Sinopse HarperCollins: Uma odisseia sobre a complexidade da mente humana, um livro hipnótico e inquietante. Cada um dos seus treze contos ― dois deles escritos em parceria com Stephen King ― explora as facetas de nossos segredos mais aterrorizantes, nossas vulnerabilidades mais profundas e nossos medos mais primordiais, consolidando Joe Hill como uma das mais poderosas vozes da literatura de suspense atual. (Resenha: Carrossel Sombrio – Joe Hill)
Opinião: Firmar uma carreira num gênero literário cuja referência mundial é seu pai e conseguir se esquivar das inevitáveis críticas que podem apontar favorecimento ou fazer comparações incabíveis sobre estilo e qualidade certamente não deve ser uma das melhores tarefas do mundo. Ainda mais em tempos em que os tribunais críticos das redes sociais não perdoam absolutamente nada. Mas Joe Hill conseguiu isso e é impossível não percebermos como ele desenvolveu sua carreira com uma voz e estilos bem característicos. O conjunto de sua obra até agora apresenta uma diversidade de temas explorados de forma a amedrontar e chocar a partir das situações mais corriqueiras.
É basicamente isso que encontramos na coletânea Carrossel Sombrio & Outras Histórias, um conjunto de treze contos que passeiam pelos mais diversos temas, reverenciam grandes autores e, como toda coletânea, tem seus altos e baixos numa montanha russa de histórias maravilhosas e algumas outras que soam bem sem graça.
Mas eu comecei falando da carreira de Hill a partir do fato de ser filho de Stephen King porque Carrossel Sombrio traz uma introdução que é um dos melhores escritos desse livro. É a primeira vez que lemos Joe Hill falando abertamente sobre o peso da fama de seu pai, o início de sua carreira, os autores que o influenciaram e seu cotidiano de crescer em uma casa com dois pais escritores famosos. E a conversa que ele tem com os leitores nessa abertura é envolvente, franca, engraçada e dá muito o tom daquilo que tempos depois vamos encontrar em cada livro, universo ficcional (sim, porque seus romances possuem várias ligações entre si) e também naquela que, pra mim, é sua maior coletânea: Fantasmas do Século XX.
Então, após conhecermos honestamente um pouco de Joe Hill, mergulhar nos treze contos de Carrossel Sombrio acaba tendo um significado diferente. Porque ele meio que já deixou um vislumbre do que o atrai, do que mexe com sua imaginação e de quem fisgou sua mente em histórias precursoras. É aí que o conto Alta Velocidade (escrito com King e já publicado em e-book no Brasil com o nome de A Tribo) cai como uma luva. É uma história de perseguição sanguinária, com reflexões e conflitos de gerações (um pai com seu filho rebelde), um desfecho bem surpreendente e uma grande homenagem a Richard Matheson.
A partir daí teremos uma sucessão de histórias que não cabe muito resenhar uma a uma. Acho que vale muito destacar os contos Carrossel Sombrio (pelo seu lado de terror fantástico), Fauno (pela inventividade, boa sacada e com uma excelente mensagem de fundo), O Diabo na Escadaria (um delicioso exercício de arquitetura textual), Mães (com sua brilhante crítica sobre os crédulos do mundo e suas teorias da conspiração), Campo do Medo (que virou filme na Netflix e tem uma pegada claustrofóbica que sentimos na pele durante a leitura) e Você Está Liberado (uma viagem aérea pelo fim do mundo com uma frase que, pra mim, resumia um estado de espírito norte-americano e pode muito bem resumir o estado de espírito brasileiro e eu falo sobre ela no fim da resenha).
Mas Devoluções Atrasadas merece um parágrafo só pra si. Considero o melhor conto do livro porque ele me tocou profundamente a partir de uma premissa sensível com desdobramentos tocantes e emotivos. O conto versa sobre esse nosso prazer pela leitura a partir daquela ideia, que ninguém nunca pensa, de morrer antes de concluir um livro. E se esse livro, por acaso, fosse de uma biblioteca publica e precisasse de devolução? E se seu espírito acabasse ficando agarrado cá embaixo aguardando a oportunidade para devolver esse livro? E se você conseguisse ler histórias que saíram muitos anos depois da sua morte? A narrativa é envolvente, os desdobramentos são incríveis e o desfecho mescla emoção com uma pouca surpresa. É uma história tão delicada que o lado sobrenatural nem assusta.
Apesar dos contos terem sido escritos ao longo de quase dez anos e muitos terem uma pegada fantástica, é impressionante como de alguma forma eles dialogam muito com a nossa realidade. Seja em pequenos detalhes ou mesmo na premissa total da história. Joe Hill tem em seus contos essa característica de trazer muito do mundo real, das situações corriqueiras que qualquer um poderia estar vivenciando e dar seu toque de mestre (ou de horror) e transformar tudo num caldeirão de loucura, medo, emoção…
Carrossel Sombrio & Outras Histórias é uma boa leitura para quem curte contos de terror com toques fantásticos e muitas doses de “ei, eu poderia ter vivido algo parecido com isso”. E uma frase lá da página 458 diz o seguinte “Esse sujeito e sua maldita esposa estão no avião conosco. Estamos todos no avião. Não importa como chegamos aqui, estamos todos no avião agora. No ar. Em apuros. Correndo o máximo possível”. Vale tanto para os apuros de uma viagem aérea quanto é uma boa metáfora para situações políticas em que independente das preferências, a realidade é que estamos todos no mesmo avião e precisamos sair juntos da possível tragédia…
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Carrossel Sombrio
O Autor: Joe Hill nasceu no Maine, Estados Unidos. Best-seller do The New York Times, é autor de diversos livros, entre eles Nosferatu e Tempo estranho. Por suas obras, Hill venceu os prêmios Locus, Crawford, British Fantasy, World Fantasy e o Bram Stoker. Joe também é ganhador do Eisner pela série de quadrinhos Locke & Key, adaptada pela Netflix.