Resenha: O Portador – Sophie Hannah

Sinopse Rocco: Neste livro a autora britânica traz de volta seus personagens mais populares, o detetive circunspecto Simon Waterhouse, conhecido como “capaz de acreditar no inacreditável” e sua esposa e ex-sargento da polícia, a mordaz Charlie Zailer. Simon está envolvido no caso de Tim Breary, réu confesso do assassinato de Francine Breary, sua mulher. E a contragosto, Charlie também se envolve no caso. Tim afirma ter matado sua esposa, todas as testemunhas presentes na casa no momento do crime confirmam essa informação e ele forneceu provas do crime. Mas mesmo assim, Simon tem suas dúvidas e quando descobre que foi manipulado pelo seu chefe, essas dúvidas passam a uma quase certeza. Tim não tem um motivo e nem ideia de porquê matou Francine. Mas como provar que o assassino que já confessou não é o assassino? Gaby Struthers, milionária e apaixonada por Tim, não tem essa dúvida. Para ela Tim, por mais estranho que seja, é incapaz de ferir alguém. E vai fazer de tudo para provar isso. Simon, Gaby e Charlie trabalham juntos em diferentes frentes para provar inocência de Tim e descobrir porque todos estão mentindo. (Resenha: O Portador – Sophie Hannah)

Opinião: Sophie Hannah vem sendo aclamada por suas obras, conquistando inúmeros prêmios, dominando listas de mais vendidos e conseguindo autorização da família de Agatha Christie para escrever histórias com o detetive Poirot. Acho que tudo isso dispensa qualquer comentário que possa ser feito como apresentação de uma autora que eu conhecia de nome, mas somente agora, com O Portador, pude conhecer de fato, ao literalmente me entregar à uma obra sua.

O Portador é um suspense em que a descoberta de quem é responsável pelo assassinato de uma milionária presa à cama, vítima de um AVC, talvez seja o menos importante dos mistérios. O que ronda de verdade as páginas do livro é entender porque o marido da falecida, Tim Breary, assumiu a autoria do crime, mesmo não conseguindo fornecer nenhum motivo para as autoridades. Há tramas paralelas que vão sendo desenvolvidas e que se juntam para inocentar Tim e, aí sim, chegar ao nome do verdadeiro culpado. Um quebra-cabeças intrincado e bem elaborado em que os personagens são muito bem construídos, em detalhes capazes de torna-los tão reais quanto eu e você.

O livro é protagonizado pelo casal de detetives Simon e Charlie, e fica óbvio para leitores de primeira viagem, como eu, que existe já uma boa história construída por ambos em obras anteriores. Nada disso prejudica, contudo, a leitura. É uma história independente, apenas há detalhes e características que deixam claro que provém de um passado já apresentado aos leitores. Para além deles, os demais personagens são complexos, misteriosos, com mágoas e segredos, e muitas e boas doses de reflexões que são minuciosamente esmiuçadas pela autora. É uma construção delicada e cuidadosa de um cenário que lá no fim vai mostrar que nada foi escrito por acaso.

As qualidades da narrativa de Sophie Hannah que conquistaram minha atenção logo de cara se deram em um aeroporto. A personagem Gaby e sua epopeia aérea para chegar em casa passando por entreveros com Lauren rendeu as sequências que não só me prenderam, por perceber que ali nascia o DNA do mistério do livro, como renderam boas gargalhadas. O senso de humor e excentricidade pula dos capítulos e se converte em risos. É humor sagaz e inteligente. Contudo, essas mesmas qualidades fizeram com que vencer as quase quatrocentas e cinquenta páginas de tornasse um desafio de Hércules para mim. Porque a narrativa é densa demais, com um excesso de detalhamento e pensamentos aleatórios dos personagens que nos faz divagar e perder completamente o interesse. Sophie conseguiu tanto prender quanto afugentar a minha atenção.

A trama de O Portador é tão minuciosamente pensada e escrita em meio a um labirinto de ações, lembranças, investigações e segredos que acabou se tornando rapidamente enfadonha. Na mesma medida em que me conquistou logo nas primeiras páginas, ela me afastou na continuação, e foi difícil conseguir se reconectar em meio ao excesso de acontecimentos e nenhuma ação que desse fôlego ou revivesse a empolgação inicial. Há muito de investigação psicológica dos personagens e de motivações que expliquem seus atos, características do passado, enfim… Sophie pensa de forma muito densa a história e isso exige uma entrega total dos leitores. Não rolou comigo. Ainda mais porque sou da turma dos thrillers de mais ação, mais mistérios e muitas reviravoltas.

O Portador se mostrou um livro mais complexo do que eu imaginava e acabou não conquistando minha simpatia. É uma leitura para quem curte mergulhar na essência de cada personagem e a partir disso ir destrinchando a história. Repito, é denso e lento. Não flui rapidamente e não é um livro que você devora em poucos dias, pelo contrário. Vale para quem curte um quebra-cabeças psicológico.

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A Autora: Sophie Hannah poeta e romancista britânica, tem sua obra publicada em 32 línguas. Uma de suas coletâneas de poemas foi escolhida pela Poetry Book Society como uma das obras de referência da nova geração de poetas britânicos. Autora de livros infantis, contos e romances, Hannah é apaixonada pelos livros policias desde os 13 anos de idade e foi inspirada por Hercule Poirot e Miss Marple, famosos personagens de Agatha Christie. Recebeu indicação para o prêmio TS Eliot (2007) por uma de suas coletâneas de poesia e foi vencedora do primeiro Festival de Contos Daphne Du Maurier por sua história de suspense psicológico “The Octupus Nest”.  Um de seus romances, The Point of Rescue (2008), foi adaptado para uma série televisiva cuja primeira exibição teve mais de 5 milhões de telespectadores.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

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