Sinopse Companhia das Letras: O narrador deste livro é nada menos do que um feto. Enclausurado na barriga da mãe, ele escuta os planos da progenitora para, em conluio com seu amante — que é também tio do bebê —, assassinar o marido. Apesar do eco evidente nas tragédias de Shakespeare, este livro de McEwan é uma joia do humor e da narrativa fantástica. Em sua aparente simplicidade, Enclausurado é uma amostra sintética e divertida do impressionante domínio narrativo de McEwan, um dos maiores escritores da atualidade. (Resenha: Enclausurado – Ian McEwan)
Opinião: Tragédia e comédia se dão as mãos para refletir sobre as frustrações do mundo adulto na visão de um… feto! Em Enclausurado, Ian McEwan subverte a ordem narrativa para dar voz, mordaz, sarcástica e refinada, a um bebê que, da barriga da mãe, acompanha o que o espera quando vier ao mundo.
De clara inspiração shakespeariana, Enclausurado traz nítidas semelhanças com Hamlet não só nos nomes dos personagens quanto na síntese da trama: um tio que se une à cunhada para assassinar o irmão/marido. E quem nos conta tudo isso é o bebê-narrador, dotado de uma sabedoria assustadora, adquirida através de tudo que é lhe é possível: notícias entreouvidas no rádio, podcasts consumidos pela mãe e, como se trata de uma ficção despretensiosa, de tudo o mais que não interessa aos leitores. Aliás, a nós cabe apenas acompanhar seu raciocínio e angústia ao ver sua mãe tramar a morte do pai.
Conseguindo perceber todos os sentimentos e pensamentos de sua mãe, o bebê é a testemunha das maquinações dela com o cunhado para assassinar seu pai e herdar sua fortuna. Assim, ele vive na angústia do que fazer… Deve intervir e tentar salvar seu pai? Ou aguardar o nascimento e promover uma vingança posterior? Mas em se tratando da assassina ser sua própria mãe, como equilibrar o amor com o ódio? Apesar da temática soar grave, Ian McEwan passa longe da seriedade e constrói um livro divertido e leve. Sobra bom humor nos raciocínios do bebê e a fina ironia britânica salta das páginas para arrancar deliciosos sorrisos ao longo da leitura.
O livro não se furta a trazer comentários sobre a situação geral do mundo. Diversas são as passagens em que problemas climáticos, econômicos e de guerras ganham não só reflexões como boas análises pelo nosso divertido narrador. Mais pelo lado pessoal do futuro habitante do planeta, o bebê já sofre as consequências da violência dentro de sua própria casa, afinal, ele sente de perto a trama maquiavélica movida pela ambição financeira que vai culminar em uma morte. Ah, e ainda recebe boas doses de violência de uma mãe que bebe, mesmo estando às portas do parto, e não vê nenhum problema em fazer sexo com o cunhado em algumas das passagens mais hilárias da história.
Aos que buscam a densidade narrativa de obras como Reparação ou A Balada de Adam Henry, vão encontrar um McEwan muito mais “descolado” neste livro, pendendo mais para um Amsterdam. Contudo, a qualidade de sua prosa continua impressionante e envolvente, fazendo jus ao já quase clichê que o aponta como um dos melhores escritores da atualidade.
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Sua obra é famosa pelo realismo psicológico, com rigor de detalhes e clima ameaçador, explorando com frequência temas complexos como escolha ética, decisões difíceis e circunstâncias extraordinárias.