Sinopse Companhia das Letras: Em 1876, d. Pedro II embarcou num vapor rumo aos Estados Unidos para as comemorações do Centenário da Independência americana e passou três meses conhecendo o país. Em Os perigos do imperador, Ruy Castro parte desse episódio verídico e constrói um romance eletrizante, que imagina um atentado fatal contra o monarca orquestrado por republicanos brasileiros. Fazem parte dessa trama o poeta Sousândrade, que à época vivia em Nova York; James O’Kelly, repórter do New York Herald; Deoclecio de Freitas, dono de um virulento periódico antimonarquista; e Leopoldo Ferrão, a peça-chave para a execução do plano. Além, é claro, do grande elenco da corte imperial. (Resenha: Os Perigos do Imperador – Ruy Castro)

Opinião: Um pequeno grupo de republicanos pretende assassinar o Imperador do Brasil, D. Pedro II, durante sua visita aos Estados Unidos para as comemorações do centenário da Independência norte-americana. O palco desse atentado, acreditem, é uma apresentação circense. E ao longo da preparação para essa viagem personagens reais e fictícios se misturam em uma história em que não sabemos muito bem o que é reconstituição histórica e o que é pura invenção.

Ruy Castro mergulha nos arquivos do Segundo Reinado do Brasil para contar um pouco aos leitores sobre a não tão conhecida passagem de D. Pedro II pelos Estados Unidos. Ao longo dessa história, ele romanceia a trama de um possível atentado contra a vida do Imperador. O objetivo? Proclamar a República!

Os Perigos do Imperador é aquele livro para um fim de semana de uma leitura leve e bem-humorada. Ruy Castro reconstitui, com sua já conhecida maestria, a ambientação da época imperial brasileira e dá seu toque de ironia, humor e sarcasmo que são a cereja do bolo da narrativa. A obra mistura tão bem os fatos com a ficção que em diversos momentos fica difícil para os leitores identificarem o que aconteceu de verdade nessa viagem pelas terras norte-americanas.

Os Perigos do Imperador é narrado a partir de trechos do diário de D. Pedro, de correspondências trocadas entre os personagens, das reportagens do jornal New York Herald e de espirituosas intervenções do narrador, que aparece sempre para costurar e dar forma a todos esses “pedaços” de história. Esse recurso, que faz a leitura fluir deliciosamente, serve muito ao propósito de confundir os leitores conferindo veracidade às passagens imaginadas pelo autor.

E o grande protagonista dessa história, D. Pedro II, é retratado como um impressionante homem público e governante amado por seus súditos. Pessoalmente, achei curiosa a forma como o imperador brasileiro aparece na obra. Não por desconhecer sua história, mas porque normalmente nossos autores costumam tratar o período imperial com muito desdém e críticas, reduzindo tudo a uma grande galhofa. Ruy Castro se manteve mais fiel à reconstituição histórica, deixando os exageros por conta do repórter James O’Kelly, um dos personagens mais interessantes do livro.

“O espírito republicano e de yankee go-ahead de Sua Majestade estimulou alguns de nós a sugerir sua candidatura à presidência de nosso país nas próximas eleições. Não seria má ideia. Mas temo que, antes, teríamos de perguntar aos brasileiros se aceitariam ceder-nos seu imperador…”

A possível candidatura de D. Pedro à presidência norte-americana foi, de fato, algo aventado numa piada veiculada na imprensa da época. A sugestão trazia como vide um descendente de John Adams, um dos pais dos EUA. Esse é um pequeno exemplo de como a ficção de Ruy se misturou tão bem com a realidade que, terminada a leitura, fica impossível não corrermos para a internet para checar o que de fato aconteceu. E há boas biografias de D. Pedro II que valem a pena serem lidas também…

De sua passagem pelos Estados Unidos, D. Pedro trouxe, entre outras coisas, o telefone. Encantado com o objeto, apresentado na Exposição da Filadélfia, o monarca trouxe alguns aparelhos para o Brasil. E suas observações sobre aquela que viria a ser a maior potência mundial são pra lá de curiosas, interessantes e visionárias.

Com pouco menos de duzentas páginas, Os Perigos do Imperador é o livro ideal para boas horas de distração com uma carga de conhecimento, muito necessário, da história brasileira e de seus personagens. Mesmo que os fatos sejam pra lá de inusitados.

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O Autor: Ruy Castro começou como repórter em 1967, no Correio da Manhã, do Rio, e passou por todos os grandes veículos da imprensa carioca e paulistana. A partir de 1990, concentrou-se nos livros. É autor de biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, e de livros de reconstituição histórica, sobre o samba-canção, a Bossa Nova, Ipanema, o Flamengo e o Rio de Janeiro moderno dos anos 20. Recebeu o Prêmio Machado de Assis de 2021 e, em 2022, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

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