Sinopse Tordesilhas: Estocolmo, Suécia, 13 de agosto de 2002. Seria mais um dia normal na capital do civilizado e pacato país com um dos melhores IDH do mundo, não fosse uma “epidemia” de cefaleia e o estranho comportamento dos aparelhos eletrônicos: eles simplesmente não desligam, mesmo quando desconectados da tomada. Prenúncio de fenômeno ainda mais extraordinário: os mortos revivem – inclusive os falecidos até alguns meses antes. Não se trata de zumbis devoradores de cérebros e transmissores de sua condição de “nem vivo, nem morto” por meio de mordidas. Pelo contrário, os “redivivos” – como passam a ser oficialmente chamados pelo governo – são entes queridos (o avô, o marido, a esposa, o filho, o neto) que todos gostariam de ter de volta ou ao menos por mais um tempo para corrigir erros, pedir perdão (ou perdoar), prorrogar a companhia em nome de momentos felizes e de afetos que a morte impediu de repetir ou de cultivar. (Resenha: Mortos entre Vivos – John Ajvide Lindqvist)
Opinião: Na segunda obra que leio de sua autoria, o festejado escritor sueco ainda não conseguiu me tirar o fôlego em uma trama que justificasse a fama que conquistou. Mas sigo na saga de desbravar seus livros. Mortos entre Vivos se destaca claramente pela originalíssima forma como encara os mortos que voltam à vida. Esqueça os zumbis popularizados por The Walking Dead e imortalizados por cinema e literatura ao longo dos tempos. Aqui, quem retorna à vida são pessoas mais que normais, um tanto desligadas do mundo, é claro, mas ainda um pouco cientes do que que faziam, onde moravam e com quem viviam. Pense em alguém que perde a memória, mas no fundo ainda tem alguma noção de algo, aquelas pequenas lembranças que são ativadas por cliques no cérebro. Pois bem, esses são os mortos da obra de Lindqvist.
Narrado sob o ponto de vista de diferentes personagens, cada um com dramas e perdas pessoais muito bem definidos, Mortos entre Vivos pode ser classificado mais como um drama do que como terror. Mesmo que possamos considerar que mortos andando pelas ruas sejam algo terrível, a abordagem aqui é muito sentimental, humana e, como não poderia deixar de ser, de investigação de reações pessoais, uma sociologia familiar dos personagens e sua relação com entes queridos. Afinal, cada um reage à dor da perda de uma forma diferente, e talvez, mesmo com a saudade, nem todos estejam preparados para ter a pessoa de volta ao convívio.
Sob essa premissa, Mortos entre Vivos vai alternando capítulos que narram as reações de cada personagem ao fenômeno em si e à volta de um familiar perdido. Temos, então, sequências de cenas curiosas, e talvez para alguns tocantes, da relação de um avô e uma mãe ao garotinho e suas inúmeras tentativas de recriar a infância interrompida. Ou do marido que não sabe bem como reagir e apresentar ao filho sua mãe em sua nova condição. Paralelamente, as autoridades de saúde e do governo buscam saídas e soluções para algo jamais visto e que ninguém sabe muito bem como lidar. Curiosamente, a abordagem em torno de como governo reage a isso, bem como explicações que possam levar a um melhor entendimento do que de fato está ocorrendo, quase inexistem ou são feitas de forma muito superficial. Explicar o fenômeno claramente não foi uma intenção do autor.
Apesar de ter uma ideia central muito original e bem diferente de tudo que estamos acostumados a ler/ver quando se tratam de zumbis, a trama de Lindqvist não empolga e tampouco desperta a curiosidade. É uma leitura pra lá de automática em que vamos passando as páginas e acompanhando os acontecimentos, mas sem nos envolvermos. Pela extensão da obra e pelo potencial da história, achei que tudo foi desenvolvido de forma muito superficial, sem muitas preocupações com detalhamentos ou melhor caracterização da trama. Vale a leitura aos curiosos em desbravar sua obra, como eu, mas é o tipo de livro que passaria longe de uma listinha de indicações.
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Do Autor leia também:
O Autor: John Ajvide Lindqvist nasceu em 1968 em Blackberg, um subúrbio de Estocolmo (onde muitos dos seus romances têm lugar). Sempre sonhou ter uma profissão assustadora e fantástica: primeiro tornou-se ilusionista (foi quase campeão de truques de cartas num concurso internacional) e depois comediante. Fez comédia stand-up durante mais de 12 anos e foi dramaturgo e guionista para a TV sueca. Deixa-me Entrar, o seu primeiro romance, foi um best-seller internacional, tendo sido adaptado duas vezes ao cinema. Os seus restantes romances – sempre sobre temas relacionados com a fantasia e o terror – estão publicados em todo o mundo e são também grandes sucessos junto da crítica e do público.