Sinopse Trama: Após uma infância difícil, a bibliotecária Nga-Yee teve de aprender a enfrentar a vida ao lado da irmã mais nova, Siu-Man. Pela primeira vez desde a morte dos pais, elas começam a viver com certa estabilidade. Certo dia, ao voltar do trabalho, Nga-Yee se depara com uma multidão diante de seu prédio, e nada poderia tê-la preparado para aquela cena: cercado pela polícia e pelos pedestres, está o corpo de Siu-Man. A jovem pulou do vigésimo segundo andar. Sem conseguir acreditar na hipótese de suicídio, Nga-Yee se lança em uma perturbadora investigação pelo submundo de Hong Kong. Aos poucos, algumas peças vão se encaixando para explicar a tragédia, enquanto outros mistérios despontam: viagens de metrô, acusações na internet, cyberbullying. E é esse caminho tortuoso que leva Nga-Yee a N, um homem sombrio que pode ser a peça-chave em sua busca por respostas — e também sua única chance de fazer justiça. (Resenha: O Hacker de Hong Kong – Chan Ho-Kei)

Opinião: O Hacker de Hong Kong é o típico thriller que agrada a fãs de diferentes assuntos. A obra traz uma miscelânea de temas que vão se interligando para formar um intrincado e ágil suspense desses pra devorar as páginas – e o livro é um belo calhamaço de quase quinhentas páginas. Mas isso pouco importa. A partir do momento em que o jogo de vingança dessa história prender a sua atenção, você nem vai se dar conta da quantidade de páginas lidas.

A primeira grande característica dessa obra é o bom uso da tecnologia para a construção do suspense. O hacker que dá título ao livro, conhecido como N, é um personagem incomum, meio anti-herói, mas detentor de conhecimentos que acessam qualquer dispositivo em qualquer lugar. Ao longo da história vamos acompanhar diferentes tecnologias e macetes para hackear, se infiltrar, roubar dados, filmar ambientes e empurrar personagens para as mais diferentes reações.

Outro ponto é que o livro tem uma narrativa muito ágil, fazendo jus à classificação de thriller de ação. Nós somos jogados em uma brincadeira de gato e rato para desvendar um mistério e depois colocar em jogo um plano de vingança. Isso acontece em duas tramas aparentemente distintas, mas que lá na etapa final vão se unir e trazer um belo de um plot twist desses que deixam os leitores entusiasmados com o quanto foram enganados. Chan Ho-Kei soube trabalhar suas histórias de um jeito que não conseguimos em nenhum momento captar a menor sombra de onde é que elas vão se unir. E ele nos surpreende muito!

Por fim, a trama de O Hacker de Hong Kong é magistral! O enredo e seu desenvolvimento são originais, tocam em pontos sensíveis e importantes da sociedade de hoje e trabalham temáticas sob diferentes óticas. Isso confere uma boa diversidade de visões a partir de personagens os mais diversos.

De um lado, a história principal tem início com o suicídio de uma garota provocado por bullying. Isso avança com sua irmã tentando entender o que a levou a pular do vigésimo segundo andar do prédio em que moravam. É aí que ela vai conhecer N, o hacker que vai ajudá-la a montar as peças desse enigma. Peças que vão passar por abuso sexual, fotos comprometedoras, fóruns de internet com perseguição, pré-julgamentos e cancelamentos.

Chan Ho-Kei vai esfregar na cara dos leitores o quanto o comportamento protegido por trás das telas pode alterar fatos e destruir vidas. A manipulação que a internet permite é algo que talvez nenhum de nós faça a menor ideia do quão grande e perigoso é. As cenas que se passam a partir de fóruns em um site facilmente vão nos lembrar o que vemos dia a dia no Twitter, por exemplo. Há personagens prontos para julgar, emitir opiniões ou instigar os outros a qualquer coisa. Até mesmo renunciar à vida.

Em outro aspecto bastante interessante, o autor discute a vingança. No calor do momento somos movidos por uma sede de sangue, de ver o outro pagar por seus atos, mas à medida que as engrenagens desse livro vão girando, vemos sua protagonista ser confrontada com o quanto vale a pena destruir o outro. O livro releva, em determinado momento, que nunca sabemos, de verdade, o que se passa dentro da vida das pessoas que nos cercam.

O Hacker de Hong Kong é uma obra única entre os lançamentos recentes do suspense no Brasil. Não só por termos a oportunidade de conhecer o estilo e a escrita desse fabuloso autor e o acesso à literatura de Hong Kong, mas pelo ineditismo de como a tecnologia foi trabalhada em um thriller com uma imensa variedade de temas. Na minha opinião, é o melhor livro que a editora Trama publicou até o momento no gênero.

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O Autor: Chan Ho-Kei nasceu e foi criado em Hong Kong. Formou-se em Ciência da Computação na Universidade Chinesa de Hong Kong e atuou como engenheiro de software, designer de jogos, roteirista e editor de revistas em quadrinhos. Seu romance de estreia, The Man Who Sold the World, foi publicado em 2011 e venceu o Soji Shimada Mystery Award. Com seu romance policial The Borrowed, Ho-Kei se tornou um dos mais aclamados escritores do gênero nos últimos anos. Suas obras já foram traduzidas para 13 idiomas, e uma adaptação cinematográfica para O hacker de Hong Kong está em desenvolvimento.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

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