Sinopse Suma: Em um futuro não muito distante, um simples procedimento cirúrgico é capaz de aumentar a empatia entre os casais, e ele está cada vez mais na moda. Por isso, Briddey Flannigan fica contente quando seu namorado, Trent, sugere que eles façam a cirurgia antes de se casarem — a ideia é que eles desfrutem de uma conexão emocional ainda maior, e que o relacionamento fique ainda mais completo. Bem, essa é a ideia. Mas as coisas acabam não acontecendo como o planejado: Briddey acaba se conectando com outra pessoa, totalmente inesperada. Conforme a situação vai saindo do controle, Briddey percebe que nem sempre muita informação é o melhor, e que o amor — e a comunicação — são bem mais complicados do que ela esperava. (Resenha: Interferências – Connie Willis)

Opinião: A evolução das formas de comunicação mudou pra caralho nosso jeito de interagir tanto com amigos quanto no trabalho. A qualquer momento é possível falar com quem quisermos através de mensagens, ligações, aplicativos de bate-papo e dezenas de outras possibilidades. Há situações de emergência e necessidade em que as conexões literalmente salvam a vida. E há situações em que exageramos na impaciência do uso dessas conexões. Para o bem e também para o mal, nossa vida é totalmente dependente dessas ferramentas e é quase impossível abdicar do seu uso.

Connie Willis decidiu brincar com o avanço sem fim das formas de comunicação. Em Interferências, ela imagina uma sociedade em que é possível conectar os casais através de uma cirurgia no cérebro, o EED. Ao passar por esse procedimento, os casais sentem-se mais próximos e conseguem sentir o amor fluir de um para o outro. Quase uma telepatia… E quando o casal protagonista decide estreitar seus laços fazendo o tal EED e as coisas não saem como planejado. Bom, aí só lendo o livro para vocês descobrirem a loucura que a vida pode se transformar.

Interferências é um livro leve, envolvente e com uma linguagem maravilhosa e fluida. Com um jeitão descontraído e excedendo bom humor, Connie Willis desenvolve uma história que no fundo não passa daquele tradicional romance entre o nerd desajustado e a mocinha protagonista. Mas esse clichê que pode irritar alguns leitores esconde boas doses de senão crítica, pelo menos alerta social. A obra deixa claro os excessos da comunicação e como saber tudo sobre todos pode não ser o caminho ideal para uma vida melhor.

A comunicação sem fim vivida pelos personagens na primeira parte do livro, em que tudo é cobrado numa velocidade absurda é engraçada, mas também chocante porque exageradamente ela mostra como está a nossa vida hoje. A dependência das mensagens e aplicativos faz com que nos irritemos com uma demora de menos de cinco minutos para obter uma resposta. Algumas situações vividas por Briddey são enlouquecedoras e sua família é uma hipérbole do que acontece com muitos de nós. Quem ler o livro vai se identificar na hora.

Por ser uma obra extensa – são mais de quatrocentas páginas, Interferências acaba se arrastando em alguns pontos, principalmente na segunda parte da história. Diversas situações meio que se tornam repetitivas e não seria prejuízo nenhum se a autora tivesse suprimido muitos dos capítulos em torno da confusão em que se encontram os personagens. Contudo, a diversidade desses personagens e seus estilos cômicos e paranoicos, que nos cativam facilmente, acaba compensando os trechos mais lentos.

Mesmo tendo em mãos uma temática que permitia ir bem além e produzir uma grande obra de ficção científica, é fato que Connie Willis optou por entregar aos seus leitores um livro mais leve e descompromissado. Interferências é uma leitura para divertir e lá no fundo provocar um certo incômodo em nos imaginarmos em situações semelhantes. Vale a pena e vocês não vão se arrepender.

Avaliação: 4 Estrelas

A Autora: Connie Willis faz parte do panteão de grandes autores de ficção científica e fantasia, e já recebeu sete prêmios Nebula e onze prêmios Hugo, os mais importantes do gênero. Seus trabalhos mais conhecidos se passam no mundo dos historiadores de Oxford – O livro do juízo final é o primeiro deles. Atualmente ela vive no Colorado, com a família.

2 COMENTÁRIOS

    • NÃO LEIA – SPOILER

      Ei Sul… O que exatamente você não entendeu? O final é irônico e com uma pegada de humor bem no que foi o livro inteiro, no sentido de que no fim das contas quase a família toda dela era telepata também.

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