Sinopse Intrínseca: Abril de 1999. A pacífica cidade de Mount Pleasant, em New Hampshire, é devastada por um assassinato: o corpo de Alaska Sanders, uma jovem de 22 anos, é encontrado á beira de um lago, ao lado do cadáver de um urso-negro. O que á primeira vista parecia um grotesco ataque animal se revela um homicídio, e, a despeito da comoção generalizada, a questão é solucionada em poucos dias. Onze anos depois, o sargento Perry Gahalowood, um dos encarregados da investigação na época, está vivendo um dos piores momentos de sua vida quando recebe uma perturbadora carta anônima. O conteúdo da mensagem faz Gahalowood questionar tudo que pensava saber sobre o caso ocorrido uma década antes. Teria ele seguido uma pista falsa? Teria, então, chegado a uma conclusão equivocada? Quem o faz cogitar a possibilidade é seu amigo Marcus Goldman, alçado ao estrelato após a publicação de A verdade sobre o caso Harry Quebert. Diante de tantas incertezas e agitação, os dois resolvem investigar o que de fato estaria por trás da morte de Alaska Sanders e logo fica evidente que o cenário que se descortina é muito mais complexo do que parecera anos antes. Somente unindo forças Gahalowood e Goldman terão alguma chance de descobrir a verdade. (Resenha: O Caso Alaska Sanders – Joël Dicker)
Opinião: Após dois bons suspenses, Joël Dicker decidiu resgatar parte da mística de sua obra de maior sucesso para escrever O Caso Alaska Sanders. Em certo aspecto, é positivo para leitores mais saudosistas que se tornaram fãs de personagens como Marcus Goldman e Harry Quebert. Reencontrar bons personagens revivendo investigações intrigadas de crimes tem sempre excelentes chances de agradar e dar certo. Contudo, sobram pontos negativos ao percebermos que muita coisa foi reciclada meio que como se a história tivesse sido pensada e escrita no piloto automático.
O Caso Alaska Sanders pode ser explicado sob dois pontos de vista. Primeiro, trata-se da uma investigação de um crime ocorrido e solucionado, com culpados condenados e cumprindo pena. O fator que vai desencadear a reabertura do inquérito e suas muitas reviravoltas acontece no acaso de um bilhete enviado por uma testemunha ocular de erros cometidos pela polícia. Só que isso acontece onze anos depois…
Mas é também a sequência da vida de Marcus Goldman após os eventos narrados em A Verdade sobre o Caso Harry Quebert. E pra ser bem preciso, muitas e muitas cenas e capítulos do livro estão diretamente ligadas à obra de maior sucesso de Dicker. Na verdade, há referências sem fim e isso pode deixar novos leitores um pouco à deriva. No meu caso, passou a impressão de que o autor ou estava com muitas saudades de seus personagens e decidiu trazê-los de volta para esse possível “acerto de contas” com o que quer que estivesse pendente, ou preferiu apostar na fórmula de sucesso que asseguraria as boas vendas do livro.
Joël Dicker tem um dom invejável para pensar tramas intrincadas e extremamente bem elaboradas. Seu jeito de narrar alternando passado e presente e embaralhando pensamentos e flashbacks consegue confundir os leitores e levá-los literalmente para um labirinto em que nada é o que parece. E a cereja do bolo é que, ao final, tudo se encaixa e se explica de forma satisfatória. Não há pontas soltas ou aquela forçada de barra para as explicações de ajustarem. Essa é uma qualidade que o autor vem mantendo desde seu primeiro livro.
Só que O Caso Alaska Sanders, mesmo com toda a qualidade da história contada e a manutenção do mistério até as páginas finais, perde fôlego justamente por se apoiar demais nos dramas de Marcus Goldman com relação ao caso Harry Quebert. E eu entendo que o personagem não consegue se desligar de seu mentor e seguir em frente com a vida. Tudo fica muito bem colocado na trama. Mesmo assim, a sensação de um certo desleixo criativo com a aposta em algo que já tinha dado certo antes se sobressaiu em absolutamente todo o tempo que levei na leitura do livro. Em alguns momentos, O Caso Alaska Sanders passou a impressão de ser uma grande novela, uma rocambolesca trama a lá Aguinaldo Silva ou Glória Perez, em que diálogos fracos e personagens pouco carismáticos desfilavam nas páginas apenas para servir de suporte ao drama de vida de Marcus Goldman em sua busca por Quebert.
Joël Dicker já consolidou seu nome como um dos grandes autores do suspense e a qualidade de sua criação e narração é inquestionável. Ele sabe como fugir do comum nos mistérios que cria e surpreender os leitores juntando cartas e pistas espalhadas por parágrafos e frases sem fim. O Caso Alaska Sanders segue à risca esse estilo e tem tudo para agradar apreciadores de bons suspenses. Leitores que já são fãs certamente ficarão felizes de reencontrar velhos cenários, mesmo que tudo soe reciclado e preguiçoso demais.
Para fazer sucesso nem sempre é preciso apostar na inovação a todo momento, até porque é comum os altos e baixos na carreira de qualquer escritor. Às vezes, para se conseguir um best seller basta seguir exatamente aquilo que já deu certo e apelar um pouco para a nostalgia. Dicker apostou nesse mote e o resultado de Alaska Sanders – ou do acerto de contas de Goldman com seu passado, fica ao julgamento dos leitores.
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