Sinopse Tordesilhas: Um jovem casal e sua filha visitam o gélido arquipélago de Domarö. Durante um passeio noturno ao farol, a menina desaparece como num passe de mágica. As pegadas que ela deixa na neve cessam abruptamente, e não há lugar onde ela possa ter se escondido. Dois anos depois, destruído pelo trauma daquela noite, o pai retorna a ilha e descobre que o sumiço inexplicável da filha não é única coisa estranha naquele lugar que abriga segredos antigos e um poder sobrenatural. (Resenha: A Maldição de Domarö – John Ajvide Lindqvist)

Opinião: Lindqvist perdeu seu pai para o mar, e esse é o cartão de visitas para entendermos o quão complexa e pessoal é a narrativa de A Maldição de Domarö. Muito mais drama humano que horror, o livro mergulha tanto nos mistérios e segredos que envolvem a vida de pequenas cidades quanto na espiral de tragédia de um pai diante do desaparecimento de sua filha. A obra é densa e envolvente, e navega por altos e baixos em que justamente os elementos fantásticos acabam sendo os menos importantes para o conjunto da trama.

Frequentemente comparado ao mestre do horror Stephen King, Lindqvist, pra mim, tem apenas um estilo parecido de concepção de histórias. Bem diferente de King, o sueco prefere focar seus livros muito mais no drama do que no terror, sendo que este elemento é um complemento que por vezes poderia ser muito bem dispensado. A Maldição de Domarö é o terceiro livro que leio do autor e mais uma vez me deparo com a natureza humana protagonizando cenas que se aproximam assustadoramente da realidade. Neste caso, um pai cuja filha simplesmente desaparece no meio de uma planície gelada. Dois anos e uma vida em frangalhos depois, ele retorna à misteriosa comunidade em que tudo ocorreu e mergulha numa avalanche de segredos, conflitos internos e buscas por respostas.

A Maldição de Domarö é integralmente conduzido pela relação do homem com o mar e, em última instância, a água. Ele é o vilão responsável por escravizar a pequena Domarö em torno de pactos, segredos e olhares silenciosos perante tragédias. É ao redor dele que tudo gira e do qual ninguém pode escapar, afinal a água está em absolutamente qualquer lugar. Assim, o drama do personagem Anders, alguém completamente destroçado e entregue ao álcool, vai ser regido pelo poder do mar, mesmo nos momentos mais improváveis. Os demais personagens, muito mais interessantes e cativantes que o protagonista, são coadjuvantes de uma trama que ultrapassou gerações. Cada um guarda um pedaço do quebra-cabeças que vai sendo montado, mas nenhum influencia diretamente nos acontecimentos centrais da história.

O ambiente isolado, desolado e gelado de Domarö é perfeito para o desenvolvimento de uma trama claustrofóbica. Não há muitas escapatórias e pra onde você caminha só encontra chalés espaçados e o horizonte branco e azul de gelo e mar. A boa ambientação dá gás para um livro de narrativa envolvente, porém dotado de uma montanha russa de idas e vindas entre passado e presente. O obsessivo detalhamento de todas as ações e o excesso de explicações para determinados acontecimentos quebra o ritmo em diversos momentos.

Incrivelmente, na minha opinião, quando o livro caminha para sua metade final e o real cede espaço para a parte fantasiosa da história, ele perde completamente a liga. Os elementos de mistério-terror não surtiram em mim o efeito esperado. O drama em que Anders estava mergulhado somado às dúvidas quanto à real natureza de sua filha (uma menininha boa e inocente ou alguém horrível?) haviam me fisgado de tal forma que quando o elemento sobrenatural entrou em cena perdeu-se totalmente o encantamento.

A Maldição de Domarö definitivamente não é um livro para causar sustos, se é isso que você procura. Aqui o terror está mais na realidade de um pai em busca de respostas para o sumiço de sua filha do que nos possíveis monstros que assombram as águas geladas do lugar. Perdendo o fôlego e chegando a um final que deixa demais a desejar, a obra proporciona boas horas de leitura. E não passa disso.

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O Autor: John Ajvide Lindqvist nasceu em 1968 em Blackberg, um subúrbio de Estocolmo (onde muitos dos seus romances têm lugar). Sempre sonhou ter uma profissão assustadora e fantástica: primeiro tornou-se ilusionista (foi quase campeão de truques de cartas num concurso internacional) e depois comediante. Fez comédia stand-up durante mais de 12 anos e foi dramaturgo e guionista para a TV sueca. Deixa-me Entrar, o seu primeiro romance, foi um best-seller internacional, tendo sido adaptado duas vezes ao cinema. Os seus restantes romances – sempre sobre temas relacionados com a fantasia e o terror – estão publicados em todo o mundo e são também grandes sucessos junto da crítica e do público.

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