Sinopse Arqueiro: Na cidade rural de Clanton, Mississippi, a pequena Tonya Hailey, uma criança negra de dez anos, é estuprada por dois homens brancos e abandonada num riacho para morrer. Quase imediatamente, os criminosos são capturados num bar de beira de estrada, onde estão se vangloriando de seu feito. Alguns dias depois, quando eles se apresentam no tribunal, o pai de Tonya, Carl, invade o subsolo do fórum e mata os dois com um fuzil. Assassinato ou execução? Justiça ou vingança? O jovem advogado Jake Brigance é contratado para defender Carl. Por dez dias, cruzes em chamas e os disparos de um franco-atirador tomam as ruas de Clanton. Enquanto o país assiste fascinado ao julgamento, Jack luta para salvar seu cliente e, depois, também a própria vida. (Resenha: Tempo de Matar – John Grisham)
Opinião: Há livros que, não importa quantas vezes sejam lidos, sempre vão mexer com os leitores. Eles carregam uma diversidade tão grande de temas e debatem assuntos tão complicados que nós sempre teremos novos olhares ou novas reflexões a cerca do que está sendo apresentado ali. Tempo de Matar é um desses livros. Talvez um dos melhores de John Grisham e que, para escrever essa resenha, foi lido pela terceira vez e mexeu comigo tanto quanto na primeira leitura.
Publicado em 1989, e livro de estreia de Grisham, Tempo de Matar fala de racismo no sul dos Estados Unidos, mais precisamente no Mississipi. Há cenas fortes de estupro de menor, vingança a partir da justiça com as próprias mãos, atentados comandados pela Ku Klux Kan e aquele delicado embate entre negros e brancos que tanto marcou a sociedade norte-americana. Mais de trinta anos depois da publicação, e guardadas as devidas licenças literárias de criação, se faz curioso notar o quanto os temas que permeiam a obra seguem preocupantemente atuais.
Tempo de Matar é a história do estupro de uma menina negra, de 10 anos idade, por dois jovens brancos. As cenas são bem descritas e Grisham não poupou os leitores. É pra revirar o estômago e causar revolta. Revolta essa que faz com que o pai dessa menina, Carl Lee, decida por não esperar o desenlace jurídico e simplesmente “exploda os miolos” dos culpados bem ali, dentro do Fórum onde eles estavam para a audiência de acusação. Preso, Carl Lee irá a julgamento pelos assassinatos. Julgado, talvez, por um júri de maioria branca e que não necessariamente vai entender a motivação do réu. Afinal, ele é negro.
Tempo de Matar vai discutir culpa x inocência a partir da seguinte questão: podemos condenar um pai, negro, à câmara de gás porque ele assassinou os estupradores, brancos, de sua filha? E a questão racial é fundamental nessa discussão porque a trama deixa claro que, em Clanton, se fosse o inverso – um pai branco com estupradores negros, certamente ele seria inocentado.
A questão é complicada, controversa e carrega consigo inúmeros desdobramentos. E John Grisham detalha a maioria. O processo de julgamento de Carl Lee e todas as suas variáveis são amplamente colocadas na mesa pelo autor num livro que já dava mostras dos inúmeros outros sucessos de vendas que viriam a seguir. E não é só isso. Esse julgamento mobiliza a comunidade negra, os pastores, e a Ku Klux Kan, que protagoniza atentados e seus mais variados atos de intimidação e violência.
Personagens que farão parte da galeria do autor estreiam nesse livro: Jack Brigance, Harry Hex, Lucien Wilbanks, o xerife Ozzie e o juiz Noose. É um calhamaço envolvente que nos consome numa leitura ágil, com bons toques de humor, mas com uma carga dramática gigantesca. Trata-se de um crime cometido por causa de outro crime. Trata-se de pensar se absolvição não significa abrir as portas para que todos passem a fazer justiça por contra própria. Trata-se de pensar como negros e brancos são vistos com diferentes olhos pela justiça. Trata-se de decidir sobre a vida de alguém. Culpado ou inocente?
As cenas de tribunal são o ponto forte dos livros de John Grisham e ele escreve com tanta paixão que é impossível os leitores não se entregarem àquela adrenalina e vivenciarem a tensão junto aos personagens. E a resposta para Carl Lee, seu veredito, vem de um exercício simples, mas que nem sempre nos dedicamos a fazê-lo: fechar os olhos com calma e nos colocarmos no lugar do outro. A conclusão pode não ser totalmente justa e pode sim deixar margens para questionamentos, nada é perfeito. Mas ela aponta para todas as nossas contradições ao julgarmos os outros.
E se fosse você, como você agiria? Carl Lee é inocente ou culpado?
Entregue-se à leitura de Tempo de Matar, conheça em detalhes esse caso e aponte seu veredito. Uma coisa é certa. É impossível sair ileso de um livro como esse.
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