Resenha: Território Lovecraft – Matt Ruff

Sinopse Intrínseca: Nos Estados Unidos segregados da década de 1950, Atticus é um rapaz negro, veterano da Guerra da Coreia, fã de H. P. Lovecraft e outros escritores de pulp fiction. Ao descobrir que o pai desapareceu, ele volta à cidade natal para, com o tio e a amiga, partir em uma missão de resgate. Na viagem até a mansão do herdeiro da propriedade que mantinha um dos ancestrais de Atticus escravizado, o grupo enfrentará sociedades secretas, rituais sanguinolentos e o preconceito de todos os dias. Ao chegar, Atticus encontra seu pai acorrentado, mantido prisioneiro por uma confraria secreta, que orquestra um ritual cujo personagem principal é o próprio Atticus. A única esperança de salvação do jovem, no entanto, pode ser a semente de sua destruição — e de toda a sua família. (Resenha: Território Lovecraft – Matt Ruff)

Opinião: A segregação racial é um capítulo triste na história dos Estados Unidos e o racismo, como temos visto no noticiário, ainda se mostra persistente causando mortes e sofrimento. Embora muito se fale sobre racismo, é fato que os acontecimentos vividos pelos negros nos EUA ainda são pouco conhecidos, principalmente pelas novas gerações, aqui no Brasil. Até mesmo pela nossa situação política, acho extremamente importante que isso seja mudado. É preciso que a gente entenda para além do nome de Luther King e conheça o que eles enfrentaram, qual era a real situação. E sobram obras na literatura, aqui vou me concentrar apenas na ficção, que retratam episódios chocantes. Uma dica? Tempo de Matar, de John Grisham.

Em outra esfera temos um dos maiores gênios da literatura de terror, H.P. Lovecraft. Suas histórias influenciaram gerações e até hoje ele é capaz de nos fascinar com seu horror cósmico e criaturas que entraram para o imaginário. Na vida pessoal, Lovecraft é sempre apontado por ser alguém extremamente racista. Longe de querer trazer a tal cultura do cancelamento para esse texto, da qual eu sou contra, quero me concentrar apenas na junção de dois pontos: o racismo pesado nos EUA e um autor genial de terror. O encontro disso resultou em um livro que poucos vão entender em sua essência, mas que é uma das melhores obras tanto em ficção de terror quanto em retratar uma realidade fria vivida pelos negros norte-americanos.

Para começo de conversa, Território Lovecraft é baseado pesadamente na realidade. Tudo que os negros do livro passam é a mais pura realidade vivida nos Estados Unidos nos anos 1950. Então leiam com atenção todos esses trechos. Ali não há estereótipos, ali há realidade! Terceira vez que uso essa palavra no parágrafo, justamente para reforçar que nada é banal, foi inventado ou foi colocado para compor cenário. Aquilo acontecia. Era o “normal” do país. Para seguirmos a conversa, a ficção do livro é composta com inspiração na mitologia lovecraftiana. Então os fãs do autor vão se sentir em casa, enquanto os leitores de primeira viagem provavelmente vão boiar um pouco.

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Território Lovecraft traz uma coletânea de contos que juntos formam uma história única, mas que podem ser lidos em separado tranquilamente. Eles narram as aventuras de um grupo de personagens, juntos ou individualmente, por esse país segregado. Logicamente tudo é alinhavado pelo sobrenatural, pelo místico e pelo cósmico, como não poderia deixar de ser em se tratando de… Lovecraft. Os territórios percorridos não estão ali por acaso. São os estados norte-americanos onde a segregação era mais pesada. Os acontecimentos bizarros, inexplicáveis, fazem parte do universo que inspirou a obra. E em meio a tudo isso, eu me diverti pra caralho. Porque a história tem uma pegada narrativa gostosa para os fãs do gênero.

Matt Ruff soube se inspirar em um universo consagrado, beber da fonte e criar algo seu, super autoral, original e inventivo. Logo de cara, a história que abre o livro, intitulada “Território Lovrecraft”, já dá a deixa do que vem pela frente. É de longe a que cria o melhor clima de mistério e a que melhor explora os segredos do universo cósmico. O que não desmerece as demais, pelo contrário. Embora independentes, elas traçam um fio de conexão com os acontecimentos mais bizarros. E ainda sobra espaço para uma maravilhosa homenagem a Robert Louis Stevenson em “Jekyll em Hyde Park”.

Território Lovecraft é um livro diferente. Com passagens lentas, algumas um pouco confusas, mas, em essência, uma obra perfeita para os fãs tanto do terror cósmico, que tem Arthur Machen também na lista de grandes nomes, quanto do mestre Lovecraft. Foi uma das gratas e melhores leituras que fiz em 2020.

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O Autor: Matt Ruff nasceu na cidade de Nova York. Aos cinco anos, decidiu que seria autor de ficção, e passou a infância e a adolescência aprendendo a contar histórias. Hoje é autor aclamado pela crítica, vencedor de diversos prêmios.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

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