Sinopse DarkSide: Marinka tem 12 anos e mora com sua avó, que é uma Yaga, um Guardião cuja responsabilidade é guiar os mortos no momento da passagem, levando-os em direção às estrelas. Mas, para que essa função possa ser realizada com segurança, elas não podem viver muito tempo no mesmo lugar e, por isso, as casas Yaga possuem uma enorme peculiaridade: elas têm pernas de galinha. Para agradar a neta, Baba Yaga passa horas na cozinha preparando borsch, kasha, pastilas e muitas outras delícias da culinária do Leste Europeu. Marinka, no entanto, não se considera uma menina tão feliz assim. Apesar da presença da avó e de seu amigo Jack ― uma gralha atrapalhada e faminta ―, o que ela mais deseja é ter uma vida normal: fazer amizades duradouras com os vivos, ir à escola e ter uma casa que não saia correndo no meio da noite. Tudo muda quando Baba Yaga desaparece misteriosamente… e cabe a Marinka encontrá-la. (Resenha: A Fabulosa Casa com Pernas – Sophie Anderson)

Opinião: Baba Yaga é a bruxa da floresta no folclore eslavo. Personagem extremamente antigo, ela tem variações nas formas como é vista e apresentada. Em alguns momentos, é malvada e capaz de praticar atos de canibalismo. Em outros, é uma figura de sapiência, um ser mágico. A representação segue à risca a ideia de uma velha de nariz comprido e aparência desagradável. Ah, e normalmente sua habitação é uma casa com pernas de galinha, capaz de se locomover. A grande maioria das lendas coloca a Casa Yaga como o ponto que liga o mundo dos vivos ao dos mortos.

A partir da figura da Baba Yaga, A Fabulosa Casa com Pernas tece sua fábula sobre a importância de viver, estar vivo e valorizar aqueles que cruzam nosso caminho, mesmo que sejam um tanto quanto diferentes do que consideramos como “normal”.

Na obra, vamos acompanhar a jovem Marinka, neta de uma Baba Yaga e, portanto, presa aos caprichos da casa que se locomove a seu bel prazer. Com isso, Marinka não consegue ter uma vida minimamente normal como a que fantasia na sua cabeça e através dos livros que lê. Sem conseguir desenvolver amizades e presa a inúmeros cuidados para evitar problemas com os vivos, a rotina dela se resume a ajudar a avó nas noites em que abrem as portas para os mortos. Marinka está sendo treinada, mesmo contra sua vontade, para ser a sucessora da avó. A próxima Yaga dessa casa.

Mas um dia a avó faz uma jornada ao mundo dos mortos e não retorna. Marinka se vê dividida entre conseguir a liberdade que tanto sonhou ou empreender uma busca praticamente infrutífera para trazer sua avó de volta. Só que nada é simples e qualquer tomada de decisão pode causar desequilíbrio no mundo das Yagas, na casa em que ela vive e na jornada de dezenas de mortos que dependem dela para seguirem seus caminhos em paz.

A Fabulosa Casa com Pernas é claramente uma grande fábula em que aprendemos ao acompanhar o processo de crescimento de Marinka. Porque ela é uma personagem muito bem construída que traz todas as contradições, revoltas, atitudes egoístas e sonhos utópicos de qualquer jovem na sua idade. Ao pensar só em si na busca por uma amiga, ela força sua avó a ir embora. Ao recusar conduzir os mortos, como deveria fazer, ela coloca as estruturas da Casa Yaga em risco. Mas ao entender que é possível conciliar desejos diversos, ela consegue promover união entre os Babas, crescimento pessoal e tolerância dos vivos para com uma garota que é, no mínimo, diferentona demais.

A jornada d’A Fabulosa Casa com Pernas é o caminho de amadurecimento pessoal de uma garota enfrentando um passado misterioso, inúmeros segredos e uma ingrata tarefa de ter que passar mais tempo lidando com os mortos enquanto, em seu íntimo, pulsa um desejo ardente por desbravar o mundo com os vivos.

De leitura rápida, recheado de passagens singelas e com inúmeros cenários de fantasia e magia, A Fabulosa Casa com Pernas é aquele livro que podemos classificar como “uma história fofa”, sem cair no pejorativo. Vale a aventura e, principalmente, o conhecimento das muitas lendas e histórias que a autora tão bem trabalhou na construção da sua trama.

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A Autora: Sophie Anderson cresceu ouvindo histórias contadas pela mãe, que é escritora, e por sua avó prussiana, cujas narrativas inspiram seus romances. Nascida em Swansea, no País de Gales, Sophie gosta da liberdade de dar aulas em casa para seus quatro filhos, fazer trilhas em regiões montanhosas e sonhar acordada. Ganhou o Independent Bookshop Book of the Year e o Wales Book of the Year Award, e também foi indicada para o Waterstones Children’s Book Prize e o British Book Awards. Atualmente, mora no Lake District com a família.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

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