Sinopse Bertrand Brasil: Entre a vida e a morte, há uma biblioteca… Cada livro oferece uma oportunidade de experimentar outra vida que você poderia ter vivido. Você teria feito algo diferente, se houvesse a chance de desfazer tudo de que se arrepende? (Resenha: A Biblioteca da Meia-Noite – Matt Haig)

Opinião: Em algum momento da vida todos nós já paramos e nos perguntamos “e se eu tivesse feito isso de forma diferente?” ou “e se eu tivesse aceitado?”. Para além dessas perguntas também acumulamos arrependimentos que invariavelmente nos levam para as mesmas divagações… “se eu não tivesse brigado com fulano, talvez isso não tivesse acontecido”. Fato é que, ao longo da vida, nos deparamos com escolhas e tomadas de decisões a cada minuto. E cada decisão leva a um caminho em detrimento de outro. E nós nunca vamos saber como seria se tivéssemos escolhido a outra opção. Mas e se isso fosse possível?

Matt Haig, com toda a sensibilidade que lhe é peculiar em suas obras, nos apresenta uma alternativa para nossos arrependimentos. Para as diversas vidas que nós nunca vivemos porque tomamos outras decisões. Essa alternativa se encontra no limiar entre a vida e a morte. Aquele momento-chave em que estamos a um passo da morte, mas que talvez a vida ainda possa prevalecer. É uma pausa no tempo, em que os relógios se mantêm presos à meia-noite. E tudo acontece dentro de uma biblioteca. Uma infinita biblioteca que guarda infinitos livros e cada um deles reúne nossas muitas vidas. Todas as vidas que não vivemos porque tomamos outras decisões, escolhemos outras carreiras, terminamos ou começamos outros relacionamentos, fizemos a viagem, não demos um telefonema etc. etc. etc.

Essa é a premissa bastante original de A Biblioteca da Meia-Noite, obra em que acompanhamos Nora Seed, 35 anos, carregada de arrependimentos e passando por uma fase delicada onde viver não parece ser mais uma alternativa. Sim, há um claro alerta de gatilho para esse livro porque entrar na biblioteca da meia-noite significa que você desistiu da vida, por conta própria. Nora chegou a esse ponto e com isso, a biblioteca abriu as portas para ela, naquele momento-chave em que ainda havia uma chance de continuar vivendo. E à Nora foi dado o direito de vivenciar muitas das vidas que ela não teve oportunidade de viver porque abriu mão em detrimento de outros caminhos, de insegurança ou falta de fé em si mesma e em sua capacidade.

Cada novo livro aberto por Nora, descortina uma vida que ela poderia ter levado. E é isso, basicamente, que vamos acompanhar durante a leitura de A Biblioteca da Meia-Noite. Mas é preciso enxergar além. À medida que vai vivenciando, e se decepcionando com suas outras possibilidades de vida, Nora vai percebendo que a vida não é perfeita e é impossível encontrar uma que seja. E mais. Ela vai entendendo que muitas vezes nós nos deixamos levar pelas motivações, sonhos e desejos de outros e acabamos por viver a vida que eles queriam. E não a nossa. E o acúmulo de arrependimentos se dá em muitos casos por uma cobrança excessiva que nós nos fazemos sem necessidade.

“Você não precisa entender a vida. Precisa apenas vivê-la.”

A busca de Nora a cada novo livro é pelo rumo certo para sua vida. Mas o que ela vai aprender é que, na verdade, o rumo certo somos nós mesmos quem fazemos no nosso dia a dia. Nessa nossa vida que escolhermos viver, com todas as nossas escolhas. E que, sim, existem dificuldades. Mas que também existem pessoas prontas para estender a mão. Basta pedirmos ajuda no momento certo. E que também não vale nos cobrar tanto e tão excessivamente porque no fim das contas importa mais a jornada em si do que o ponto de chegada. Até porque a linha final é exatamente isso. O fim.

Matt Haig construiu uma grande fábula para dar lições sobre o verdadeiro sentido da vida e, curiosamente, a obra chega ao Brasil no delicado momento da pandemia de Covid-19. O mundo passa por uma fase difícil em que muitas atitudes vêm sendo revistas, questionadas, reavaliadas. Inúmeras vidas foram, e estão sendo perdidas num piscar de olhos por uma doença com rápido potencial de transmissão. E todo esse conjunto exigiu de nós um senso de sociedade, de comunidade, muito grande. Fomos levados ao extremo do isolamento social, da tensão mental, do luto. Acaba sendo muito fácil nos pegarmos nesse jogo de perguntas… “E se…”

A grande questão é que pelos caminhos da vida o importante é viver. E não. Isso não é fácil. Mas a vida ideal, dos sonhos, também não vai acontecer. Esse é o aprendizado de Nora e é isso que acabamos extraindo da leitura. A Biblioteca da Meia-Noite nada mais é do que aquele sacode que levamos, geralmente de uma pessoa muito querida e próxima, para percebermos que depende muito de nós mesmos construirmos o nosso sucesso. Em meio a espinhos, mas que fazem parte da beleza do caminho.

“Não precisamos jogar todos os jogos para saber qual é a sensação de vencer. Não precisamos ouvir cada canção já composta no mundo para entender música. Não precisamos ter experimentado todas as variedades de uvas de todos os vinhedos para sentir prazer com o vinho. Amor, riso, medo e dor são moedas universais.”

De leitura ágil, com capítulos curtos e recheado de frases de efeito e clichês, A Biblioteca da Meia-Noite é um livro agradável e muito necessário. Ele tem um quê de autoajuda, mas isso não é demérito. Porque o conjunto da obra da vida de Nora provoca reflexão em nós, leitores. Faz com que olhemos para nossas próprias vidas e realizemos um balanço. Às vezes é preciso por um pé no freio, desacelerar; outras vezes é preciso confiar mais em nosso potencial. Cada nova vida de Nora traz um mundo de possibilidades e isso mexe com a gente porque nos enxergamos em muita coisa. Faz bem…

“Enquanto estamos vivos, carregamos em nós um futuro de possibilidades multifacetadas.”

Compre na Amazon

Observação: este livro foi lido na edição da TAG Inéditos de Julho de 2021

O Autor: Matt Haig é o autor best-seller internacional de Razões para continuar vivo, Observações sobre um planeta nervoso e seis romances para adultos, incluindo A possessão do Sr. Cave, Como parar o tempo, Os humanos, Os Radley e Sociedade dos pais mortos. Matt também escreve livros premiados para crianças e adolescentes. Vencedor do Prêmio Goodreads de Ficção de 2020, A Biblioteca da Meia-Noite é seu romance mais recente e já vendeu mais de 1 milhão de exemplares no mundo todo.

Compartilhar
Artigo anteriorResenha: Baixo Esplendor – Marçal Aquino
Próximo artigoResenha: Enquanto Eu não Te Encontro – Pedro Rhuas
Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

Deixe uma resposta