Resenha: As Últimas Testemunhas – Svetlana Aleksiévitch

Sinopse Companhia das Letras: Neste livro doloroso e potente, a Nobel de literatura Svetlana Aleksiévitch reuniu os relatos francos de vários sobreviventes da Segunda Guerra que, quando crianças, testemunharam horrores que nenhum ser humano jamais deveria experimentar. A Segunda Guerra Mundial matou quase 13 milhões de crianças e, em 1945, apenas na Bielorrússia, havia cerca de 27 mil delas em orfanatos, resultado da devastação tremenda causada pelo conflito no país. Entre 1978 e 2004, a jornalista Svetlana Aleksiévitch entrevistou uma centena desses sobreviventes e, a partir de seus testemunhos, criou uma narrativa estupenda e brutal de uma das maiores tragédias da história. A leitura dessas memórias não é nada além de devastadora. Diante da experiência dessas crianças se revela uma dimensão pavorosa do que é viver num tempo de terror constante, cercado de morte, fome, desamparo, frio e todo tipo de sofrimento. E o que resta da infância em uma realidade em que nada é poupado aos pequenos? Neste retrato pessoal e inédito sobre essas jovens testemunhas, a autora realizou uma obra-prima literária a partir das próprias vozes de seus protagonistas, que emprestaram suas palavras para construir uma história oral da Segunda Guerra. (Resenha: As Últimas Testemunhas – Svetlana Aleksiévitch).

Opinião: O dia 27 de janeiro é marcado pelo Dia Internacional da Lembrança do Holocausto, a data é um marco para jamais nos esquecermos das atrocidades que o homem foi capaz de cometer por ideologias questionáveis. 74 anos após o fim da segunda guerra mundial, as cicatrizes do ódio gratuito começam a ficar apenas nas nossas lembranças, nas páginas dos livros e nas telas de cinema, uma vez que aqueles que sofreram toda a violação possível e sobreviveram começam a nos deixar pelo ciclo natural da vida.

Publicado originalmente em 1985, “As Últimas Testemunhas – Crianças Na Segunda Guerra Mundial”, da escritora vencedora do Prêmio Nobel em 2015, foi lançado no final de 2018 no Brasil pela Companhia das Letras. No livro autora Svetlana Aleksiévitch silencia em respeito aos mortos e dá voz a dezenas de crianças que viram seus sonhos rompidos pelos horrores da guerra. Obviamente, no período em que escreveu o livro, essas crianças já eram adultas e trouxeram para esse importante registro histórico cenas breves que as marcaram ao longo do período em que os nazistas invadiram a União Soviética.

No livro temos uma série de pequenos registros das lembranças de crianças que passaram pela guerra. Apresentando a idade das em que as lembranças surgiram e a profissão da época em que a pesquisa foi feita (década de 70) temos um paralelo entre passado e presente e, de alguma forma, apesar da dor, respiramos aliviados pela sobrevivência ao período atroz. Nada disso, tira o caráter de trauma coletivo que encontramos nas páginas desse livro, onde claramente vemos a dor presente em cada memória resgatada.

Jênia Belkiévitch (6 anos). Hoje: operária: Nós gritávamos e pedíamos: “Não enterrem a nossa mãe na vala. Ela vai acordar e vamos continuar o caminho.”. Uns besouros grandes rastejavam pela areia… Eu não conseguia imaginar como mamãe ia viver embaixo da terra com eles. Como a gente ia localizá-la depois, como a gente ia se encontrar? Quem iria escrever para o nosso pai? (Pág. 07)

Algumas vezes nos deparamos com livros que são como um soco no estomago, pois jamais vamos conseguir ter a dimensão de como essa guerra foi impiedosa com todos que foram perseguidos, sem importar se eram adultos, idosos ou apenas crianças, sem qualquer tipo de maldade no coração. A reflexão que esse livro nos leva e profunda e silenciosa, onde a única forma de expressarmos nosso sentimento é registrando a importância dessa leitura para jamais nos esquecermos do que o ódio gratuito é capaz de fazer como o nosso semelhante.

Avaliação: 5 / 5 estrelas (Com louvor)

Sobre a autora: Svetlana Aleksiévitch é uma renomada escritora ucraniana, vencedora do premio Nobel de Literatura 2015. Estudou jornalismo na Universidade de Minsk, turma de 1967. Desde os seus dias de escola já tinha escrito poesia e artigos para a imprensa escolar. Foi jornalista da revista literária Neman de Minsk, para a que escreveu ensaios, contos e reportagens. O escritor bielorrusso Ales Adamovich inclinou-a definitivamente para a literatura apoiando um novo género de escrita que denominou “novela coletiva”. Nos seus textos, que caminham entre a literatura e o jornalismo, usa a técnica de colagem justapondo testemunhos individuais, com o que consegue aproximar-se mais à substância humana dos acontecimentos. Usou este estilo pela primeira vez no seu livro ‘A Guerra Não tem Rosto de Mulher’ (1983), em que a partir de uma série de entrevistas aborda o tema das mulheres russas que participaram na Segunda Guerra Mundial.

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