blogueiro e repórter especializado em viagens, e sua série de ensaios de viagem, Strange Geographies, pode ser lida em ransomriggs.com.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

2 COMENTÁRIOS

  1. eu concordo, um não final forçado, nos OBRIGANDO a querer que se feche a historia, foi um desgosto completo, se vier um quinto livro provavelmente leria somente para fechar um ciclo,para “ver no que vai dar” , mas a aventura dos 3 primeiros livros em si é extraordinária!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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