Sinopse Intrínseca: Em uma noite de dezembro, o sofisticado hotel Palace de Verbier, nos Alpes Suíços, é palco de um assassinato sem solução, já que a investigação do crime nunca é concluída pela polícia. Anos depois, o escritor Joël decide tirar alguns dias de férias e se hospeda nesse mesmo local. Lá, uma surpresa o aguarda: seu quarto é o 621 bis, a nova nomenclatura do agora estigmatizado 622, e a curiosidade o leva a mergulhar em uma investigação sobre o caso emblemático. Ao longo da corrida para descobrir as motivações para o assassinato, somos apresentados a uma gama de personagens tão interessantes quanto pitorescos em um cenário aparentemente tranquilo e acolhedor: uma aristocrata russa decadente que sonha em casar as filhas com homens ricos, um grupo de banqueiros e um jovem ambicioso e talentoso que causa inveja e intriga entre os herdeiros que disputam a presidência de uma instituição financeira familiar. (Resenha: O Enigma do Quarto 622 – Joël Dicker)

Opinião: A crítica literária e a academia em geral costumam torcer o nariz para o romance policial ou os populares thrillers, se você preferir. Não que devamos levar muito em consideração o que esse seleto grupo de pessoas intensamente mal-humoradas pense, mas quero utilizar a categorização deles como introdução para essa resenha. Porque na visão do crítico literário existem os livros da “alta literatura”, os bonzões, e os livros “populares”, de baixa qualidade, seja lá o que isso queira dizer.

Pois bem, serei ousado ao dizer que, na minha opinião, existem dois tipos de suspense: o da alta literatura e o popular, sendo que nenhum é melhor do que o outro, é apenas uma diferenciação de estilo que faço. Suspense popular constituem a imensa maioria dos thrillers e eu os amo de paixão como obras de John Grisham, Robin Cook, Tess Geritssen, Robert Bryndza, etc. Já o suspense de alta literatura, que eu também amo, é mais raro porque é um tipo de livro difícil por ser mais elaborado. Normalmente é gigantesco e se prende a inúmeros detalhes. O suspense de alta literatura, pra mim, é um imenso quebra-cabeças. Daqueles de dez mil peças. E é preciso muita paciência para chegar ao seu fim.

Feita essa introdução, e você pode muito bem discordar de mim, porque essa é uma avaliação pessoal minha, podemos nos debruçar sobre o suspense de alta literatura produzido por Joël Dicker e que, pra mim, tem em O Enigma do Quarto 622 o seu ponto máximo. Sem sombra de dúvidas eu considero este o melhor livro de Dicker até o momento, e que reúne um conjunto diverso de características que o torna único se comparado aos antecessores.

Primeiramente, O Enigma do Quarto 622 é um intrincado, e por vezes divertido, jogo para se chegar ao autor de um assassinato. Chamo de jogo porque a impressão que tive à medida que avançava nos capítulos era exatamente essa. Que eu estava jogando dados e avançando ou retrocedendo casas para descobrir detalhes, segredos, motivações, plot twists a perder de vista. Siiiim, o livro esconde uma quantidade sem fim de segredos que vão se sucedendo e sendo revelados das mais diversas formas. Vale comprar com quebra-cabeças também, mas é muita peça e talvez não haja mesa grande o suficiente para montarmos todo esse painel que tem Genebra, cidade natal do autor, como cenário.

Pausa para…

Das 526 páginas do livro, só descobrimos a identidade da vítima bem depois da página 300, e só vamos desvendar o criminoso ou a criminosa faltando 11 páginas para o fim.

Voltando…

O Enigma do Quarto 622 faz um vai-e-vem frenético no tempo. Passado e presente vão se mesclando para, aos poucos, ir encaixando cada pecinha. Só que há um detalhe: não existe nenhum personagem neste livro que não tenha a ver com a trama. Ou seja, tudo que é narrado é extremamente importante e exige nossa atenção. E, lógico, são dezenas de personagens cada um com sua história de vida bem contada e com seu passado, também narrado nos momentos certos, para irmos nos situando e enxergando as conexões. Ninguém passa impune e isso é simplesmente sensacional.

Assim chegamos ao segundo ponto que é a capacidade de Joël Dicker em criar tramas envolventes, gigantescas, e donas de um detalhamento absurdo. Como disse, nada é por acaso e neste livro isso atinge níveis bizarros. Porque à medida que as soluções vão aparecendo, vamos nos surpreendendo com as muitas surpresas e cartas que o autor tira da manga para esfregar na nossa cara e mostrar que, sim, estávamos totalmente enganados. E vale destacar que o livro tem ares rocambolescos de humor com certas situações propositalmente exageradas. Soa divertido e dá uma boa quebrada no clima de investigação.

Por fim, o livro tem um quê de pessoalidade muito grande. Há passagens reais nele e todas envolvem a figura de Bernard de Fallois, famoso editor de livros, responsável pela carreira de Joël Dicker e que faleceu em 2018. Dicker conta muito de sua vivência com o editor em sequências do livro. É uma homenagem bonita e que traz trechos e reflexões emocionantes. Ah, esquecei de mencionar que a investigação do crime é feita por um escritor, em busca do tema para seu próximo livro, chamado… Joël Dicker! Em entrevistas o autor diz que não há nada dele no personagem a não ser as passagens que envolvem Bernard, mas não dá pra negar que a construção toda ficou muito boa. Convence. E a retinha final então…

Não vou ficar detalhando a história aqui porque isso é tarefa para a sinopse, que está na abertura desse texto, e para vocês, leitores que decidirem se aventurar por essas páginas. Digo isso porque Joël Dicker é um escritor detalhista que constrói suas histórias como se estivesse a construir um castelo medieval desses cheios de salas secretas, antecâmaras e calabouços. Ou seja, há muito detalhe, há muitas passagens que os mais afoitos vão achar desnecessárias e não há pressa em entregar nada. Por isso mesmo já vi legiões de leitores, principalmente mais jovens loucos por soluções rápidas, desdenharem as obras do autor. De fato, como coloquei na abertura dessa resenha, Dicker é um autor de suspense de alta qualidade, para quem gosta do prazer de um mistério intrincado, por vezes exagerado, mas que envolve e marca. Nós guardamos essa história depois da última página virada.

Leitor assíduo das obras do suíço e de dezenas de outros autores do gênero, não tenho medo de colocá-lo como um dos maiores autores vivos do suspense mundial. O Enigma do Quarto 622 é precisamente o melhor livro lido em 2022 até a data da publicação dessa resenha (confiram lá em cima no site). E acho que dificilmente encontrará algum para fazer frente ou superá-lo. Por quê? Por ser inteligente, meticuloso, bem elaborado, com reviravoltas vindas na hora certa e que me surpreenderam e, principalmente, por reforçar o prazer da leitura. Foram duas semanas maravilhosas na companhia desses personagens. Reais ou fictícios.

“A vida é um romance que já sabemos como termina: no fim, o herói morre. Por isso, o mais importante não é como nossa história acaba, mas como preenchemos as páginas. Pois a vida, como um romance, deve ser uma aventura. E as aventuras são as férias da vida.”

 

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O Caso Alaska Sanders

O Enigma do Quarto 622

O Desaparecimento de Stephanie Mailer

 

O Autor: Joël Dicker nasceu em Genebra, na Suíça, em 16 de junho de 1985. Depois de se formar na Faculdade de Direito da Universidade de Genebra, passa a se dedicar à escrita. Após várias recusas de editores, seu primeiro romance, Os últimos dias de nossos pais, sai em janeiro de 2012. Seu segundo romance, A verdade sobre o caso de Harry Quebert, foi publicado em setembro de 2012. Este romance, traduzido para 40 idiomas e com mais de 5 milhões de cópias em todo o mundo, foi premiado na França, o Prix de la Vocação da Fundação Bleustein-Blanchet, o Grande Prêmio do romance a Académie française e o Prix Goncourt des Lycéens.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

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