Sinopse Martin Claret: Escrito como uma narrativa epistolar, Robinson Crusoé narra suas aventuras rumo ao Novo Mundo, sem prever todas as peripécias e adversidades às quais seria submetido ao longo de sua jornada como náufrago. A obra, repleta de personagens cativantes, promete continuar atraindo a atenção dos leitores modernos. (Resenha: Robinson Crosoé – Daniel Defoe)

Opinião: Clássicos são, no meu entendimento, livros que ultrapassam gerações e jamais perdem seu vigor, vitalidade e poder de encantar. Escrita no século XVIII, e com inspirações em um episódio real, a história de Robinson Crusoé se encaixa perfeitamente nessa definição. É uma obra que mexe com nosso imaginário e desperta um espírito aventureiro ao mesmo tempo que aterroriza com os limites aos quais o personagem é levado a enfrentar.

Único sobrevivente de um desastre marítimo, Robinson se vê numa ilha deserta lutando pela sobrevivência. Este é o mote que Daniel Defoe trabalhou com maestria para mostrar a capacidade humana na luta pela vida. São nas situações extremas que o ser humano mostra, de fato, quem é e do que é capaz. No caso de Robinson, a trama nos leva por um cotidiano de descobertas, tanto na parte de exploração da ilha quanto nas próprias habilidades do personagem em fazer e inventar coisas que garantam sua vida. Ao mesmo tempo, o período de solidão – foram 28 anos de reclusão na ilha, amadureceu o personagem e lhe deu uma nova visão da vida. O Robinson Crusoé alheio a responsabilidades que nos é apresentado nos primeiros capítulos do livro vai cedendo espaço a um homem maduro, que enxerga nas pequenas coisas o valor da vida.

O isolamento desenvolve também o lado religioso de Robinson. É na fé que ele encontra consolo e esperança, passando a olhar para cada acontecimento como uma dádiva e não como um castigo. Em determinado ponto, ainda nos capítulos iniciais, o náufrago divide seu drama entre “mau” e “bom”, classificando suas desventuras pelo que elas tiveram de ruim, mas contrapondo a isso o lado positivo de cada item: “sou náufrago em uma ilha horrenda e deserta, mas estou vivo e não me afoguei como ocorreu com todos os meus companheiros”. E assim, de forma minuciosa, Daniel Defoe vai narrando os processos de superação e descobertas do personagem.

Outro aspecto interessante fica no desenvolvimento das capacidades de Robinson para sobreviver. Explorando a ilha ele vai não só descobrindo o que pode lhe servir de alimento como vai adquirindo conhecimentos para construir, dentro do possível, um lar. Aos poucos, o personagem se mostra totalmente bem estabelecido, possuindo um estilo e entendimento de vida, não é exagero afirmar, melhor do que tinha antes do naufrágio.

Ponto controverso da obra para os leitores do século XXI, a relação de Robinson com o servo Sexta-Feira deve ser enxergada pelo ponto de vista da época em que o livro foi escrito. Na sociedade escravocrata em que Daniel Defoe viveu, a relação servil ali estabelecida era algo extremamente normal. O tratamento dado a Sexta-Feira pode ser considerado, inclusive, benevolente e cristão, se analisarmos com os olhos dos anos 1700.

Em uma narrativa que se alterna entre momentos um pouco mais arrastados e outros extremamente interessantes e instigantes, Robinson Crusoé é uma obra que dispensa recomendações. É o sexto livro mais traduzido do mundo com mais de 9 milhões de exemplares vendidos. Reencontre seu lado aventureiro, mesmo que seja para despertar os sonhos de infância de explorar mares, lugares e ilhas, e faça companhia a Robinson nessa aventura. É impossível não terminar a leitura com algumas lições e encantamentos.

PS: Minha leitura se deu pela edição extremamente caprichada e ricamente ilustrada lançada pela Martin Claret em 2017. Recomendo esta edição não só por todo o luxo, mas pelas informações complementares no início e fim da obra.

Avaliação: 5 Estrelas

O Autor: Daniel Defoe Nasceu em Londres em 1660, em St. Giles, Cripplegate, filho de James Foe, um mercador de velas. Daniel alterou seu nome para Defoe por volta de 1695. Estudou na Morton’s Academy for Dissenters, em Newington Green. Depois de servir durante algum tempo como soldado na rebelião do duque de Monmouth, estabeleceu-se bem como mercador e percorreu toda a Inglaterra, assim como o continente. Escritor prolífico e versátil, produziu uns quinhentos livros sobre uma ampla variedade de temas, inclusive política, geografia, crime, religião, economia, matrimônio, psicologia e superstição. Gostava muito de representar papéis e se disfarçar, aptidão a que recorreu com grande efeito na qualidade de agente secreto, e, ao escrever, costumava adotar pseudônimos ou outra personalidade a fim de obter impacto retórico. Seu primeiro panfleto político conhecido (contra Jaime II) foi publicado em 1688, e seu muito vendido poema satírico The True-Born Englishman apareceu em 1701. Dois anos depois, Defoe foi preso por causa de The Shortest Way with the Dissenters, uma sátira a respeito do extremismo da High Church (Igreja Alta), encarcerado na prisão de Newgate e submetido ao pelourinho. Voltou-se para a ficção relativamente tarde na vida e, em 1719, publicou sua grande obra imaginativa Robinson Crusoe. Seguiram-se Moll Flanders e A Journal of the Plague Year, em 1722, e seu último romance, Roxana, em 1724. Daniel Defoe morreu no dia 24 de abril de 1731. Teve grande influência no desenvolvimento do romance inglês, sendo que muitos o consideram o primeiro verdadeiro romancista.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

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