Sinopse Faro Editorial: Dez anos depois de estar cara a cara com aquela assombração, Tiago finalmente concorda em voltar à mesma casa para visitar sua avó. Agora adolescente, ele pretende provar para si mesmo, que a terrível imagem que o aterrorizara nas madrugadas por tanto tempo, não passava de uma criação tenebrosa da infância. Mas, ao chegar no casarão, o jovem se depara com o misterioso quarto de seu falecido avô, agora mantido fechado, e tratado como espaço proibido. Tomado por uma estranha coragem e desejo de ver-se finalmente livre do medo, tudo que o rapaz deseja é descobrir o que há por trás daquela porta. Então, o pesadelo toma novo impulso quando a figura sombria da infância mostra-se real novamente… mas, desta vez, ela quer atacar o seu irmão mais novo. (Resenha: A Casa dos Pesadelos – Marcos DeBrito)

Opinião: Nem sempre é preciso um fantasma vagando por uma casa para se ter em mãos uma boa história de terror. Existe um tipo de horror bem real que vive distante das páginas dos livros, mas bem próximo de nós. Ele assusta, amedronta, fragiliza e cria traumas que podem nos acompanhar pelo resto da vida e moldar nossa personalidade. Os noticiários mundo a fora vivem trazendo relatos desse terror e nos chocamos, momentaneamente, para depois prosseguir com a vida que sempre segue em frente. Esse terror é o alicerce sob o qual Marcos DeBritto construiu sua casa de pesadelos.

Nome que ganhou destaque no cenário do terror nacional com O Escravo de Capela, DeBritto optou por trilhar um caminho totalmente diferente em A Casa dos Pesadelos. E o trilhou de forma sagaz ao usar um tema tabu no país para construir sua história que é mais suspense que terror. Embrenhando-se pelos segredos de uma típica família interiorana do Brasil, o autor soube construir uma história perturbadora através de metáforas e figuras de linguagem inteligentes e originais. Goste-se ou não do que será revelado no fim, é impossível negar a perspicácia com que tudo foi costurado e apresentado.

Pelas páginas de A Casa dos Pesadelos, os leitores vão encontrar um adolescente retraído com uma vida marcada por um trauma de infância. Tiago acredita ter sido assombrado por uma criatura assustadora na casa de sua avó. Essa visão moldou sua personalidade e o fez se tornar tímido, quieto e um pouco antissocial. Ao retornar para a mesma casa, agora com dezesseis anos, ele precisa se confrontar com esse trauma e enterrar no passado aquilo que os adultos classificam como “coisas de criança”. Essa é a superfície da história, mas ao mergulharmos vamos percebendo que ela não é rasa, não dá pé e pode nos arrastar para um fundo sem fim.

A partir do medo que qualquer criança sente dos fantasmas que invadem o quarto quando as luzes se apagam e o silêncio reina em casa, Marcos DeBritto puxou as cobertas que escondem as intrincadas relações familiares. A trama aqui é repleta de metáforas e mesmo nos envolvendo facilmente pela linguagem rápida e objetiva da narração, jamais estamos preparados para o choque da revelação final. O suspense aqui vai se descortinar para o drama de uma família comum, acima de qualquer suspeita, mas que guarda a sete chaves todos os segredos mais pervertidos que podem abalar a boa reputação que é preciso manter diante das convenções sociais.

Esmiuçar os detalhes de A Casa dos Pesadelos é enveredar pelo perigoso caminho do spoiler. O essencial a ser destacado é a tremenda qualidade da obra e o quanto ela guarda em suas entrelinhas. Não é uma ficção gratuita e ela tem muito do DNA da sociedade brasileira, principalmente se formos busca-lo nos interiores e sertões do país. Ao ler a obra foi-me impossível não a relacionar com cenários de dezenas de cidades aqui das Minas Gerais, como acredito que vai acontecer com leitores diversos Brasil a fora.

Dispa-se de preconceitos para entrar n’A Casa dos Pesadelos e visite os cômodos dessa narrativa ágil, rápida e envolvente. Se anteriormente escrevi que Marcos DeBritto era um nome para ser anotado, agora afirmo que é um escritor que não podemos deixar de ler.

Avaliação: 4 Estrelas

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O Escravo de Capela

O Autor: Marcos DeBrito nasceu em Florianópolis e mudou-se para São Paulo em 1998 para estudar cinema. Formado pela FAAP, é diretor e roteirista. Seu curta-metragem Vídeo sobre tela, de 2001, ganhou o prêmio especial do júri no Festival de Gramado. À sombra da lua é seu primeiro romance.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

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