Sinopse DarkSide: Logo após o enterro da matriarca Marian Savage, duas abastadas famílias do Sul dos Estados Unidos viajam para o terreno de veraneio que compartilham em Beldame. São três casas vitorianas idênticas, mas uma delas, bloqueada por insidiosas dunas de areia, está vazia há décadas. Ou parecia estar… (Resenha: Elementais – Michael McDowell)
Opinião: Os principais elementos que compõe uma boa e tradicional história de casas mal-assombradas estão presentes nesta obra peculiar, só que de algumas formas bem diferentes. Michael McDowell, prolífico autor que somente agora, em 2022, mais de vinte após seu falecimento, desembarca em terras brasileiras, construiu um romance em que o mormaço escaldante do calor do Alabama confunde nossa percepção sobre o que de fato está acontecendo na vida desses personagens. Quando a história engata e ganha seu ritmo, acabamos tragados pelas areias misteriosas das dunas e nos perdemos em conjecturas e eventos bizarros do qual dificilmente sairemos com um final reconfortante.
No princípio de tudo, Elementais se passa num cenário escaldado por um sol inclemente que faz com que os personagens sintam-se derretendo e sem forças para muitas ações. Esse é um ponto intrigante que o autor usou na construção da história. O assombro aqui não necessariamente acontece somente no período noturno. Isolados do mundo, numa baía povoada por três casas, os habitantes dessa trama sofrem com o calor e claramente parecem estar num torpor constante. A percepção de que coisas estão erradas pode até saltar aos olhos, mas é preciso mais do que isso para tirá-los da letargia que o local parece provocar.
E esse local, Beldame, é uma área de veraneio em que duas famílias passam temporadas de férias. Ali, existem três casas. Duas habitadas pelas respectivas famílias. A terceira casa, já quase engolida pelas areias de uma duna, guarda um mistério sobre o qual ninguém gosta muito de falar. Apenas reconhecem sem nenhuma sombra de vergonha que o local causa medo, é perigoso e ninguém deve se aventurar a chegar perto.
Na narrativa de McDowell, seremos guiados pela curiosidade da pequena India. Essa garota é que vai desvendando, aos poucos, os segredos dos personagens, seus familiares, da terceira casa e daquilo que ali vive. Só que essas descobertas vão acontecer num ritmo bem lento, com passagens assustadoras – as cenas finais de enfrentamento e mortes são um show à parte, se mesclando com uma rotina de vida totalmente parada. Curiosamente, é pela percepção dessa menina, herdada após um ritual um tanto quanto canibal, que haverá o grande embate que conduzirá a obra para seu fim.
Na sequência da construção dessa história, Elementais traz personagens e episódios bem bizarros. As famílias Savage e McCray vivem em conflitos internos, tensões constantes, há casamentos sob ameaça, alcoolismo, interesses políticos, ambições financeiras, e o luto. Luto que nasce já nas primeiras cenas a partir de uma cerimônia fúnebre com facadas no coração da falecida matriarca e lendas sobre os membros dessa família “morrerem, mas não morrerem de fato”. O cartão de visitas desses personagens já dá o tom de que tudo pode dar muito errado nessa história.
“As mães Savage devoram os filhos!”
É assim que, isolados do mundo em Beldame para se distanciar dos problemas do cotidiano e digerir melhor a ausência da matriarca, o grupo peculiar vai encarar os eventos sobrenaturais da terceira casa. E que eventos são esses?
Bom, o cerne desse mistério se esconde na figura dos elementais. E como não tenho intenção de trazer spoilers pra jogo, posso dizer apenas que eles representam um tipo diferente de mal. Porque nós estamos acostumados com obras em que espíritos, fantasmas ou entidades demoníacas assombram os personagens seguindo padrões mais ou menos definidos pela literatura. Sempre sabemos exatamente até onde o sobrenatural vai quando estamos diante de um livro do tipo.
Só que para McDowell isso não acontece. Os elementais ameaçam os personagens justamente por quebrarem regras, não serem totalmente conhecidos e conseguirem manipular de todas as formas a realidade e a percepção.
O ambiente de casas de veraneio à beira mar cercadas de areia e num calor dos infernos também contribui para essa manipulação. É esse isolamento autoimposto somado com as perturbações que marcam as histórias de vida dessas famílias que, talvez, alimente a sede dos elementais.
Elementais é um livro de terror de muita qualidade, mas desses em que necessariamente precisamos nos entregar à narrativa para conseguir nos conectar com toda a tensão que vai crescendo capítulo a capítulo. A escrita de McDowell é envolvente e ele pontua, ao longo dos capítulos, descrições do estado de espírito dos personagens com oscilações do clima e dos humores do ambiente ao redor. E há muitos mistérios nesse livro e nem tudo vai receber a devida explicação. Talvez ela nem exista de fato. Mas é uma obra impossível de abandonar até desvendarmos o que se esconde, e assombra, a bucólica Beldame.
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O Autor: Michael McDowell nasceu em 1950 em Enterprise, Alabama. Além de diversos romances, escreveu roteiros para televisão, incluindo episódios para diversas séries de antologia como Tales from the Darkside, Amazing Stories, Contos da Cripta e Alfred Hitchcock Apresenta. Depois, escreveu roteiros para Tim Burton, como Os Fantasmas se Divertem (1988) e O Estranho Mundo de Jack (1993). McDowell morreu em 1999 devido a uma doença decorrente da aids. Tabitha King, esposa do escritor Stephen King, completou um romance inacabado de McDowell, Candles Burning, publicado em 2006.
Acabei de ler o livro e não entendi o final. Poderia me dar spoilers do que você entendeu por e-mail? A história é legal, prende a atenção, mas essa falta de explicação sobre o que são os Elementais me desanimou. Por que mesmo sabendo que a terceira casa é perigosa esse povo vai para Beldame há 30 anos (e só depois de 30 anos esses Elementais botam para quebrar geral)?, por que aquele bebê era feito de carne e não de areia como o resto dos fantoches? Por que diabos essas entidades estão em Beldame? Por que a India ficou com receio dos gêmeos nascidos? Por que é dado a entender que a família Savage é amaldiçoada mas não é desenvolvido esse enredo, ou é e eu não entendi? Não gosto de obras que jogam um monte de coisas e deixam tudo em aberto. Parece que o autor não sabe finalizar e se apoia em chavões como “porque é assim mesmo e cabe ao leitor imaginar os motivos”, “é um mal antigo e imensurável que ninguém sabe de onde vem, porque está ali e por isso é assustador”, “é maldade pura e motivações não são necessárias para nada”.