Sinopse Tordesilhas: O músico frustrado Lennart Cederström encontra, no meio de um bosque, uma bebê recém-nascida à beira da morte. Sem nada que diga de onde ela veio ou como foi parar lá, a bebê começa a cantar perfeitamente. Assombrado, Lennart a leva consigo para sua casa, em que vive com a mulher e o filho rejeitado, e a prende no porão. Apelidada de Pequenina pela família postiça, a criança cresce isolada do resto do mundo e, quando finalmente sai do cativeiro, acaba por revelar uma força sinistra e assustadora, deixando um rastro de sangue e angariando seguidores fanáticos em seu caminho. (Resenha: Melodia do Mal – John Ajvide Lindqvist)
Opinião: Três livros depois e finalmente John Ajvide Lindqvist conseguiu me conquistar com uma história. Ainda não foi o suficiente para me tornar um fã a ponto de sair indicando o autor, mas serviu para quebrar a barreira que eu estava criando a partir de três experiências que deixaram muito, mas muito mesmo, a desejar.
Transitando entre o real, pra lá de bem explorado, e o fantástico, a partir de um mistério que fica sem explicação, Melodia do Mal é aquele fósforo aceso próximo ao barril de pólvora do bullying e do deslocamento social. O pé na realidade aqui é tão bem fincado que a história consegue ser assustadoramente próxima, palpável. Porque o autor soube exatamente como construir seus personagens e, principalmente, seus dramas pessoais. Partindo disso, Melodia do Mal traz um casal de cantores vivendo a desilusão do fracasso da carreira e os desencantos de um casamento que sobrevive pela conveniência. Há violência familiar, traições amorosas e egos feridos. Há um filho sem boa criação. E há uma bebê menina, Theres, encontrada abandonada na floresta e que vai sugar as energias e atenções do pai, o típico macho-dominante. Essa é a primeira parte da história mais que suficiente para segurar nossa atenção. Porque, repito, tudo é construído de forma real demais. Exceto por jamais termos algumas explicações. Não que isso faça tanta diferença.
A criação de Theres, escondida dos olhos do mundo, vai trazer mais mistérios porque ela tem um nato dom musical. E só. Não interage e não demonstra nenhum tipo de sentimento ou tentativa de compreensão ou curiosidade pelo que a cerca. E isso satisfaz o ego do pai, que projeta nela a redenção da sua própria carreira frustrada. Assim, Lindqvist vai construindo calmamente e sem nenhuma pressa, ano a ano, uma trama que nós sabemos que não pode dar certo. Talvez aqui resida meu único porém com relação ao livro. Tudo se desenrola de forma metódica demais. Isso faz com que o ritmo agarre e exija bastante persistência para acompanhar infindáveis sequências que poderiam ter sido suprimidas da história. Mas há banhos de sangue e carnificinas suficientes para dar aquele plot twist e levar Melodia do Mal para outro plano.
Num segundo momento, Melodia do Mal vai se aventurar pela vida de uma outra menina. Deslocada do mundo e sofrendo bullying e perseguições dos amigos de escola, ela se fecha em seu universo particular. Nesse ponto, quando a história se expande e lá na frente abraça outras garotas, o autor explora como ninguém os traumas que vão sendo escondidos no interior de cada pessoa e como isso mais cedo ou mais tarde pode se tornar uma bomba-relógio. A explosão vai se dar quando meninas deslocadas socialmente pelos mais diversos motivos encontram a misteriosa Theres e seu dom musical. Aqui, energias, traumas, frustrações, sedes de vingança vão se unir para dar o troco para o mundo. Haja sangue.
Melodia do Mal é mais uma obra de Lindqvist que puxa mais para o drama do que para o terror. Contudo aqui os elementos de horror e do sobrenatural aparecem mais explicitamente, sendo que alguns deles, como a origem da menina Theres, não são explicados. Aparecem apenas como instrumento de apoio da trama original cujo foco é mesmo um grande drama sobre as formas de criação, a formação de nossas famílias, as desventuras da vida em casa e entre amigos, entre outros temas que fazem do livro uma obra rica em abordagens que se unem em uma grande história. Vale a pena!
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Do Autor leia também:
O Autor: John Ajvide Lindqvist nasceu em 1968 em Blackberg, um subúrbio de Estocolmo (onde muitos dos seus romances têm lugar). Sempre sonhou ter uma profissão assustadora e fantástica: primeiro tornou-se ilusionista (foi quase campeão de truques de cartas num concurso internacional) e depois comediante. Fez comédia stand-up durante mais de 12 anos e foi dramaturgo e guionista para a TV sueca. Deixa-me Entrar, o seu primeiro romance, foi um best-seller internacional, tendo sido adaptado duas vezes ao cinema. Os seus restantes romances – sempre sobre temas relacionados com a fantasia e o terror – estão publicados em todo o mundo e são também grandes sucessos junto da crítica e do público.