Sinopse DarkSide: Victor é um cientista que dedica a juventude e a saúde para descobrir como reanimar tecidos mortos e gerar vida artificialmente. O resultado de sua experiência, um monstro que o próprio Frankenstein considera uma aberração, ganha consciência, vontade, desejo, medo. Criador e criatura se enfrentam: são opostos e, de certa forma, iguais. Humanos! (Resenha: Frankenstein – Mary Shelley)

“Como se atreve a brincar com a vida?

Opinião: Frankenstein, ou o Prometeu Moderno é uma daquelas obras que sobrevivem aos séculos e se mantém atuais não importa a época em que sejam lidas. Marco do horror moderno e um dos primeiros grandes livros de ficção científica da história, o livro extrapola os costumes literários do século XIX, e quase soa profético ao retratar a busca de um homem em vencer a morte gerando a vida em laboratórios.

Victor Frankenstein é um jovem suíço cuja família tem boas condições financeiras. Decidido a ampliar seus horizontes do conhecimento, ele parte para a Bavária em busca de contato com mestres do saber e suas pesquisas. É aí que se dedica a animar tecidos mortos e, após longos meses de trabalho, criar a vida humana dentro de seu laboratório. O resultado é uma criatura monstruosa, com dois metros e meio de altura, e que aterroriza o próprio Victor no exato momento em que abre os olhos pela primeira vez. Começa então a sina do criador em embate com sua criatura, ou vice-versa, numa narrativa em que o horror e a tragédia só crescem.

Escrita na segunda metade do século XIX, esta obra reflete a linguagem literária da época, o que pode frustrar alguns leitores que se levaram pelo marketing de que era um livro sanguinário, com cenas aterradoras. Longe disso, é preciso muita perspicácia para dimensionar o horror descrito nestas páginas. Costumo dizer que não precisamos de fantasmas ou banho de sangue para termos um livro de terror, e Frankenstein é um excelente exemplo disso. O tormento vivido por Victor e todos os infortúnios gerados a partir de sua ambição compõe o cenário de horror e de reflexão, pois como disse anteriormente, esta é uma obra bastante atual.

Victor buscava aquilo que ainda hoje nossa ciência tenta encontrar, a fórmula que fará o homem vencer a morte. Quantas vezes pelas décadas a fora, incluindo hoje, nossos cientistas não se fixaram nessas mesmas tentativas de gerar a vida dentro de laboratórios? E a questão central que Mary Shelley aborda é o resultado dessas pesquisas. Victor gerou algo monstruoso, abominável e, horrorizado, abandonou-o à própria sorte. Muito tempo depois criador e criatura se encontram e no diálogo que travam, o monstro conta suas desventuras numa das melhores e mais emblemáticas sequências de todo o livro.

“Seria o homem, ao mesmo tempo, de fato tão poderoso, virtuoso e magnífico e, no entanto, tão vicioso e desprezível? ”

Ao tentar criar a vida num tubo de ensaio, não há a preocupação com o que será feito dessa vida caso ela vingue. A criatura monstruosa de Victor, não deixa de ser humana, apesar da aparência que lhe foi conferida por seu criador. Ao encontrar desprezo e abominação por onde passa, ela se volta contra seus “semelhantes”, afinal, como esperar boas ações de quem só recebeu a maldade? E aí ficamos com um questionamento difícil de responder: quem é o verdadeiro monstro nesta história? A criatura com sua monstruosidade que lhe foi dada, ou o criador que gerou esta aberração e a largou vagando por um mundo que lhe era estranho?

Inconformado com a mortalidade, o homem sempre se deixou seduzir pela ambição de vencer este obstáculo. Ler Frankenstein é mergulhar nos tormentos de uma mente humana que levou a cabo essa missão. Uma obra vigorosa, atual, e que deixa claro que não é possível fugir das consequências dos nossos atos. Eles sempre estarão nos perseguindo…

Avaliação: 5 Estrelas

A Autora: Mary Shelley nasceu em Londres, em 1797. Além de Frankenstein, romance gótico fundamental na história do horror moderno e um dos livros fundadores da ficção científica, Mary Shelley escreveu contos, ensaios e romances entre os mais diversos gêneros como Valperga (1823), O Último Homem (1826), Lodore (1835), entre outros. Faleceu em Londres em 10 de fevereiro de 1839.

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