Sinopse Gutenberg: Verônica McCreedy leva uma vida solitária. Aos 85 anos, ela começa a se perguntar para quem deixará sua enorme fortuna. Até que, após ver um documentário sobre um centro de estudos de pinguins na Antártica, resolve passar uma temporada do outro lado do mundo – um local congelante e isolado, que muitos considerariam inóspito. Diante da descoberta de um parente vivo, das novas amizades feitas, da revelação de traumas passados e dos pinguins que precisam de ajuda, Verônica terá que decidir se ainda há tempo para abrir seu coração e criar laços antes que seja tarde demais. (Resenha: Verônica e os Pinguins – Hazel Prior)

Opinião: A jornada de reprodução de um pinguim é um teste de sobrevivência e uma das muitas provas de amor que a dinâmica de funcionamento da natureza nos dá. Eles passam um bom tempo em meio a tempestades de neve protegendo os ovos, grudados uns nos outros, sem se mexer muito. Protegem esse ovo como se fosse a única coisa importante na existência deles – talvez seja, não? E quando nasce o filhote, o desafio aumenta porque predadores circundam o local pelo ar buscando a primeira chance de atacar. Alguns bebês pinguins se tornam presas e seus pais retornam sozinhos para o mar. É uma história que vale muito a pena ser conhecida por toda a sua beleza, singeleza e demonstração de força e amor.

Verônica, 85 anos, é uma milionária que vive seus dias com bastante mau humor e na solidão. A diarista, Eileen, que faz a limpeza e as compras para a casa é uma figura solícita e simpática, mesmo assim a vida de Verônica é solitária. Porque ela quer, porque ela não tem muito mais paciência com os outros ao redor e porque ela tem segredos do passado que enterrou muito bem e não está disposta a remexê-los. Até o dia em que decide pedir para Eileen buscar na tal da internet rastros de algum parente ainda vivo que possa, quem sabe, se tornar seu herdeiro.

Verônica vai descobrir um neto, mas vai ser através da saga dos pinguins que seu coração vai enxergar o mundo em cores mais vivas novamente. A partir de uma viagem à Antártica, Verônica vai vivenciar uma jornada de descobertas, reconciliações e crescimento para si e para os que vão conviver com ela durante essa saga. Ela vai superar a solidão e perceber que ao lado dos outros, e do neto um tanto atrapalhado, a velhice não é tão ruim quanto pode parecer. E o amor ainda é o melhor dos sentimentos para compartilhamos na vida.

Verônica e os Pinguins, livro de estreia de Hazel Prior, é uma daquelas leituras singulares que tocam de alguma forma lá dentro do coração. Não só pelo conjunto da biografia da octogenária protagonista, mas também pelas descobertas e crescimentos pessoais que todos os personagens acabam passando ao longo dessa história.

O primeiro ato de Verônica e os Pinguins é a solidão, o mau humor e os segredos da protagonista. Ela gosta de estar sozinha, mas lá no fundo a gente percebe que há uma casca que ela mesmo criou para se esconder um pouco da vida social. Ela refuta demais a diarista Eileen, mas gosta da companhia bagunçada dela. E quando decide buscar um parente perdido, a justificativa de encontrar um possível herdeiro também é um escudo para esconder a vontade de remexer no passado.

O segundo ato é quando, decidida a doar sua fortuna para a causa da preservação ambiental, mais precisamente nos trabalhos de pesquisa envolvendo pinguins na Antártica, ela embarca para o gelo. Na cara e na coragem. E ali, no infinito e inóspito branco sem fim, conhecendo as relações entre aquelas aves, toda sua casca desmancha e ela se apaixona. Talvez não só pelos pinguins, mas pela vida. A vida que insiste em seguir em frente em meio a todas as dificuldades impostas pela natureza para procriar e ainda manter seguros os bebês-pinguins. Verônica muda sua forma de enxergar o mundo e encara novamente seu passado disposta a superá-lo.

Nos entreatos dessa história, o neto Patrick vai desvendar os segredos desse passado que acabaram por forjar essa casca grossa e distante que fez a Verônica de hoje. Uma vida de sonhos de uma doce menina que é abalada pela tragédia da guerra, pelos descaminhos das relações, pela criação severa num convento e por alguns spoilers… A octogenária que conhecemos foi moldada por uma sequência de dramas que tornou a vida menos colorida e fez dela uma senhora distante do mundo. Só mesmo um neto persistente e a magia dos pinguins para dar cores, novamente, para essa existência.

“À medida que a gente envelhece, é como se a capacidade para o amor crescesse.”

A narrativa de Verônica e os Pinguins tem de tudo um pouco. Pontos de vista da protagonista e do neto, Patrick, se mesclam com trechos de diário, postagens em blog e os impagáveis e-mails trocados entre a diarista e a equipe de pesquisadores na Antártica. Entre o improvável, o tocante e as tiradas de humor, a obra se constrói envolvendo os leitores. Velhice, depressão, solidão, aventura, reconciliação, amor… São inúmeros os temas que vão se entrelaçando para contar essa jornada de vida que tem seu ponto alto na região mais distante e inóspita do planeta. Em meio ao gelo, todos encontram a chama para aquecer os corações.

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Observação: este livro foi lido na edição da TAG Inéditos de Fevereiro de 2022

A Autora: Hazel Prior nasceu em Oxford, no Reino Unido, mas já morou em muitos lugares, como na fronteira entre a Inglaterra e o País de Gales, na Escócia e até na Itália. Seus trabalhos incluem estudar e tocar harpa, dar aulas de atuação e de inglês como língua estrangeira. Ganhou nove prêmios em concursos nacionais de escrita e teve uma série de contos publicados em revistas literárias. Atualmente, dedica-se ao trabalho de harpista freelancer e vive em Exmoor, no sudoeste da Inglaterra, com seu marido e um enorme gato ruivo.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

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