Sinopse Paralela: Ana sempre soube que seu destino ultrapassava as fronteiras do limitado espaço destinado às mulheres na Galileia do século I. Nascida em uma rica família de Séforis, ela é rebelde e ambiciosa, dotada de um espírito ousado e uma voz que anseia por ser ouvida. Desafiando as regras da época, Ana estuda e escreve narrativas secretas sobre mulheres silenciadas ao longo da história. Quando conhece Jesus, encontra nele um raro estímulo para seu intelecto e também uma faísca capaz de despertar seu coração. Depois de casados, Ana passa a viver com a família dele em Nazaré, onde o cotidiano doméstico sufoca seus desejos e a truculenta resistência ao domínio romano ameaça a tranquilidade de sua vida conjugal. Pouco antes de Jesus começar seu ministério público, um ato de rebeldia força Ana a fugir para Alexandria, no Egito. Lá, ela encontra refúgio e propósito – mas é apagada da história de seu grande amor. (Resenha: O Livro dos Anseios – Sue Monk Kidd)

Opinião: A especulação de que Jesus poderia ter sido casado é um dos exercícios mais comuns da ficção. Quem aí não leu ou assistiu aos devaneios d’O Código DaVinci, de Dan Brown? O problema é que geralmente essas obras tratam o tema de forma muito rasa com um foco bem grande no sensacionalismo. O objetivo parece ser se tornar um best-seller apenas pela polêmica do assunto.

Mas e se realmente Jesus tivesse sido casado e sua companheira fosse uma mulher de fibra, força, com pensamentos tão à frente do seu tempo quando os dele? Bom, acredito que se os Evangelhos mencionassem uma esposa e o seu papel junto ao ministério exercido por Cristo, as mulheres talvez tivessem percorrido uma trajetória bem diferente ao longo dos séculos. Quantas questões teriam sido evitadas e quanto espaço a figura feminina não teria na sociedade se o pensamento ocidental, moldado pelo Cristianismo, tivesse a influência de um Jesus casado?

Esse exercício de imaginar uma esposa para Jesus foi a inspiração da consagrada escritora Sue Monk Kidd para compor o seu O Livro dos Anseios, um maravilhoso passeio pela Palestina dos tempos de Cristo. Mas é preciso destacar, e Sue deixa isso bem claro lá em sua nota de fechamento do livro, que trata-se de uma obra focada em uma mulher, Ana, e em como ela construiu sua vida em meio às dificuldades de uma época em que nada era permitido as mulheres.

Então, se você espera um livro recheado de adaptações bíblicas, esqueça. Jesus aqui é um personagem totalmente secundário e, talvez até desnecessário, se pensarmos em quão rica foi a história de Ana.

E nossa Ana é uma garota curiosa, que lê, escreve e está sempre incomodada na busca por mais conhecimento. Filha de um importante conselheiro do príncipe Herodes, ela é alguém muito à frente das mulheres daquele tempo. Prometida em casamento para um homem bem mais velho, ela o despreza. Na relação com Herodes, ela não abaixa a cabeça, mesmo com o cargo de seu pai estando sob ameaça. Porque ela quer ter uma voz própria. Totalmente sua. Uma voz que, segundo um de seus anseios, possa registrar para a posteridade as histórias das mulheres do Velho Testamento que foram esquecidas, colocadas à margem.

No desenrolar da trama, Ana vai conhecer o jovem Jesus, filho do carpinteiro José, recém-falecido, que tem uma rebeldia nata pelas imposições da sociedade e pela dominação romana no seu território. Esse Jesus que vai atrair a atenção e ganhar o coração de Ana é totalmente humanizado. Sue Monk Kidd fugiu da construção religiosa e concentrou seu foco no homem, no seu cotidiano junto à família e no início de um ministério de pregações em que a rebeldia política estava mais à frente do que as promessas religiosas.

A partir do casamento dos dois, a história vai ganhar novos rumos com encontros e desencontros até culminar, logicamente, na crucificação e morte de Jesus e na posteridade em que Ana é totalmente apagada dos registros pelos seguidores de Cristo.

O Livro dos Anseios, como falei anteriormente, é a história de Ana e sua luta por ser uma mulher de voz, apegada ao conhecimento, ao saber. Ao longo dos capítulos, que a levam da Palestina ao Egito e a um grupo de filósofos de Alexandria, vamos nos aventurar por uma rica ambientação histórica, com personagens muito bem construídos e cativantes. Teremos diversas mulheres fortes que vão marcar seu espaço nessa história e se ajudar mutuamente na busca de suas vozes. De seus anseios. Um livro brilhante, delicado e de força! Força e anseio de uma mulher para que sua voz ecoe pelos séculos…

Compre na Amazon

Observação: este livro foi lido na edição da TAG Inéditos de Março de 2022

A Autora: Sue Monk Kidd mora perto de Charleston, na Carolina do Sul. Seu primeiro romance, A vida secreta das abelhas, ficou por mais de um ano e meio na lista de mais vendidos do New York Times e foi adaptado para o cinema em 2008. A cadeira da sereia, seu segundo romance, alcançou a primeira posição na lista de mais vendidos do New York Times, ganhou o prêmio Quill de 2005 para melhor obra de ficção e foi transformado em filme para a TV.

Compartilhar
Artigo anteriorResenha: O Deserto está Vivo – Elizabeth Wetmore
Próximo artigoResenha: O Pescador – John Langan
Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

2 COMENTÁRIOS

  1. O tanto que eu amei este livro. 💗 A escrita é intensa, a personagem é apaixonante e Jesus foi muito bem retratado. Adorei o fato de a autora ter se limitado ao Jesus histórico, humano. Ana é incrível e fiquei trsite por terminar o livro e acabar deixando aquele cenário.

    • É uma excelente história Soraia e a autora nos transportou facilmente para a ambientação da época. Ana é uma personagem dessas inesquecíveis…

Deixe uma resposta