Sinopse HarperCollins: A humanidade quase teve um fim em um conflito nuclear e biológico chamado de Guerra dos Sessenta Minutos. O mundo virou um descampado, a tecnologia foi praticamente extinta e todos os esforços humanos se voltaram para um único objetivo: fazer suas cidades sobreviverem. Para isso, elas precisam se mover, se tornando Cidades de Tração, para se afastar da radioatividade e doenças. Londres é uma grande cidade e está sempre em busca de novas cidades para se alimentar, como dita o Darwinismo Municipal: metrópoles consomem as cidades menores, que consomem vilarejos e assim por diante… (Resenha: Máquinas Mortais – Philip Reeve)

Opinião: Os avanços tecnológicos sempre são vistos com ressalvas e geram indagações e reflexões poderosas na literatura. Desde os robôs sentimentais de Azimov, passando por gerações de autores, até o alvorecer do século XXI com seu apogeu do domínio da tecnologia, a literatura se debruça sobre os reais benefícios da nossa evolução. Publicado em 2001, Máquinas Mortais, de Philip Reeve, não foge à regra e traz uma visão pouco inovadora nas entrelinhas, mas extremamente original em seu argumento.

No futuro imaginado por Reeve, o mundo como o conhecemos já muito sucumbiu ao poderio nuclear. Restou às pessoas buscar a sobrevivência em cidades que se movimentam, as Cidades de Tração. Gigantescas máquinas sobre rodas que abrigam em incontáveis andares os níveis sociais, administrativos e culturais de uma cidade como outra qualquer. O futuro verticalizou e deu movimento aos aglomerados urbanos e os transformou em “animais” sempre em busca de lugares menores para “devorar” e aumentar suas riquezas ou capacidade de sobrevivência. Em síntese, povoados, aldeias, vilas, cidadelas e metrópoles passaram a se movimentar pela terra arrasada dos continentes e destruir umas às outras. Uma visão bem original e apresentada com pesadas críticas ao nosso comportamento enquanto sociedade “fixa” dos dias de hoje.

A partir desse cenário original e bem diferente do que vemos comumente na literatura, Máquinas Mortais não foge à regra na composição de seus personagens. O casal de protagonistas, Tom e Hester, são órfãos que sofreram na pele as consequências da ganância, da exploração e de pertencer a uma classe inferior. Ao se encontrar para dar vida ao enredo do livro, ambos são movidos por objetivos bem distintos. Tom é um aprendiz de Londres que aparentemente espera apenas ser bem-sucedido na carreira de historiador. Hester é uma garota movida por vingar a morte dos pais. Juntos, os dois vão descobrir que o mundo sobre rodas não é muito diferente dos diversos mundos possíveis, e que as pessoas nem sempre são dignas de confiança, por mais simpáticas que possam parecer.

Com um enredo recheado de aventuras, suspense e boas cenas de ação, Máquinas Mortais novamente foge à regra ao desenvolver seu conjunto de personagens e tramas paralelas sem nenhum compromisso com finais felizes ou com estereótipos. Nenhum dos personagens, a começar pelos protagonistas, são os modelos que estamos acostumados. Não há beleza, coragem, atos heroicos ou casais apaixonados. O mundo é frio e a realidade é dolorosa. Mortes acontecem sem piedade, contudo a capacidade de mudar, se arrepender ou tomar atitudes corretas é valorizada a todo momento. Com isso, nenhum personagem é realmente mocinho ou vilão. Todos estão sujeitos a todo o tipo de atitude. Como qualquer um de nós.

Impulsionado por uma adaptação aos cinemas pelas mãos de Peter Jackson (de O Senhor dos Anéis), Máquinas Mortais tem todos os ingredientes, clichês e originais, para cair no gosto de leitores e cinéfilos. De linguagem leve e leitura fluida, o livro é uma excelente abertura de série – são quatro obras ao todo. Fãs de ficção científica steampunk provavelmente vão se deliciar com a história. Ao fim, a reflexão e a conclusão, são inevitáveis…. Nem sempre evolução é sinônimo de melhorias. Fixos ou sobre rodas, jamais teremos futuro se a essência humana não falar mais alto em meio a tantas ambições desmedidas e pouco caso com tudo o que nos rodeia.

Avaliação: 5 Estrelas

O Autor: Philip Reeve é escritor e ilustrador. Seu primeiro livro da tetralogia Máquinas mortais foi finalista do Whitbread Book Award (hoje, Costa Book Awards) e em breve chegará às telas dos cinemas com uma megaprodução de Peter Jackson. Reeve vive em Dartmoor com a esposa, Sarah, e o filho, Samuel.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

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