Sinopse DarkSide: A história começa dez anos depois do exorcismo de Regan MacNeil, a jovem menina endiabrada que Linda Blair incorporou no cinema. Só que agora o sobrenatural ganha também uma pegada de romance policial. O detetive (e cinéfilo nas horas vagas) William F. Kinderman volta à cena, investigando uma série de assassinatos brutais — entre eles, a crucificação de um garoto de apenas doze anos. O modus operandi dos crimes parece indicar a assinatura mórbida do assassino em série Geminiano. Mas como solucionar um caso em que o principal suspeito está morto há mais de uma década? (Resenha: Legião – William Peter Blatty)

Opinião: O sucesso de determinados filmes costuma gerar as franquias, continuações infindáveis da história, às vezes perdendo completamente o sentido do original ou até mesmo não fazendo mais nenhum sentido. O importante acaba sendo o lucro em cima da marca. Com livros isso não costuma acontecer, mas vez ou outra surgem continuações um tanto suspeitas, sem contar o atual advento das trilogias e séries. Empurrado pelo exorbitante sucesso de vendas de O Exorcista (que repetiu o feito nas bilheterias do cinema e arrebatou o Oscar de melhor roteiro), William Peter Blatty foi mordido pela mosquinha da continuação e nos entregou uma obra prá lá de curiosa.

Publicado em 1983, portanto doze anos após O Exorcista, Legião é uma continuação sem continuar. Apesar de contar com referências aos fatos ocorridos na obra anterior e ter personagens em comum, Legião tem uma história própria e com uma pegada completamente diferente. Temos aqui um livro mais de suspense do que de terror e salvo uma ou outra cena mais assombrosa, o lado demoníaco não protagoniza a história. Pelo contrário, em meio ao suspense criado em torno das misteriosas mortes, as divagações filosóficas e religiosas do detetive William F. Kinderman dominam a maior parte dos capítulos e colaboram para a leitura se tornar bastante arrastada em diversos trechos.

A trama detetivesca do “quem está por trás dessas mortes horripilantes” é o ingrediente máximo de Legião. Para elaborar todo esse mistério, Peter Blatty dividiu o livro em duas partes sendo que a primeira é o teste de resistência para os leitores. Aqui, as chances de vocês abandonarem o livro são gigantescas. Caso consigam digerir a parte um, a sequência ganha mais ritmo, envolve mais, e faz a conexão com O Exorcista, ficando mais interessante. A conexão é bem-feita com boas explicações? É. Mas o livro sobreviveria sem ela? Sem sombra de dúvidas! Conclusão, fazer do livro uma continuação foi uma boa jogada para alavancar vendas. E só!

A história do assassino Geminiano citado na sinopse é desenvolvida de forma redondinha e satisfaz os leitores. E sobram divagações e indagações acerca do poder da fé, da crença, da existência de um ser misericordioso a zelar pelos homens (bem dentro das angústias experimentadas pelo padre Karras n’O Exorcista). Porém, a presença do oculto ou de cenas encapetadas pra tirar o sono a noite inexiste, e fatalmente vai frustrar aqueles que pegaram o livro esperando uma sequência de capítulos em que o “diabo toca o terror”.

Legião é um bom livro de suspense e nada mais que isso. Teve seu caminho literário pavimentado, e facilitado, pelo sucesso da obra anterior, do contrário correria o risco de passar em branco.

Avaliação: 4 Estrelas

O Autor: William Peter Blatty (1928-2017) escreveu diversos romances e roteiros e é conhecido pelo mega best-seller O Exorcista, publicado em 1971. Foi o roteirista e produtor de sua adaptação para o cinema em 1973 e com ele ganhou três Globos de Ouro e o Oscar de melhor roteiro.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

5 COMENTÁRIOS

  1. Boa resenha. Confirmou os boatos que ouvi sobre o livro, ouvi dizer que tinha uma pegada mais filosófica de dúvidas sobre o divino e o maligno, uma coisa mais pé no chão e investigativa. Aliás resolvi comprar o livro justamente por isso, pois se tivesse o teor bem no estilo “o demônio toca o terror” eu acho que não compraria. Mas não dá pra negar que o apelo de “continuação do exorcista” e a expectativa do demônio tocando o terror devem ser os motivos que motivaram as vendas.

    • Emanuel, quem pega o livro esperando se tratar de uma continuação direta de O Exorcista se frustra feio. Aliás, Exorcista não é um livro para continuações, é daquelas obras únicas. Não desprezo o valor de “Legião”. Em muitos aspectos ele traz reflexões interessantes, contudo é mais uma obra de suspense do que terror. Tenha isso em mente se for ler. 😉

  2. Comprei o livro porque ja tinha lido “O Exorcista” de 1971. Quantos aos filmes assisti o de 1973 e o 2º (O Herege) de 1982, se não me engano lançado antes da continuação (livro de 1983). E tinha o ultimo, (III) de 1990, este porém , não asssiti! – marcio “osbourne” silva de almeida – jlle/sc

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