Resenha: A Criança do Fogo – S.K. Tremayne

Sinopse Bertrand Brasil: Quando Rachel se casa com o maravilhoso David Kerthen e se muda para Carnhallow, sua vida é tomada por luxos, romance e um carinhoso enteado, Jamie. Porém, sua nova casa e sua nova família estão cercadas de segredos e mistérios que ela nem sequer consegue imaginar. O comportamento de Jamie começa a mudar, e suas perturbadoras profecias ameaçam abalar a sanidade de Rachel. À medida que o passado da família vem à tona, ela passa a questionar a verdade por trás da trágica morte da primeira esposa de David, temendo que a predição feita por seu enteado, de que ela irá morrer no dia de natal, se torne realidade. Fantasmas habitam os corredores de Carnhallow, mil anos de história ecoam nos frios túneis, antes ricas minas de estanho e cobre, que se expandem sob a propriedade, e a vida que Rachel acreditava ser perfeita de repente se torna um terrível pesadelo. (Resenha: A Criança do Fogo – S.K. Tremayne)

Opinião: Minas abandonadas são um ambiente fértil para inserirmos mitos, lendas e todo o tipo de elementos sobrenaturais. As péssimas condições de trabalho e o sofrimento natural de um ofício exercido embaixo da terra se somam aos muitos desastres que marcam a história de diversas minas espalhadas pelo mundo. Desespero, de Stephen King, é, pra mim, o melhor livro a trabalhar o terror nesse ambiente. Agora imaginem uma família que construiu sua riqueza às custas da exploração de dezenas de minas. Séculos mais tarde, já nos nossos tempos, o herdeiro do lugar tem sua vida abalada por uma tragédia em uma dessas minas. Para finalizar, uma criança – sempre elas, traumatizada pela perda da mãe e que parece não só enxerga-la como também fazer previsões de catástrofes futuras. Maneiro, não?

Na mesma pegada de As Gêmeas do Gelo, S.K. Tremayne constrói seu novo suspense abusando da claustrofobia, da sensação de desastre eminente e dos leves toques de sobrenatural que nunca se concretizam, mas plantam boas dúvidas nos leitores. A Criança do Fogo surge, portanto, com uma premissa, sinopse, promessa, expectativa e todos os adjetivos mais que forem possíveis enumerarmos de forma positiva. Mas cai no poço do excesso de detalhamento que prejudica consideravelmente aquela que teria tudo para ser uma excelente história.

A ambientação de A Criança do Fogo é seu ponto alto. A mansão de Carnhallow com seus muitos cômodos e segredos e os possíveis fantasmas que ali espreitam são desenvolvidos com uma qualidade muito superior à trama que vai se desenrolar. O ambiente é inóspito, cercado por minas abandonadas, tragédias familiares, segredos mal revelados, histórias mal contadas, mistérios a perder de vista, e uma protagonista desequilibrada mentalmente o suficiente para transformar tudo isso em um looping de dúvida nos leitores. Qual o limite entre realidade e insanidade?

Narrado em primeira pessoa por Rachel, a protagonista, A Criança do Fogo traz somente uma visão para tudo o que ocorre ali. É onde ficamos um pouco no escuro e mergulhamos nas dúvidas de uma só personagem. O problema é: até que ponto essa personagem é confiável? Onde está a verdade em meio a tantos mistérios assombrando o lugar? Nasce então um excelente suspense assentado, como falei, em um ambiente pra lá de claustrofóbico. A ele se soma o misterioso Jamie, a tal criança do título. O garoto parece ter dupla personalidade, variações constantes de humor, faz umas previsões loucas de tragédias e diz ver a mãe morta pra todo lado. Ele pode ser a chave para algo? Talvez… E seu pai? Bom, David é o personagem mais dúbio e mal construído do livro. Apresentado tanto como vilão quanto como vítima de si mesmo, ele chega ao fim da obra como alguém pra lá de secundário.

A ótima e promissora ideia de A Criança do Fogo naufraga, no entanto, no desenvolvimento confuso do autor. Parece que S.K. Tremayne se perdeu no labirinto de suas minas e não soube dar vazão em texto a tudo o que tinha na cabeça. O detalhamento de algumas situações, talvez visando confundir os leitores, acabou tornando-se enfadonho. Inúmeras páginas a menos resultariam em uma obra mais concisa e quem sabe com melhor qualidade. Porque a insanidade que vai tomando conta das páginas, de fato, produz um suspense em crescimento. Ficamos tão ansiosos quanto Rachel para esbarrar no clímax e quando ele chega, quando ele finalmente chega, é como mergulhar nas frias águas ao redor de Carnhallow. Simplesmente não há um clímax. Ou pelo menos nada que mereça essa definição.

A Criança do Fogo carece também de uma boa e satisfatória explicação para de onde veio a p… desse título. Porque por mais esforço e boa vontade de nossa parte, é impossível associar Jamie a qualquer coisa decente no decorrer do livro. É uma obra mais sobre Rachel do que sobre uma criança travestida de Charmander. E as minas… Ah, elas poderiam ter uma contribuição maior do que simples cenário.

Aventureiros do suspense, como eu, leiam A Criança do Fogo se não tiverem nada mais na lista. Mas se meus conselhos valem algo, optem por As Gêmeas do Gelo que vocês vão sair com mais satisfação. Aos que se entregarem à essas páginas, deixem seus comentários trazendo, se possível, novas visões ou interpretações para a obra.

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As Gêmeas do Gelo

O Autor: S.K. Tremayne é o pseudônimo do autor Sean Thomas. S. K. Tremayne é um romancista best-seller, premiado escritor de viagens, e um contribuidor regular de jornais e revistas ao redor do mundo. Nasceu em Devon, vive agora em Londres.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

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