Resenha: Depois do Sim – Taylor Jenkins Reid
“Entre um ‘eu te amo’ e um ‘me desculpa’, um ‘nunca vou fazer isso de novo’ e um ‘não sei o que faria sem você’, acabávamos esquecendo por que tínhamos brigado.”
(p. 28)
Taylor Jenkins Reid se mostra como uma das maiores autoras da atualidade, conseguindo surpreender e emocionar novamente! Desta vez, sem grandes estrelas de Hollywood ou do rock, mas com a mesma intensidade e profundidade.
A maioria das pessoas sonha com o “felizes para sempre”, com o depois da tempestade. Crescemos com esses contos de fada e depois nos acostumamos com os contos de fada da vida real. O final feliz é o casamento. O final feliz é o “sim, aceito” – na saúde, na doença e etc… Mas nem sempre o que vem depois do sim é o mar de rosas, o sonho que se tornou realidade, o fim das dificuldades. Muito pelo contrário.
E é exatamente essa a jornada desse livro. Lauren e Ryan estão juntos há 11 anos e o leitor logo percebe que estão com problemas. Uma situação corriqueira – esquecer onde o carro foi estacionado – acaba virando motivo de uma troca de farpas entre o casal. Esse é o primeiro capítulo.
Em seguida, Lauren narra os acontecimentos desde o momento em que se conheceram até o presente. Essa primeira parte é uma das passagens mais lindas que já li em toda a minha vida. Acompanhar o desenvolvimento do relacionamento de Lauren e Ryan ao longo dos 11 anos em apenas 60 e poucas páginas é genialmente cruel e perfeito.Taylor Jenkins Reid consegue construir as cenas e os curtos capítulos com tamanha maestria que a leitura, mais uma vez, chega a ser cinematográfica – inúmeras foram as vezes em que uma música do folklore acabou se encaixando na narrativa (mesmo o livro sendo de 2014). À medida que se adentra na história, o leitor ultrapassa diversas outras camadas inimagináveis e tão reais e comuns que assustam.
Eis que ambos chegam em uma situação limite – por que você não resolveu o problema da água quente do chuveiro? – e os pequenos desagrados, antes escondidos e cuidados com panos quentes, explodem. É quando Ryan e Lauren decidem que o melhor a se fazer para tentar salvar o casamento é passarem um tempo separados. Quanto tempo? Um ano. O que vão fazer? Tentar se reconectarem como marido e mulher, mas também como pessoas. E como eles vão fazer isso? Morando em casas diferentes e sem manter nenhum contato durante todo esse tempo. Quem fica? Quem sai? Quem cuida do cachorro?
Diversos questionamentos surgem, principalmente sobre o que é felicidade e até que ponto se doar ao outro é saudável. Lauren se vê perdida, com medo de não saber viver, não conseguir seguir em frente, mas ainda assim percebe que respeitar esse tempo separada de Ryan é importante e pode ajudar.
É interessante notar que a história se passa em um temido momento da vida adulta: a crise dos 30 – que chega mais cedo para uns e mais tarde para outros. Lauren começa a perceber não só as falhas de seu casamento, mas também de sua vida toda – seu relacionamento com os irmãos, com a mãe, com a avó, com a colega de trabalho, com o trabalho em si…
“Aos trinta, as pessoas já têm as coisas encaminhadas, não? Eu não deveria estar questionando tudo o que fiz na vida.”
(p. 118)
Durante toda a narrativa, a autora faz com que o leitor se aproxime cada vez mais do drama dos personagens e queira até mesmo se relacionar com eles. Já é algo corriqueiro nas histórias de Taylor Jenkins Reid. A escrita é tão fluida, tão confortável, tão… familiar, que é como se Lauren fosse uma velha amiga contando sobre um momento de sua vida. Além dessa proximidade da relação personagem-leitor, Taylor também constroi e desenvolve tramas assustadoramente reais. O leitor consegue se enxergar naquela situação e entender as ações de cada pessoa no livro.
Taylor também não poupa quando o assunto é tocar na ferida. A carga emocional, obviamente, é grande. Além dos dramas envolvendo o casamento, outros vão aparecendo e sendo desenvolvidos aos poucos. Quando o leitor percebe, está preocupado e, ao mesmo tempo, entretido com todos os personagens da história. Cada um tem o seu destaque e a sua batalha interior e todos são devidamente escritos e finalizados até a última página.
“É impressionante o que somos capazes de fazer pelas pessoas que amamos”
(p. 302)
Pessoalmente, os dois únicos pontos negativos desse livro são pequenos detalhes, mas que poderiam ter sido mais bem trabalhados. Primeiro, relacionado a uma certa “brincadeira/piada interna” da família de Lauren. Um determinado assunto sério não é levado tão a sério assim durante todo o livro e isso vai se desenrolando até o final (estou comentando de uma forma meio misteriosa para não dar spoiler).
Essa escolha pode ser vista de forma desrespeitosa e até um pouco probemática por quem já passou por essa situação. Isso acaba tirando um pouco o brilho e a grandeza que história possui. Vale lembrar que esse foi o segundo romance publicado da autora, ou seja, ela ainda estava no início da carreira e, claro, todos nós cometemos erros. Porém, mesmo assim não justifica a forma como esse assunto foi abordado (às vezes até de forma exaustiva) durante o livro.
O outro ponto negativo é que o leitor só é apresentado ao ponto de vista de Lauren. Sabemos que toda história tem dois lados. Principalmente nessa que é sobre um casal em crise. A versão de Ryan – como ele está vivendo, o que está fazendo, o que está pensando – faz falta para a narrativa. Por mais que o leitor tenha uma pequena noção do que se passa na cabeça dele através de alguns e-mails, não é o suficiente. Talvez poderia ser interessante desenvolver os dois lados da moeda numa narrativa intercalada. A história com certeza seria mais rica.
Depois do sim é um livro cru sobre amor, honestidade, perdão, perda, recomeços, egoísmo e companheirismo. É uma comédia romântica sobre a vida e tudo o que estamos sujeitos a viver. Acabei dando 4.5 estrelas, por conta desses detalhes negativos, mas foi, com certeza, uma das melhores leituras do ano e vai ficar marcada por um bom tempo.
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Da Autora leia também:
Os Sete Maridos de Evelyn Hugo
A Autora: Taylor Jenkins Reid nasceu em Acton, Massachusetts. É autora de Forever, Interrupted (2013), Em outra vida, talvez? (2015), Daisy Jones and The Six (2019), Os sete maridos de Evelyn Hugo (2019), Amor(es) verdadeiro(s) (2020) e Malibu Renasce (2021). Mora em Los Angeles com o marido, a filha e o cachorro.