Sinopse Arqueiro: Ninguém sabe exatamente como nem onde começou. Uma pandemia global de combustão espontânea está se espalhando como rastilho de pólvora, e nenhuma pessoa está a salvo. Todos os infectados apresentam marcas pretas e douradas na pele e a qualquer momento podem irromper em chamas. O caos leva ao surgimento dos impiedosos esquadrões de cremação, patrulhas autodesignadas que saem às ruas e florestas para exterminar qualquer um que acreditem ser portador do vírus. Em meio a esse filme de terror, a enfermeira Harper Grayson é abandonada pelo marido quando começa a apresentar os sintomas da doença e precisa fazer de tudo para proteger a si mesma e ao filho que espera. Agora, a única pessoa que poderá salvá-la é o Bombeiro – um misterioso estranho capaz de controlar as chamas e que caminha pelas ruas de New Hampshire como um anjo da vingança. (Resenha: Mestre das Chamas – Joe Hill)

Opinião: A sequência de personalidades listadas como inspiração, logo no começo de Mestre das Chamas, dá o tom do está por vir no livro. Antes de mais nada, Joel Hill escreveu uma grande homenagem aos mestres das artes que o levaram ao caminho das letras. Uma obra recheada de referências a diversos personagens imortalizados na literatura e nos cinemas e que, em alguns aspectos, também nos remete ao clássico apocalíptico A Dança da Morte, escrito por seu pai. Apenas isso já basta como argumento para incentivar a leitura do livro. Mas Hill está atingindo sua maturidade como escritor, o que faz de Mestre das Chamas uma obra fadada a marcar essa fase de sua carreira.

A crença popular diz que uma vez que o mundo já acabou em água, um segundo fim viria por meio do fogo. Joe Hill levou isso muito a sério e decidiu ameaçar a humanidade com uma pandemia em que as pessoas entram em combustão, ou seja, elas pegam fogo. Os infectados pela Escama do Dragão, como a doença passa a ser conhecida, apresentam marcas na pele e a qualquer momento podem virar uma pira ardente. Ah, e as cinzas são as responsáveis por espalhar a doença e assim, ao sabor dos ventos, garantir a perfeita extinção dos seres humanos. Legal, ne?

Pois bem, nesse cenário de pré-apocalipse, nós acompanhamos a sina de Harper Grayson, infectada, grávida e abandonada pelo marido, em sua busca por sobrevivência. Ela se junta a outros personagens, também portadores da doença, em uma espécie de colônia em que a harmonia social pode evitar a combustão espontânea. É nessa colônia que a trama se desenrola e é aí que Joe Hill constrói seu laboratório de observação do comportamento humano: um grupo de pessoas distintas reunidas em um ambiente pequeno e vivendo uma situação extrema e de alta tensão.

Mestre das Chamas investiga a fragilidade humana diante de acontecimentos desconhecidos e que tiram não só a nossa segurança, mas as nossas perspectivas com relação ao futuro. Quando não se sabe se haverá um amanhã, muitos de nós perdem a capacidade da decisão. É o ambiente em que a crença se faz mais forte. A liderança que guia o rebanho dos infectados é aquela que decide tanto sobre o estoque de comida quanto sobre castigos e punições. Um misto de presidente-juiz-padre que vai equilibrando, e conectando, o mundo real com o espiritual. Joe Hill explora como poucos esse ambiente e cria personagens carismáticos e marcantes, capazes de angariar nossa simpatia, torcida e desconfiança. Porque seu talento narrativo nos faz moradores da colônia. Somos colocados no centro das tensões que vão crescendo a cada novo capítulo.

E como nem todos os problemas são poucos, ainda existe o lado perverso do ser humano, explorado nos personagens que não foram infectados e que se dedicam ao esporte de matar os doentes. A maldade exala em cenas chocantes do início ao fim do livro e deixa aquela perturbação incômoda sobre as verdadeiras intenções da solidariedade das pessoas.

Além de Harper, notadamente (e, pra mim, estranhamente) a protagonista da obra, Joe Hill insere a enigmática figura do Bombeiro (título original do livro em inglês, a propósito). John Rookwood é um personagem que por mais explicações que sejam dadas, ainda fica uma sensação de que faltou algo mais. Ele é alguém capaz de controlar a Escama do Dragão e um aliado de Harper quando as coisas saem dos eixos na história. E nas semelhanças com a obra A Dança da Morte, de Stephen King, a figura do garoto surdo Nick, soa claramente uma homenagem ao jovem mudo Nick Andros; e o Pai Storey tem um quê da Mãe Abagail, ambos líderes de seus grupos de sobreviventes.

O apocalipse de Mestre das Chamas é essa fogueira, com ou sem trocadilhos, do bem contra o mal, da fé em seguir em frente versus a desistência e a resignação, dos gestos nobres pela sociedade ante a mesquinhez individualista. É Joe Hill firmando seu estilo próprio e em uma ótima fase.

Curiosidades

Joe Hill vai seguindo o estilo de seu pai de interligar de algum jeito suas histórias. Da mesma forma que Nosferatu continha referências à A Estrada da Noite, na página 561 de Mestre das Chamas o personagem Nick faz referência à Terra do Natal, que foi tema central de Nosferatu.

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O Autor: Joe Hill nasceu no Maine, Estados Unidos. Best-seller do The New York Times, é autor de diversos livros, entre eles Nosferatu e Tempo estranho. Por suas obras, Hill venceu os prêmios Locus, Crawford, British Fantasy, World Fantasy e o Bram Stoker. Joe também é ganhador do Eisner pela série de quadrinhos Locke & Key, adaptada pela Netflix.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

3 COMENTÁRIOS

    • Ei Rafael, blza? O livro tem poucas cenas de ação, é um estilo de terror que puxa mais para dissecação de comportamentos humanos… Quando terminar deixa seu feedback sobre o que achou do conjunto geral. 😉

  1. Olá. Que livro!! Nessa pandemia em que vivemos desde 2020, essa leitura cai como uma luva! Espero muito por um filme, cada pagina que lia imaginava vendo na tv. Que protagonista! Harper é fantástica! Recomendo! Sou Fã de Joe Hill. Sempre.

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