Sinopse Suma de Letras: Merricat Blackwood vive com a irmã Constance e o tio Julian. Há algum tempo existiam sete membros na família Blackwood, até que uma dose fatal de arsênico colocada no pote de açúcar matou quase todos. Acusada e posteriormente inocentada pelas mortes, Constance volta para a casa da família, onde Merricat a protege da hostilidade dos habitantes da cidade. Os três vivem isolados e felizes, até que o primo Charles resolve fazer uma visita que quebra o frágil equilíbrio encontrado pelas irmãs Blakcwood. Merricat é a única que pressente o iminente perigo desse distúrbio, e fará o que for necessário para proteger Constance. (Resenha: Sempre Vivemos no Castelo – Shirley Jackson)

Opinião: Sempre Vivemos no Castelo é uma obra que certamente vai dividir opiniões. E por causa de uma característica bem peculiar: a sutileza com que a história foi construída. Sendo assim, teremos leitores apaixonados e leitores que vão odiar o livro, sem chances para meio-termo. Sua autora, Shirley Jackson, ainda é desconhecida do público brasileiro, tendo somente uma obra publicada por aqui e assim mesmo há anos fora de catálogo. Portanto não é exagerado dizer que estamos começando a desbravar as características que fizeram dela uma das mais importantes autoras dos EUA no século passado. Nada mais apropriado, então, do que esse começo se dar por este livro recheado de características capazes de angariar, ou não, uma legião de fãs.

É preciso dizer logo de cara que a narrativa de Shirley Jackson é envolvente. Mesmo não tendo nenhum mistério que nos faça prisioneiros da leitura, simplesmente não conseguimos parar de ler. As páginas fluem e vão nos convidando a prosseguir até que num piscar de olhos já nos vemos diante do fim. O poderoso parágrafo inicial não faz rodeios e já dá o tom do tipo de história que temos pela frente. Aliás, característica comum na obra da autora, seus começos de livro são considerados os mais vigorosos de toda a literatura.

A partir desse parágrafo marcante de abertura, somos levados pela narração em primeira pessoa de Merricat Blackwood, uma protagonista fascinante, recheada de mistérios e características bizarras. Entendê-la é fundamental para compreendermos a complexidade do macabro que se esconde por trás da história de sua família. Vivendo com a irmã mais velha, Constance, e o tio idoso, Julian, completamente isolados do mundo exterior, a não ser por pequenas incursões dela ao vilarejo próximo para comprar alimentos, Mary é alguém para nos afeiçoarmos e detestarmos na mesma proporção.

Por trás da rotina bizarra desses três membros da família Blackwood paira um segredo, a todo momento citado e que somente próximo do fim do livro vai ser esclarecido. Embora possa ser apontado como o mistério da obra, à medida que avançamos na leitura, percebemos que tudo ao redor desses personagens é estranho demais e é isso que nos fascina e apavora. O terror de Shirley Jackson não se utiliza de fantasmas ou criaturas diabólicas, mas sim de pessoas muito vivas. É um livro que narra como uma casa e seus moradores se tornam assombrados aos olhos do mundo exterior.

Através de imagens fortes e cenas chocantes, narrados a partir de oitavo capítulo, de diálogos surreais que acontecem ao longo de todo o livro, e principalmente pela fala final que encerra a obra, percebemos o horror que toda a sutileza narrativa da autora esconde. Não é uma história que te assusta a cada parágrafo. É preciso penetrar em sua essência e enxergar além dos devaneios da narradora, para nos assombrarmos com sua insanidade.

Conhecer os Blackwood é uma experiência imperdível. Mesmo que num primeiro momento a história não te atraia, faça uma releitura e mergulhe nos relatos de Merricat quantas vezes for preciso. Deixe-se levar por Shirley Jackson com toda sua sutileza, vigor, humor e tom macabro. Certamente você terá uma nova autora favorita na estante.

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Da Autora leia também:

Sempre Vivemos no Castelo

A Assombração da Casa da Colina

O Homem da Forca

A Loteria e outros contos

A Autora: Shirley Jackson nasceu em San Francisco, Califórnia, em 1916, e faleceu em 1965. Uma das principais autoras americanas do século XX, influenciou escritores como Stephen King, Donna Tartt, Neil Gaiman e Richard Matheson. Sua obra é leitura obrigatória em diversas escolas dos Estados Unidos, e seu trabalho é aclamado por público e crítica.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

2 COMENTÁRIOS

  1. Vou discordar de você sobre o ponto de “amar ou odiar, não tem meio termo”, porque eu amei o livro, mas odiei o final. Pra mim ele carece de finalização. E é fácil sacar a verdadeira culpa pelo assassinato que paira sobre as irmãs, qualquer leitor atento saca rápido.

    A construção das personagens é fantástico, Shirley escreve com maestria, mas me pareceu que faltou uma parte do livro: o final.

    • Ei Caio, blza? De fato, entendo o que você quer dizer com o “faltou o final”. Eu curti muito a forma como a Shirley deu o desfecho, mas ele vem de forma muito brusca e largando uma ironia solta no ar. Fica fácil a percepção de que poderia ter sido melhor desenvolvido, até se compararmos com o conjunto da narrativa.

      Valeu sua visita e comentário e vamos torcer para outras obras dela chegarem logo ao Brasil. Acho que ainda temos bastante coisa a explorar. 😉

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