Sinopse Intrínseca: Ambientada nos anos 1840, quando os altos escalões da sociedade londrina começam a conviver com a classe industrial emergente, e com um riquíssimo rol de personagens, a saga de Belgravia tem início na véspera da Batalha de Waterloo, em junho de 1815. Um único acontecimento nessa noite afetará drasticamente a vida de todos os envolvidos. Passados vinte e cinco anos, as consequências de atos daquela noite ainda são marcantes, e ficarão cada vez mais enredadas na intrincada teia de fofocas e intrigas que fervilham no interior das mansões da Belgrave Square. (Resenha: Belgravia – Julian Fellowes)

Opinião: Bruxelas, 1815. A Duquesa de Richmond concede, em sua residência, um baile em homenagem ao Duque de Wellington, às vésperas da famosa Batalha de Waterloo, que selou o destino de Napoleão. O fato, real, é o ponto de partida para o desenvolvimento de um romance histórico de primeira grandeza com as qualidades literárias de um dos melhores autores do gênero, na minha opinião.

Belgravia tem dois núcleos de personagens cujas histórias se entrelaçam para compor a trama. De um lado a família Trenchard, comerciantes cujo patriarca, James, busca avidamente a ascensão social e o reconhecimento nos círculos nobres. De outro, Lady Caroline, a Condessa de Brockenhurst, uma mulher enlutada pela perda do filho em Waterloo que endureceu seu coração para o mundo. O elo que vai unir classes sociais tão distantes para a época é o fato da filha dos Trenchard, Sophia, ter se envolvido amorosamente com o falecido herdeiro de Caroline.

O drama ao qual os personagens vão se submetendo no decorrer da história é bem clichê, mas isso não diminui em nada as qualidades da obra. Julian Fellowes tem um talento ímpar para não somente descrever cenas e personagens, mas para nos transportar para o ambiente em que tudo se desenrola. Em poucas páginas já conseguimos facilmente nos sentir dentro dos cenários e íntimos das aflições e sentimentos de cada personagem. Sua narrativa nos faz ser depositários de segredos e confidentes de angústias. A maior qualidade de Belgravia é nos transformar em testemunhas oculares da vida daquelas famílias e nos deixar órfãos quando a última página é virada.

As mulheres de Belgravia são fortes, determinadas, extremamente bem construídas. Anne Trenchard nos conquista com sua simplicidade e praticidade. Ela é condescendente e entende as ambições do marido. Mesmo não concordando com a necessidade do reconhecimento social, ela participa de todas as situações em que sua presença é necessária. Arrisco dizer que Anne é a grande protagonista da história e que desempenha um papel de pilar, sustentando a honra de todas as demais famílias da obra.

Lady Caroline, que em alguns raros momentos de complôs e intrigas acabei associando à Condessa de Grantham (personagem de Maggie Smith em Downton Abbey), é a perfeita representação da nobreza. Uma mulher de poucos sorrisos, esnobe, preocupada com a posição social e sempre propensa a diminuir as classes inferiores.

Orbitando ao redor dessas figuras, temos os familiares (filhos, noras, amigos, cunhados, sobrinhos) que vão tecendo os suspenses necessários para que a grande questão da obra seja resolvida. E como não poderia faltar, o núcleo dos empregados com fofocas e intrigas num mesmo estilo de criação que, novamente, vai nos remeter à Downton Abbey.

Belgravia é uma história sobre ambição. Em maior ou menor grau, todos os personagens são movidos por atos de ambição: ascensão social, dinheiro, poder, reconhecimento… A mistura de todas essas características resulta em uma das melhores publicações do ano. Que venham mais livros de Julian Fellowes em 2017!

Avaliação: 4 Estrelas

O Autor: Julian Fellowes é ator, escritor, diretor e produtor de cinema e tv, autor de dois romances e mestre em literatura pela Magdalene College, em Cambridge. Julian Fellowes é o criador da aclamada série de TV Downton Abbey, que também roteirizou e produziu e pela qual recebeu três prêmios Emmy. No cinema, recebeu o Oscar de melhor roteiro original por Assassinato em Gosford Park (2002) e prêmios do Writer’s Guild of America, do The New York Film Critics Circle e da National Society of Film Critics. Natural do Cairo, no Egito, e criado em Londres, Jullian Fellowes recebeu em 2011 o título de Barão Fellowes de West Stafford, tornando-se par vitalício do Pariato do Reino Unido e passando em seguida a integrar a Câmara dos Lordes. Atualmente mora com a esposa, Emma, parte do tempo em Dorset e parte em Londres.

 

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

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