Opinião: Popularizado através da livre-adaptação para os cinemas em 2008, este pequeno conto de Fitzgerald – são cerca de 50 páginas, é uma obra singular por sua simplicidade e pelas críticas pontuais apresentadas de forma discreta ao longo da narrativa. O enredo fantástico, conhecido de todos, conta a história de Benjamin Button, alguém que contrariou a lei natural da vida e já nasceu velho para ir rejuvenescendo ao correr dos anos.

O conto é bastante objetivo e apresenta os fatos da vida de Benjamin Button sem se ater a detalhes ou se preocupar em dar explicações. A passagem do tempo acontece, às vezes, na troca de parágrafos e provavelmente isso pode frustrar alguns leitores, tendo em vista que a premissa da história permitia que variadas situações fossem exploradas.

O preconceito com aquilo que o senso comum considera como anormal foi, para mim, um dos pontos fortes que mais chamaram atenção no conto. A não aceitação da pessoa que nasce velha, contrariando o que se esperava, um bebê, aparece já nas primeiras cenas com a reação do médico que realizou o parto (aqui vale ressaltar que o autor não se preocupou em explicar como a mãe conseguiu dar à luz alguém já adulto ou como a comunidade médica se portou diante de tal fato). E a cada nova fase da vida, Benjamin vai sofrendo com o desprezo ou a vergonha, expressados por seu pai e, posteriormente, seu próprio filho.

Mesmo que o caso de Benjamin seja algo extraordinário, exclusivo da literatura mais fantástica, ele serve tranquilamente como uma metáfora para o comportamento humano com tudo aquilo que sai dos padrões estabelecidos pela sociedade. Basta algo não seguir o curso normal que estamos condicionados a esperar que reagimos com repulsa, preconceito, discriminação, vergonha. Solucionamos a questão escondendo, tirando da vista dos vizinhos e conhecidos.

Por outro lado, a história evidencia, que mesmo se invertermos o curso da vida, indo do velho para o novo, o caminho a ser percorrido é o mesmo. À medida que os anos avançam, seja envelhecendo ou rejuvenescendo, nós iremos perder nossas forças, nossa capacidade de discernimento vai falhar ou faltar, e as pessoas que nos rodeiam vão partir. E o fim sempre vai chegar quando os olhos se fecharem e não restar nada a não ser a escuridão.

Avaliação: 4 Estrelas

O Autor: F. Scott Fitzgerald é um dos maiores escritores americanos do século XX. Suas histórias, reunidas sob o título Contos da Era do Jazz, refletiam o estado de espírito da época. Foi um dos escritores da chamada “geração perdida” da literatura americana.
Oriundo de família católica irlandesa, ingressou na Universidade de Princeton, mas não chegou a se formar. Durante a Primeira Guerra Mundial, alistou-se como voluntário. Começou a carreira literária em 1920, com Este Lado do Paraíso, romance que lhe deu grande popularidade e lhe abriu espaço em publicações de grande prestígio. Seu segundo romance, Os Belos e Malditos, foi publicado em 1922. Na França, concluiu o terceiro e o mais célebre de seus romances, O Grande Gatsby. Essa obra, uma das mais representativas do romance americano, descreve a vida em alta sociedade com uma aguda reflexão crítica. Faleceu em Los Angeles 1940, aos 44 anos.

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