Sinopse Arqueiro: Há trinta anos, um menino foi encontrado vivendo na mata como uma criança selvagem. Ao ser interrogado, ele não sabia nada sobre seu passado. Agora, já adulto, Wilde ainda não tem nenhuma lembrança confiável sobre suas origens. Quando Naomi, uma garota que mora nos arredores da floresta, desaparece, ninguém parece levar a sério o seu sumiço, nem mesmo seu pai. Até que Hester Crimstein, uma famosa advogada criminalista com quem Wilde tem uma trágica conexão, fica sabendo que a jovem era vítima de bullying na escola. Ela então pede a Wilde que use suas habilidades e seu instinto especial para ajudá-la a descobrir o paradeiro da menina. Wilde é incapaz de ignorar uma adolescente em apuros. Só que, para encontrar Naomi, ele deve ingressar em um mundo no qual nunca se encaixou, um lugar onde os poderosos são acobertados mesmo quando guardam segredos que podem destruir a vida de milhões de pessoas. (Resenha: O Menino do Bosque – Harlan Coben)
Opinião: O Menino do Bosque talvez seja o livro com a maior variedade de temas linkados com a realidade do período em que foi escrito em toda a obra de Harlan Coben. Em alguns momentos a trama pareceu transcrever cenas do cotidiano político das redes sociais de tão realista que soou. E eu curti muito não só isso, mas o conjunto completo desse thriller que tem uma pegada bem diferente do que estamos acostumados nos livros do autor, mas que não deixa de lado o ritmo frenético, a quantidade de mistérios e aquele estilo viciante que nos faz devorar a obra em pouquíssimos dias. Aliás, “devorar livro de Harlan Coben” pode ser facilmente considerado como uma redundância.
Em O Menino do Bosque, vamos acompanhar diferentes histórias se desenrolando, mas que logicamente vão se cruzar em algum momento para chegar ao desfecho. Há também tramas paralelas que nos enganam um pouco e desviam a atenção dos reais problemas que estão acontecendo. Wilde é o tal menino do título, encontrado ainda garoto vivendo sozinho em uma floresta. Ninguém sabe nada sobre ele e hoje, já adulto, ainda segue sendo um mistério. E seus hábitos permanecem ligados intrinsecamente à natureza e à floresta em que sempre viveu. Ele a conhece muito bem e sabe rastrear, ser silencioso e agir na surdina quando necessário.
Em outra ponta, temos a coadjuvante de outros livros do autor estrelando e roubando a cena nesta obra. A advogada Hester Crimstein tem sua vida bem desenvolvida, explicada e que ganha novos rumos por aqui. Ela tem uma ligação com Wilde e é a ele que vai recorrer quando uma menina, amiga do seu neto, é dada como desaparecida após uma sequência de brincadeiras ou bullying entre amigos da escola. Pronto. Wilde vai em busca de menina e quanto mais fuça, mais coisa começa a aparecer fazendo a trama, aparentemente simples, ganhar contornos de missão patriótica. Porque, sem querer dar spoiler, posso dizer apenas que temos um provável candidato a presidência dos Estados Unidos nessa história e ele é, digamos que um tanto quanto Trumpista demais.
Harlan Coben politizou um thriller sem precisar cair num suspense forçado ou numa obra panfletária. Ele construiu uma trama em que há um foco muito bem definido, dentro daquela velha máxima dele, que já falei em outras resenhas, de sempre ter um personagem em busca de algo ou alguém. Em meio a tudo isso, inseriu os detalhes, e as críticas, a projetos políticos que se baseiam na enxurrada de bots em redes sociais manipulando a opinião dos públicos mais extremos. Tudo isso rendeu o que eu considero um dos melhores livros do autor.
“Os extremistas só enxergam em preto e branco. Não somente têm certeza de que seu ponto de vista é correto como são incapazes de entender o lado oposto. Quem não acredita no mesmo que eles é inferior em todos os sentidos, por isso são capazes de matar por essa visão.”
O Menino no Bosque é um livro recheado de segredos. Há dinheiro, pessoas importantes, interesses políticos e preocupações familiares em jogo. Há também bons tons de humor, principalmente com Hester que é uma personagem fascinante, extravagante e desde obras anteriores, em sua participação era menor, já tinha aquele estilo fácil de conquistar os leitores. A história dosa muito bem o drama com o suspense e passeia por problemas diversos como o bullying, a manipulação política provinda da divisão “nós contra eles” e, principalmente, a loucura do tribunal das redes sociais com suas repercussões e julgamentos rápidos demais. São muitas as temáticas bem exploradas e que ficaram amarradinhas no desfecho, bem imprevisível e que consegue surpreender não só pelas revelações, mas pelo que o protagonista deixou de fazer em nome do que poderia ser “um bem maior”.
O Menino no Bosque não é o primeiro livro que li publicado às portas da campanha presidencial norte-americana de 2020 em que o autor de alguma forma chamou a atenção para os dilemas que se colocavam à frente do seu país. Independente do gênero literário, ficou bem nítida a preocupação dos escritores em retratar os diversos problemas que a radicalização dos discursos e o péssimo uso das redes sociais poderiam causar a curto e médio prazo. O resultado, na minha visão, foram muito bons e acabaram refletindo um pouquinho do que vivenciamos aqui no Brasil também. Há diferenças culturais, mas há um núcleo problemático em comum entre os dois países e que essas ficções souberam alertar e retratar muito bem.
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