Sinopse Rocco: Zélie Adebola se lembra de quando o solo de Orïsha vibrava com a magia. Queimadores geravam chamas. Mareadores formavam ondas, e a mãe de Zélie, ceifadora, invocava almas. Mas tudo mudou quando a magia desapareceu. Por ordens de um rei cruel, os maji viraram alvo e foram mortos, deixando Zélie sem a mãe e as pessoas sem esperança. Agora Zélie tem uma chance de trazer a magia de volta e atacar a monarquia. Com a ajuda de uma princesa fugitiva, Zélie deve despistar e se livrar do príncipe, que está determinado a erradicar a magia de uma vez por todas. O perigo espreita em Orïsha, onde leopanários-das-neves rondam e espíritos vingativos aguardam nas águas. Apesar disso, a maior ameaça para Zélie pode ser ela mesma, enquanto se esforça para controlar seus poderes — e seu coração. (Resenha: Filhos de Sangue e Osso – Tomi Adeyemi)

Opinião: Sagas fantásticas, como milhares de outras obras de ficção, seguem uma receita clássica que está aí desde que o mundo é mundo: a famosa jornada do herói, que alguns podem até implicar falando sobre clichês, mas que sustenta de forma precisa uma boa história. Traz todos os elementos que envolvem, causam simpatia e ganham nossa torcida pelo sucesso ao final. Tudo isso vocês vão encontrar em Filhos de Sangue e Osso, livro inaugural de uma trilogia fantástica e obra de estreia de Tomi Adeyemi, uma autora nigeriana-americana que estudou religião e cultura africana cá em Salvador, na Bahia.

Mas o que realmente importa e muito ao falarmos de Filhos de Sangue e Osso, e da série O Legado de Orïsha como um todo, é que nós temos uma literatura de ficção jovem-adulta fincada com qualidade na cultura iorubá. A mitologia religiosa africana é protagonista de uma série de livros, quebrando barreiras, mostrando que há muito o que ser explorado lá na África e revelado para o mundo. Talvez essa seja a maior qualidade da série, mas não é a única porque nós temos uma história excepcional, bem narrada e de fácil envolvimento.

Filhos de Sangue e Osso traz dor e sofrimento a partir da exploração e do preconceito. Zélie é nossa companheira nessa parte da história em que o poder subjugou o seu povo por eles dominarem a magia, o contato com os deuses – deuses esses bem familiares a nós, brasileiros. Marcados por sua cabeleira branca, o povo maji foi exterminado e os poucos sobreviventes vivem escondidos e com medo, são explorados e perderam a magia que os movia. Já Amari é a filha do rei, criada isolada no palácio e com pouco ou nenhum contato com o mundo exterior. Ela não sabe o que sua família fez para conquistar o trono e não tem ideia de como o seu país é governado. Guarda dentro de si apenas as marcas de uma exigência paterna por coragem e o afeto que recebe da criada, maji, que é maior que o de sua mãe.

As duas realidades, de Zélie e Amari, vão se cruzar no livro no momento em que a magia pode retornar ao povo maji. O choque de duas pessoas distintas unidas, e desconfiadas, em nome de uma causa vai ser o motor da trama e teremos aprendizado, crescimento, superação, descobertas dolorosas e o nascimento do amor. Às duas vão se juntar Tzain, irmão de Zélie, um guerreiro e seu protetor, e Inan, o príncipe herdeiro, irmão de Amari e alguém com profundos conflitos internos. Esse quarteto de personagens vai ser posto à prova em busca da sobrevivência de um povo, de uma cultura, de uma crença.

Filhos de Sangue e Osso trata de exploração porque o rei, pai de Amari e Inan, motivado pela dor sofrida por sua família, seus antepassados, decide subjugar aqueles que ele considera diferentes por terem consigo o dom da magia. E aqui entra o preconceito com essa magia, com a marca dos cabelos brancos que passa a ser um atestado para perseguição. A repressão cresce e esmaga, mas em um momento em que as forças do mundo se voltam para os maji, esses reprimidos acabam encontrando forças para reagir. No fim, todos só querem paz, mas o diálogo é difícil porque o preconceito, o ódio, a mágoa, o medo falam mais alto.

A leitura da obra ecoou em mim diversas expressões e deuses que fazem parte do nosso cotidiano no Brasil, a partir do Candomblé. E aqui vale a reflexão da importância de uma obra como essa em momentos em que essa religião é atacada pelo preconceito e pela intolerância. No fundo, o drama ficcional vivido pelo povo maji em Filhos de Sangue e Osso tem ecos em toda a trajetória de luta e sofrimento do povo negro pelo mundo. Seja pela cor de pele asfixiada por um policial branco, seja pela adoração a um orixá vandalizada por um intolerante religioso.

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Da Autora leia também:

Filhos de Virtude e Vingança (O Legado de Orïsha #2)

Filhos de Sangue e Osso (O Legado de Orïsha #1)

A Autora: Tomi Adeyemi é uma autora nigeriana-americana e coach de escrita criativa que vive em San Diego, Califórnia. Depois de se graduar com honras em Literatura de Língua Inglesa pela Universidade de Harvard, estudou mitologia, religião e cultura africana em Salvador, no Brasil. Quando não está trabalhando nos seus romances ou vendo videoclipes da banda BTS, pode ser encontrada postando sobre escrita criativa.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

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