Sinopse DarkSide: Enfield, subúrbio de Londres. Na fria noite de 31 de agosto de 1977, a vida de uma família simples e comum mudaria para sempre. Pequenas batidas e sons inexplicáveis, móveis caindo sem nenhum motivo aparente, esse parecia um verdadeiro caso de poltergeist. Desde os primeiros dias, os pesquisadores de atividades psíquicas Maurice Grosse e Guy Lyon Playfair acompanharam o caso e conseguiram documentar mais de seiscentas páginas de transcrição de fitas cassetes e registros em vídeo dos surpreendentes e assustadores eventos, aqui relatados exatamente como aconteceram. (Resenha: 1977. Enfield – Guy Lyon Playfair)

Opinião: É inegável que o desconhecido nos fascina na mesma medida que amedronta. Acredito ser da natureza humana sentir atração por tudo aquilo que não é racionalmente explicável, que vai além da compreensão ou que simplesmente desafia crenças e padrões socialmente estabelecidos. Atividades paranormais ou sobrenaturais se encaixam com perfeição aqui. Elas acendem debates calorosos, opõe grupos distintos e provocam paixões e ódios. Tudo o que não tem explicação gera polêmica, resistência e teorias a perder de vista.

Um dos fenômenos mais bem documentados do Reino Unidos, talvez do mundo, o Poltergeist de Enfield até hoje gera controvérsias. Os acontecimentos se desenrolam de agosto de 1977 a 1979 atingindo uma pacata família, sendo que as duas irmãs, próximas da puberdade, foram apontadas como epicentro das atividades. Em 31 de agosto de 77, batidas, sons inexplicáveis, móveis que se movimentavam sozinhos, objetos que voavam ou caíam do nada começaram a assombrar a vida da família. Os eventos foram piorando com o passar do tempo e registrou-se levitação, vislumbres de pessoas, e vozes que conversavam e se apresentavam como de moradores da casa já falecidos.

O caso de Enfield ganhou notoriedade, atraiu especialistas das mais variadas áreas e foi testemunhado por pelo menos 30 pessoas. Duas delas, Maurice Grosse e Guy Lyon Playfair, membros da Sociedade de Pesquisas Psíquicas, coordenaram as investigações, acompanharam de perto todo o fenômeno e documentaram mais de 600 páginas de transcrições de fitas cassetes, fotografias e vídeos do caso. Esse trabalho resultou na obra 1977: Enfield, escrita por Playfair, e que é o melhor material de consulta e conhecimento disponível sobre os eventos.

Apesar de soar assustadora a possibilidade de mergulhar na leitura de um material real sobre atividades paranormais, ou de fantasmas, como o senso comum prefere designar, 1977: Enfield é uma obra que traz mais curiosidade do que provoca medo. Os relatos, extremamente repetitivos, chegam a ser, por vezes, tediosos e resultam numa leitura lenta e arrastada. Guy Lyon optou por relatar tudo de forma bem documental, detalhista e cronológica. Sem pressa, sua prosa se divide entre relatar os fenômenos à medida em que aconteciam e mostrar o que foi feito para testar a veracidade do que era testemunhado. Havia uma intensa dúvida se as irmãs não poderiam estar provocando intencionalmente as atividades, logo, tudo era minuciosamente testado e isso povoa inúmeros parágrafos.

Diferente de relatos que uniram realidade a uma romantização, de forma a tornar a leitura mais emocionante, como Amytiville, por exemplo, 1977: Enfield é burocrático ao extremo. A preocupação do autor era contar a história vivida, levantar muitas suspeitas (a todo instante, eu diria) sobre a honestidade das garotas, e mostrar como o caso evoluiu. O leitor aqui deve estar preparado para um livro documental. Não é ficção, não é obra para provocar medo, e não há ritmo de leitura. Cientes disso, penetramos em um ambiente familiar comum e normal e que se vê abalado por situações que desafiam a lógica. Essa normalidade abalada faz do livro uma obra interessantíssima por desmistificar o que o cinema glamourizou.

O caso de Enfield até hoje suscita debates acalorados. Apesar de toda a farta documentação e expressivo número de testemunhas, ainda existem muitos especialistas céticos quanto aos acontecimentos. A leitura de 1977: Enfield é uma boa pedida para enxergar um pouco além do que estamos acostumados e, com calma e baseados em nossas crenças individuais, tirar nossas conclusões.

PS: A matriarca da família e os dois especialistas, incluindo aqui o autor do livro, já faleceram.

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O Autor: Guy Lyon Playfair nasceu na Índia e foi educado na Inglaterra, onde graduou-se em línguas modernas na Cambridge University. Morou no Brasil por vários anos, trabalhando como jornalista freelancer para a revista inglesa The Economist, o semanário americano Time e a agência de notícias Associated Press; também trabalhou por quatro anos na seção de imprensa da USAID, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional.

“The Flying Cow” (1975) – o primeiro de seus doze livros publicados, traduzido em seis línguas e best-seller internacional – descreve suas experiências ao investigar os aspectos psíquicos do Brasil, assim como “Chico Xavier, Medium of The Century” (2010).

Faleceu em Londres em 08 de abril de 2018, aos 83 anos.

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