Resenha: Britt-Marie Esteve Aqui – Fredrik Backman

Sinopse Fábrica 231: Aos 63 anos, Britt-Marie vê sua vida virar de ponta-cabeça quando precisa abandonar sua rotina (e seu casamento) para se reconstruir em um vilarejo que transformará seu destino para sempre. Recheada de personagens emblemáticos, a trama nos leva a refletir sobre solidão, concessão, frustração e superação, temas que, apesar de cinzentos, ganham cores através da leveza de suas páginas. Com um humor sarcástico carinhosamente dosado para nos cativar, Britt-Marie esteve aqui tem tudo para se tornar um dos livros favoritos de todas as estantes. (Resenha: Britt-Marie Esteve Aqui – Fredrik Backman)

Opinião: Certamente você não vai ler nenhuma história que reúna tantas qualidades distintas quanto esta. Mas antes de mais nada, confira sua gaveta de talheres. Garfos, facas, colheres. Caso ela não esteja arrumada dessa forma, sugiro que você corrija isso imediatamente. Não que eu vá julgar você, não sou esse tipo de pessoa. Britt-Marie tampouco o é. Mas entenda. Pessoas civilizadas precisam ter o mínimo de ordem na sua vida. E isso começa pela organização dos talheres. Ah, e pela limpeza…

Britt-Marie Esteve Aqui é uma joia rara entre os lançamentos de 2019 no Brasil! Escrevi o primeiro parágrafo dessa resenha (e farei isso ao longo de todo o texto) baseado no estilo de narração que vocês vão encontrar no livro. Um jeito leve, gostoso, bem-humorado, cativante e envolvente. Isso mesmo! São infindáveis os adjetivos a serem usados para se referir a uma história sensível sobre uma fase da vida em que, talvez, nos sintamos deslocados da sociedade por causa de nossa idade. Mas não dá para resumir esse livro somente nisso. A obra vai além…

Britt-Marie é uma dona de casa. Desde cedo, após tragédias e traumas da infância, ela aprendeu a se colocar em função do outro. E foi assim que construiu a vida do seu marido e dos filhos dele. Note, a vida deles! Ela viveu intensamente aquilo que se esperava dela. Aquilo que uma sociedade machista, presa em costumes arcaicos, enxergava como o papel de uma mulher. Ou seja, ela limpou, lavou, passou, cozinhou… (Dica: não há sujeira no mundo que resista a bicarbonato de sódio). No dia em que flagrou, pra valer, o marido com a mocinha mais nova, Britt-Marie deu um basta e foi tentar construir uma vida só dela. E assim Fredrik Backman nos apresenta um universo tocante em que inúmeras questões fazem refletir, emocionar e inspirar.

“Até que numa determinada manhã você acorda com mais vida às suas costas do que o que tem pela frente, sem conseguir entender como isso aconteceu”.

Em Britt-Marie Esteve Aqui vocês vão encontrar uma mulher simpática, obcecada por limpeza, encarando o primeiro emprego de sua vida em décadas, e se tornando treinadora de um improvável time infantil de futebol. Essa experiência vai render boas risadas durante a leitura. Mas Britt-Marie também vai te ensinar que recomeçar pode parecer difícil, mas jamais é impossível. São em coisas simples que encontramos o empurrãozinho para esse recomeço. Um recomeço que pode estar em um casal de irmãos apaixonado por futebol – e o futebol tem um papel tão grande quanto os próprios personagens na vitalidade desse livro; pode estar em se sentir valorizada, desejada e respeitada por outro; ou pode estar em amizades com os mais variados tipos sociais, cada um com jeitos peculiares.

A história de Fredrik Backman reúne muitas histórias e permite muitas interpretações. A terceira idade lidando com um mundo que evolui a cada instante em tecnologia, costumes, hábitos e linguagens. A missão de começar uma vida após os sessenta anos quanto tudo e todos parecem gritar que você deve se trancar em casa porque (talvez) não tem mais função. A convivência, sem julgamentos, com classes sociais diferentes, deficiência física, violência e a capacidade de perceber que há aprendizado em cada um desses itens. A descoberta de que é possível fazer uma piada sem ser julgado ou de que as pessoas não estão te julgando a todo momento por qualquer coisa (pelo menos não todas). O encontro com a felicidade, escondida em um gol, um vidro de Faxin, ou uma estrada que leva a qualquer lugar que seus sonhos quiserem percorrer.

“Se uma pessoa fecha os olhos com força e por um longo tempo, pode se lembrar de todas as vezes em que tomou uma decisão na vida só para o seu próprio bem. E percebe, talvez, que isto nunca aconteceu”.

Britt-Marie Esteve Aqui tem uma das melhores protagonistas que já tive o prazer de conhecer. Sei que não é de bom tom fazer certas afirmações, mas sinto necessidade de ser sociável com essa personagem, então afirmo que vocês vão se apaixonar por ela! E mais que isso, a galeria de personagens desse livro é fantástica! Todos foram construídos de um jeito muito humano. São palpáveis. Reais. São tipos que passam longe da pura e simples ficção. E trazem uma carga de qualidade que tanto nos ensina quanto dá lições para nossa adorável Britt. Perdoem, Britt-Marie. Somente a irmã a chama de Britt.

Gastaria mais um bom número de parágrafos detalhando os muitos aprendizados e momentos emotivos que esse livro me trouxe. Mas não quero ser grosseiro. Longe de mim. Acho que o ponto mais sensível que vale destacar para fechar essa resenha é que quando decide abandonar o marido e buscar um emprego, Britt-Marie faz isso porque ela tem medo de morrer sozinha em casa e ninguém sentir sua falta. Tendo um emprego, eles notariam sua ausência.

A cidadezinha de Borg recebeu Britt-Marie e ambas mudaram. Uma graças a outra. Ambas aprenderam que a vida não precisa ser tão regrada, nem levada tão a sério. Que talvez um porta-copos não faça tanta diferença, mas que bicarbonato de sódio é tão essencial quanto oxigênio… Não importa o tipo de leitor que você é. Do terror, meu caso, à fantasia. Do romance à distopia. Britt-Marie Esteve Aqui é um livro para ser lido por qualquer pessoa apaixonada por boas histórias bem contadas. Enxergue o mundo com outros olhos depois desse livro e venha aqui me contar.

 “Chega uma certa idade em que quase todas as perguntas que uma pessoa faz a si mesma giram em torno de uma só coisa: como se deve viver a vida?”

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O Autor: Fredrik Backman é jornalista e escritor. Nasceu em 1981, na cidade de Estocolmo, Suécia. Um homem chamado Ove, seu primeiro romance, se tornou um best-seller com mais de 650 mil exemplares vendidos no mundo. Seus livros já foram publicados em mais de 25 países.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

4 COMENTÁRIOS

  1. Que resenha maravilhosa!!!! Deu vontade de ler o livro pra ontem. Já tinham me indicado o autor mas meio que fiquei inseguro de não curtir e desperdiçar tempo. Acho que vale a pena embarcar ne?

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