Sinopse Arqueiro: O experiente inspetor-chefe Armand Gamache e sua equipe de investigadores da Sûreté du Québec são chamados a uma cena do crime suspeita em Three Pines, um bucólico vilarejo ao sul de Montreal. Jane Neal, uma pacata professora de 76 anos, foi encontrada morta, atingida por uma flecha no bosque. Os moradores acreditam que a tragédia não passa de um infeliz acidente, já que é temporada de caça, mas Gamache pressente que há algo bem mais sombrio acontecendo. Ele só não imagina por que alguém iria querer matar uma senhora que era querida por todos. Porém, o inspetor-chefe sabe que o mal espreita por trás das belas casas e das cercas imaculadas e que, se observar bem de perto, a pequena comunidade começará a revelar seus segredos. (Resenha: Natureza-Morta – Louise Penny)

Opinião: São tantos anos acumulando a leitura de suspenses e thrillers de muito mistério, sangue e tensão que embarcar em Natureza-Morta foi quase um choque. Pela leveza da trama e por me apresentar a uma galeria marcante de personagens. Não que o mistério não exista. Pelo contrário, ele não só está presente – a partir da investigação da morte de uma simpática idosa, como é muito bem amarrado e perdura facilmente por todo o livro sustentado por uma história em que é difícil apontar culpados.

Antes de mais nada, é importante destacar que Natureza-Morta faz parte de uma coleção de livros, Mistérios em Série, em que o suspense é construído em cima de tramas mais leves, com pouca ou nenhuma carga de “maldade sanguinária” e sem aqueles toques de tensão ou reviravoltas a todo momento. Aposta da Editora Arqueiro, essa série é muito mais focada em personagens comuns com histórias de vida quase pacatas e que têm suas rotinas abaladas por crimes ou situações em que é preciso a ajuda de um bom detetive para resolver o problema.

Dito isso, posso falar que Natureza-Morta é, antes de qualquer coisa, um livro de personagens. Protagonizam a história um conjunto de pessoas que forma uma comunidade pacata e bucólica, o vilarejo de Three Pines. Lugar onde todos se conhecem e onde a vida passa mais devagar, ninguém vê motivos para trancar as portas de casa ou temer qualquer ameaça. É tudo muito tranquilo. Embora, claro, sabemos que todos guardam seus segredos. E com essas pessoas não vai ser diferente. Assim brota a raiz do mistério que teremos que desvendar.

O segundo ponto interessante, ainda falando da galeria de personagens, está no inspetor Gamache, protagonista da série de livros. Ele é muito diferente do que estamos acostumados quando pensamos em detetives infalíveis da ficção. Porque ele investiga e tem o faro apurado sim, mas ele é mais um típico observador, e intérprete, do comportamento humano.

Gamache é aquela pessoa que busca entender o outro para, a partir disso, encontrar possíveis motivações para um crime, por exemplo. Sua metodologia, que começamos a conhecer em Natureza-Morta, fica muito concentrada em conversar com as pessoas, saber do passado, de traumas, intrigas, pontos fora da curva na trajetória da vida. Muito mais do que as importantes pistas que a investigação encontra, e elas fazem sim a diferença, é a conversa quase franca com os envolvidos que dá combustível para seu trabalho. É assim que ele vai compondo um cenário em que o culpado acaba se revelando de forma bastante natural.

Com personagens fortes e envolventes, Natureza-Morta tem sua ambientação como outro ponto de destaque. O cenário do vilarejo quase isolado onde as poucas ruas se encontram em estabelecimentos caricatos de cidadezinhas, e onde tudo soa como uma grande reunião familiar, é perfeito tanto para um bom romance daqueles água com açúcar quanto para, e este é o nosso caso, um improvável assassinato de uma professora aposentada e figura querida pela comunidade. Mas todos têm seus segredos, então…

A narrativa de Louise Penny é tão bucólica quanto Three Pines. O lado sentimental, as reflexões sobre a vida e as memórias de momentos vividos dominam boa parte das cenas. É assim que vamos ficando íntimos de cada pessoa naquela introdução para os próximos livros que virão. Sendo assim, não custa nada reforçar mais uma vez que não há capítulos de tensão ou passagens de tirar o fôlego. A trama se desenrola de forma bem lenta tanto nessas apresentações de personagens quanto na investigação conduzida de forma bem tranquila por Gamache e sua equipe.

E a morte da professora? Bom, o mistério de Natureza-Morta é bem construído e chegar à sua conclusão exige muito dos leitores. Porque estamos acostumados com um estilo de suspense em que muitas pistas são deixadas pelo caminho para, às vezes, facilitar que matemos a charada. Não que isso não aconteça aqui, mas é tudo muito sutil. A chave para solucionar o crime está em detalhes que acabam sendo imperceptíveis demais da conta. Louise soube amarrar tudo e entregar uma explicação plausível e satisfatória. Embora eu deva confessar que o desenrolar da rotina de Three Pines tenha me envolvido muito mais do que o mistério em si.

Se deixar levar pela trama de Natureza-Morta é desvendar um outro lado do suspense, bem mais inocente na sua construção geral, mas tão envolvente quanto qualquer outro. Ao invés de indicar a leitura, prefiro deixar o convite a vocês: visitem Three Pines através dessas páginas!

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A Autora: Louise Penny se tornou escritora com mais de 40 anos, quando deixou seu trabalho como locutora de rádio para se dedicar à literatura em tempo integral. Publicada a partir de 2005, sua série protagonizada pelo inspetor Gamache já foi traduzida para mais de 30 idiomas, vendeu mais de 10 milhões de exemplares no mundo e recebeu diversos prêmios, entre eles o Agatha Awards, o Barry Award e o Anthony Awards. Mora em uma cidadezinha ao sul de Montreal com seu golden retriever, Bishop.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

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