Sinopse Intrínseca: Em 1972, três faroleiros somem de um farol remoto, a quilômetros de distância do litoral. A porta de entrada do lugar está trancada por dentro. Os relógios estão parados — todos no mesmo horário. O registro do faroleiro-chefe descreve uma terrível tempestade, mas o céu está limpo. O que aconteceu com os homens do farol? O mar revolto sussurra seus nomes. A maré muda sob as ondas, afogando fantasmas. As águas algum dia poderão revelar o segredo deles? Vinte anos depois, as esposas ainda lutam para seguir em frente. A tragédia deveria ter unido Helen, Jenny e Michelle, mas, em vez disso, as afastou mais. Quando um escritor aparece, tentando resolver o mistério, elas têm pela primeira vez a oportunidade de contar sua versão da história. Mas a verdade só virá à tona se tiverem coragem de enfrentar seus maiores medos. (Resenha: O Farol – Emma Stonex)

Opinião: Não tenho uma explicação exata para dar, mas sempre tive um certo fascínio por faróis. Talvez porque, no fundo, eles mexem com a imaginação. Além de serem excelente cenário para mistérios. Dois livros bem diferentes que li tinham um farol como elemento importante no desenvolvimento das histórias. Ao Farol, de Virgínia Woolf, com toda sua carga de drama e reflexões sobre o passar do tempo, sobre casamentos, infância, lembranças, é um livro que me marcou profundamente e serviu de cartão de visitas da autora, que viria a se tornar uma de minhas preferidas. No lado oposto, A Maldição de Domarö, de John Ajvide Lindqvist, é um terror com forte carga dramática e que tem um farol pairando sobre o misterioso sumiço de uma garotinha. Há diversos outros que eu poderia citar aqui, mas essa introdução é apenas uma deixa para falar que O Farol, de Emma Stonex, reúne os mesmíssimos elementos de drama, mistério e reflexões.

Inspirada no desaparecimento real de três faroleiros, Emma Stonex escreveu sua ficção especulativa sobre o que poderia fazer três homens, com uma vida familiar em terra, simplesmente sumirem do mapa sem deixar rastros. Logicamente um mistério desses permite abrir as portas para divagações que envolvam o sobrenatural, e a autora soube dosar muito bem pequenas passagens em que a gente fica naquela dúvida sobre o poder de algo invisível ditando os destinos dos faroleiros. Mas ela também manteve os pés fincados na realidade construindo uma trama precisa desde suas explicações iniciais até o desfecho impecável e sem furos. Sim, ela conseguiu dar uma explicação racional e, pelo menos do meu ponto de vista, satisfazer os leitores mais exigentes.

Dividido em dois momentos narrativos, O Farol mostra a rotina dos faroleiros em 1972 até o seu desaparecimento, com a já mencionada excelente explicação para o sumiço; e narra a rotina das três mulheres em 1992, quando um escritor decide investigar o caso para escrever um livro. A narração é lenta e sobram boas doses dramáticas. A autora mergulhou muito bem, e de forma detalhada, em cada esposa e lhes deu voz, em primeira pessoa, num estilo de escrita como se realmente elas estivessem conversando com o escritor e contando a sua versão dos fatos. Então temos muito trechos coloquiais que de cara soam estranhos aos leitores. Mas isso até vocês pegarem o ritmo e entenderem a dinâmica da fala delas.

A rotina dos dias que antecedem ao desaparecimento dos três faroleiros é apresentada também em detalhes que vão nos levando a dois caminhos. O primeiro é o fato de o confinamento mexer um pouco com a mente de cada um. E o segundo é a boa e velha maldade humana fruto dos bons e velhos problemas que permeiam o dia a dia das pessoas. Ao juntar tudo isso, Emma Stonex desenvolveu, volto a dizer, um grande drama com inúmeros problemas pessoais que vão afetando a vida de cada um deles. Traição, inveja, imprevistos, acidentes, descuidos, deslizes, assassinatos friamente pensados… No fim, tudo se junta para mostrar que há muito da ação humana nesse mistério impossível de ser desvendado.

O Farol é um thriller, mas não do estilo tente-matar-essa-charada em pistas vão sendo espalhadas ao todo momento e cabe a nós juntá-las antes que algum personagem o faça. A obra, na verdade, se debruça no íntimo de cada personagem e em tudo que cada um estava sentido, pensando, planejando para, em cima disso, construir um mistério. Por isso, repito pela trocentésima vez que temos aqui um grande drama com pitadas de suspense. E o livro é delicioso de ser lido. Porque realmente Emma consegue nos transportar para o cenário e principalmente para o íntimo de cada personagem. Com isso, é fácil percorrer suas trezentas e cinquenta páginas e se deixar envolver.

Sou imenso apreciador do que chamo de boas histórias bem contadas. E são poucos os livros que conseguem reunir essas duas coisinhas. O Farol foi um deles. Lógico que é a minha percepção e o meu gosto e acredito que muitos leitores não vão apreciar nem um pouco essa obra. Mas eu recomendo muito e vou além dando espaço para meu fascínio com os faróis para recomendar: leiam livros com um farol como elemento importante na história. Até hoje nunca me arrependi (dessas coincidências)!

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A Autora: Emma Stonex nasceu em 1983, cresceu em Northamptonshire, Inglaterra, e trabalhou como editora antes de se dedicar à escrita. Traduzido para mais de vinte idiomas, O farol nasceu da paixão de uma vida inteira da autora por faróis e tudo relacionado ao mar. Hoje em dia, vive em South West com a família.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

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