Sinopse Record: Quando um jovem é encontrado brutalmente assassinado em seu barco em Londres, questões são levantadas a respeito de três mulheres que o conheciam. Uma jovem problemática, uma vizinha bisbilhoteira, uma tia enlutada: quando se trata de vingança, até pessoas boas são capazes de cometer atos terríveis. Por quanto tempo os segredos podem queimar em fogo lento até explodir em chamas incontroláveis? (Resenha: Em Fogo Lento – Paula Hawkins)

Opinião: Diferente de uma boa maioria de autores que quando estreiam com sucesso imediatamente saem escrevendo sem fim e publicando quase um livro por ano, Paula Hawkins parece amadurecer muito bem suas ideias antes de colocá-las no papel. Isso pode explicar o porquê de ela “ainda” estar em seu terceiro livro, enquanto muitos outros já despejaram coisas boas e desprezíveis nos leitores. Grandes obras do suspense de autores que vem se consagrando nos últimos tempos, de fato, não tem vindo rapidamente. Todos eles possuem um bom intervalo entre um livro e outro.

Aos que se encantaram com A Garota no Trem e depois notaram uma mudança total na construção de Em Águas Sombrias, já adianto logo nesse começo que Em Fogo Lento tem uma pegada totalmente diferente de seus sucessores. Pois é, meus amigos, Paula Hawkins parece seguir explorando novas possibilidades dentro do suspense e dentro da sua forma de contar uma história. E este livro é um daqueles que deve causar os dois sentimentos mais opostos possíveis: ou você vai amar ou você vai odiar. Embora eu ache que haja um bom espaço para o meio termo.

Em Fogo Lento é um livro que remete aos clássicos do suspense, de Agatha Christie a Conan Doyle. E é um clássico suspense inglês para ninguém botar defeito. Um crime, vários suspeitos, algumas poucas pistas e muita gente falando, opinando, fofocando e, principalmente, escondendo segredos. Embora tudo esteja sendo investigado, nós não vamos ter a figura do detetive. Aqui, cabe a nós mesmos ir juntando as peças e, justiça seja feita, há uma simpática velhinha que nos ajuda nessa tarefa. De resto, a história se concentra em narrar e analisar cada personagem, cada segredo guardado, cada mágoa não superada e cada oportunidade de vingança que a vida proporcionou.

Em Fogo Lento tem qualidades de construção a perder de vista. Hawkins mergulhou no íntimo de cada personagem e esmiuçou tudo que poderia colocá-los na condição de assassino. Lembrem-se, tratam-se de pessoas comuns, sem fichas criminais ou motivações aparentes. Mas também há um ditado que diz que a ocasião faz o ladrão. Poderia fazer também o assassino? E haveria no mundo um motivo forte o suficiente para fazer alguém abandonar seu estilo de vida “de pessoa de bem” para matar? Essa é a pergunta-chave que o livro responde.

Ao se debruçar sobre seus personagens, Em Fogo Lento, perdoem o trocadilho, acaba se tornando um livro extremamente… Lento! Avançamos os capítulos e absolutamente nada acontece que nos faça, pelo menos, piscar os olhos e endireitar o corpo na cadeira. É um suspense muito devagar porque é concentrado unicamente nas narrativas de vida de seus personagens. Sem cenas de ação, sem reviravoltas e sem muitas surpresas. E digo isso porque até mesmo a revelação do nome do assassino passa linearmente dentro do que estamos lendo. Não surpreende tampouco causa comoção. É aquele quebra-cabeças em que vamos apenas encaixando as peças sem nenhuma pressa para terminarmos.

Há muitas doses de drama, tragédia pessoal e personagens cujos caminhos se cruzam para justificar o porquê de estarem todos nessa história? Sim, e a autora amarra todas as pontas e satisfaz os mais exigentes por explicações detalhadas. Há também recursos narrativos dispensáveis? Do meu ponto de vista, os trechos de um livro escrito por um personagem (e que estão mais ou menos ligados à história) ficaram meio soltos e não acrescentaram nada de mais à história. E, por fim, há a qualidade de uma autora que sabe contar bem suas histórias, mesmo que esteja num terreno que eu considero totalmente novo ao comparar com seus livros anteriores.

Minha impressão final é que Em Fogo Lento é ótimo suspense, mas que deixa um gostinho estranho na boca. É impossível classificá-lo como um excelente livro de leitura obrigatória porque é preciso muita paciência para vencer o marasmo de seus capítulos. Não são todos os leitores que vão conseguir chegar ao fim. Por outro, a qualidade da construção dos personagens a serviço de mostrar que todos podemos nos tornar criminosos, basta sermos tocados certeiramente na ferida, é muito boa. Cada personagem do livro foi apresentado de forma exemplar e é muito fácil entendermos cada um deles. Há muito drama de vida nessas páginas. Essa qualidade é insuperável.

Em seu terceiro livro, Paulo Hawkins mostra que não tem medo de se lançar a novas formas de contar seus mistérios. Em Fogo Lento é um livro de personagens e ponto. Sobram pessoas com suas vidas, segredos e mágoas e falta ritmo e velocidade. É um suspense meio-termo. Longe de ser um desastre, mas bem distante de ser um sucesso.

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Em Fogo Lento

Em Águas Sombrias

 

A Autora: Paula Hawkins trabalhou como jornalista freelancer por 15 anos antes de se voltar para a ficção. Nascida e criada no Zimbábue, Paula se mudou para Londres em 1989 e mora na cidade desde então. Seu primeiro suspense psicológico, A garota no trem, foi um fenômeno global, vendendo 23 milhões de exemplares em todo o mundo. Publicado em mais de 40 idiomas, o livro foi best-seller em todos os países onde foi lançado, inclusive no Brasil, e virou um filme de sucesso com a atriz Emily Blunt no papel principal. Em águas sombrias, seu segundo suspense psicológico, também foi best-seller internacional, figurando por quase dois anos na lista de livros mais vendidos do Sunday Times.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

1 COMENTÁRIO

  1. Concordo! Fiquei esperando o marido de Irene ser o Jeremy – pra ter um momento WOW no livro e nem assim. Ainda não consegui associar o Jeremy a toda a história :/

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