“A mais viva representação do mal que eu vira em minha vida. ”

Opinião: O chamado horror cósmico não é um subgênero tão conhecido no Brasil, sendo que H.P. Lovecraft é o autor mais famoso e traduzido para os lados de cá. Com isso, um dos precursores do tema, Arthur Machen, acabou sendo totalmente ignorado por nossas editoras até a Penalux, pequena editora de Guaratinguetá-SP, investir na publicação do consagrado O Grande Deus Pã.

De acordo com Thomas Bulfinch em seu O Livro de Ouro da Mitologia, Pã era o deus dos bosques e dos campos, dos rebanhos e dos pastores. “Pã, como os outros deuses que habitavam as florestas, era temido por aqueles cujas ocupações os obrigavam a atravessar as matas durante a noite, pois as trevas e a solidão que reinavam em tais lugares predispunham os espíritos aos temores supersticiosos. Por isso, os pavores súbitos eram atribuídos a Pã e chamados de terror pânico”.

Pã significa tudo, logo esse deus passou a ser considerado símbolo do universo e, mais tarde, foi visto como o representante de todos os deuses e do próprio paganismo. Ah, detalhe: Pã era um deus com rabo, chifres, cascos, meio homem, meio bode…. Isso lembra a figura do diabo na cristandade, certo? Pois bem, feita essa pequena introdução (e aconselho aos interessados a pesquisar mais detalhadamente os relatos sobre o deus Pã), podemos entender melhor o horror que permeia as entrelinhas da história criada por Machen.

O Grande Deus Pã é um conjunto de pequenas histórias que se interligam. Ele narra, inicialmente, um experimento científico em que se buscava fazer com que as pessoas pudessem ter uma visão de Pã. A partir daí, temos três personagens que se deparam com misteriosas mortes ligadas à uma também misteriosa mulher. Embora em alguns momentos pareça confusa e soe um pouco solta, a trama se une perfeitamente para atingir um desfecho bastante perturbador.

Como é impossível falar mais da obra sem revelar passagens importantes, vale chamar a atenção para dois pontos fundamentais para os leitores. Em primeiro lugar, devemos nos atentar para a época em que o texto foi escrito e, com isso, entendermos esse estilo que foge bastante do horror a que estamos acostumados nos dias atuais. Isso nos leva ao segundo ponto, que é não esperar uma história para dar medo. Não é esse o objetivo do horror cósmico. O que temos em O Grande Deus Pã é uma obra que trabalha o psicológico com os horrores presentes no desconhecido. Aquele momento em que ultrapassamos a barreira do que podemos conhecer e penetramos nos mistérios do mundo, da verdade…. Enfim, quando nos deparamos com a visão de Pã.

Devido à rapidez da narrativa, em livro bem curto, os personagens e mesmo a própria trama são desenvolvidos de forma mais superficial. Não há um aprofundamento ou muitas explicações. Existe apenas a narração, concisa, dos acontecimentos. Machen consegue nos guiar por esse labirinto e nos atemorizar com a dúvida do que se esconde na face do deus Pã, da mesma forma como ficamos intrigados com o Rei de Amarelo, de Chambers, ou o Necronomicon, de Lovecraft.

Percorrer os caminhos do horror cósmico é um dos roteiros fundamentais para os amantes do gênero terror. Aí habita aquilo que maior medo pode nos causar, o desconhecido.

Avaliação: 5 Estrelas

O Autor: Arthur Machen foi um escritor galês que viveu nos séculos XIX e XX. Foi um dos precursores do Terror Cósmico, influenciando nomes como H.P. Lovecraft, Clark Ashton Smith, Robert Aickman, Thomas Ligotti, entre outros.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

2 COMENTÁRIOS

    • Haha… Creriston, é uma história que já li mais de uma vez. Ela é complexa e pelo menos quando li a primeira vez ficou muito confusa, eu senti que não tinha captado a essência da parada. Mas vale muito a pena. É como Lovecraft, um tipo de terror totalmente diferente do que estamos acostumados.

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